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São Paulo: Avenida Paulista vista do mirante do Sesc Paulista
Avenida Paulista vista do mirante do Sesc Paulista: São Paulo reflete tendências nacionais.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O hoje governador paulista João Doria (PSDB) venceu em 2016 a eleição para a prefeitura de São Paulo derrotando Fernando Haddad (PT) e outros 10 candidatos já no primeiro turno. Quatro anos depois, a disputa na capital paulista tende a ser mais complexa. Há, até o momento, 18 pré-candidatos – muitos deles políticos de votação expressiva, com experiência em outros cargos e potencial para levar a disputa para o segundo turno. Além disso, a variedade de candidatos em São Paulo, a maior cidade do país, também reflete combates e articulações que se desenham no panorama nacional.

A disputa pela prefeitura de São Paulo já antecipa o tradicional choque entre direita e esquerda. Mas muito mais que isso. Também revela conflitos dentro desses grupos e a tentativa do centro em mostrar que ainda tem força eleitoral, após o mau desempenho nas eleições de 2018.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) – que era vice de Doria e assumiu a prefeitura quando Doria renunciou para concorrer ao governo estado – tentará se manter no cargo.

Ele pode ter como oponentes nomes como o do ex-governador Marcio França (PSB), os deputados federais Joice Hasselmann (PSL), Celso Russomanno (Republicanos) e Orlando Silva (PCdoB), o ex-ministro Andrea Matarazzo (PSD), a ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade), o deputado estadual Arthur "Mamãe Falei" (Patriota), o ex-deputado Jilmar Tatto (PT) e os "ex-presidenciáveis" Guilherme Boulos (Psol), Levy Fidelix (PRTB), Vera Lúcia (PSTU) e Eduardo Jorge (PV).

Covas e Russomanno largam na frente da disputa, de acordo com a última pesquisa, divulgada nesta sexta-feira (21) pelo Instituto Paraná Pesquisas.

Na sondagem estimulada, quando os nomes dos candidatos são apresentados aos eleitores, Russomano tem 20,5% das intenções de voto num cenário e 24,8% em outro. Já Covas tem 20,1% na primeira simulação e 23,8% na segunda – o que o coloca num empate técnico com Russomano dentro da margem de erro de de três pontos porcentuais para mais ou para menos.

O que a eleição de São Paulo "antecipa" para a direita

Na direita, as articulações da pré-campanha de São Paulo antecipam ao menos duas possíveis grandes tendências para 2022. Uma delas é que grande parte dos partidos desse espectro ideológico tende a estar ao lado de Bolsonaro daqui a dois anos em sua tentativa de reeleição – o que fica demonstrado em função do interesse em conquistar seu apoio agora. Mas, por outro lado, é possível que ocorra um racha nesse segmento até lá.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi o mais votado na cidade de São Paulo na eleição de 2018, tanto no primeiro turno quanto no segundo. Superou Fernando Haddad, que havia sido prefeito da cidade, e Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador paulista por quatro mandatos. Recentemente, a cidade foi palco de manifestações em defesa do trabalho do presidente, em meio à pandemia de coronavírus.

Nesse contexto, ser o candidato "oficial" de Bolsonaro em São Paulo é algo desejado por boa parte dos candidatos, que buscam puxar para si parte da popularidade do presidente. Bolsonaro disse, em mais de uma ocasião, que não se envolverá na eleição municipal. E o fato de seu partido, o Aliança Pelo Brasil, não ter sido formalizado a tempo de competir em 2020, também dificulta a chancela a um único nome.

A conexão partidária é um ponto a favor de Celso Russomanno – o Republicanos é a sigla para a qual foram recentemente dois filhos do presidente, o vereador Carlos (RJ) e o senador Flávio (RJ).

O ex-ministro Andrea Matarazzo tem se apresentado como "conservador", e assim busca um vínculo ideológico com apoiadores do presidente. Na mesma linha, Felipe Sabará (Novo) se definiu como "direita raiz", em entrevista à Folha de S. Paulo. E o bolsonarismo ainda pode ter como representante Marcos da Costa, que é pré-candidato pelo PTB – sigla do ex-deputado Roberto Jefferson, que se aproximou de Bolsonaro e ofereceu o partido ao presidente para a disputa de 2022.

O grupo dos candidatos que quer receber o voto bolsonarista tem ainda Levy Fidelix (PRTB) como um dos nomes. Ele usa como atributo o fato de ser do mesmo partido do vice-presidente Hamilton Mourão.

Nomes da direita não bolsonarista também estarão à disposição do eleitorado paulistano. Expoente do Movimento Brasil Livre (MBL), o deputado Arthur do Val , conhecido como "Mamãe Falei", concorrerá pelo Patriota. Ele foi o segundo deputado estadual de São Paulo mais votado em 2018.

Já a deputada federal Joice Hasselmann, a ex-líder do governo Bolsonaro no Congresso, busca ser a candidata pelo PSL, o partido pelo qual o presidente venceu a eleição de 2018.

Mas a recente reaproximação do presidente com o seu antigo partido pode tirá-la da disputa. Bolsonaro e Joice romperam no ano passado; e a retirada da candidatura dela seria uma das condições do presidente para voltar ao PSL.

Apesar disso, aliados de Joice dizem que a candidatura dela será mantida. "Fizemos um trabalho de reconstrução do partido, nos preparamos para a montagem de uma chapa nas 58 zonais de São Paulo. A candidatura está establecida e planejada, com equipes de comunicação, marketing, e quando for o caso, irá para a rua. A candidatura da Joice só não ocorrerá se esse for o desejo dela", afirmou à Gazeta do Povo o deputado Junior Bozzella (SP), vice-presidente nacional do PSL.

O grupo que defende outra candidatura do PSL aposta no nome do deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança. Militantes tentaram emplacar a hashtag "#PrincipePrefeito" nas redes sociais na terça-feira (18), em referência à origem do parlamentar, que é descendente da família imperial brasileira.

A deputada estadual Janaina Paschoal também apareceu, nos bastidores, como uma possível alternativa como candidata do PSL. Seria uma espécie de meio-termo entre Joice e Luiz Philippe.

Os sinais da campanha para esquerda: PT isolado

Se a direita não consegue se unificar em torno de uma candidatura, o quadro na esquerda não é diferente. Principal partido desse espectro ideológico, o PT passa por uma divisão interna em São Paulo e corre o risco de perder antigos aliados – situação que já é verificada hoje no plano nacional e que pode se estender até 2022.

O PT realizou eleições prévias e definiu que seu candidato será o ex-deputado Jilmar Tatto. A escolha, entretanto, não agradou nomes historicamente relacionados com o partido. Grupos defendem que a sigla apoie o projeto do Psol, que lançará Guilherme Boulos.

A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), declarou que os petistas que não apoiarem a candidatura de Tatto poderão ser punidos pela direção do partido – em mais uma demonstração do racha interno na sigla.

Além disso, o PT não deve ter ao seu lado na eleição paulistana nem mesmo o apoio do PCdoB, seu principal parceiro histórico. A legenda comunista indicou a pré-candidatura do deputado Orlando Silva. E, em entrevista recente à Folha de S. Paulo, Silva disse que "o PT é passado".

Historicamente, o PT é forte nas eleições municipais paulistanas. O partido venceu três disputas (com Luiza Erundina em 1988, Marta Suplicy em 2000 e Fernando Haddad em 2012) e em todos os pleitos desde 1988 fica, no mínimo, na segunda colocação.

A disputa de São Paulo e o centro: a busca pela união

As forças do centro também tentam uma união em São Paulo. Algumas delas até podem estar juntas. Mas hoje o mais provável é que haja candidaturas distintas para dividir esse eleitorado – a exemplo do que ocorreu na eleição presidencial de 2018, quando houve uma tentativa fracassada de unir os candidatos centristas contra Bolsonaro e Haddad.

Com Bruno Covas aparecendo como um dos favoritos na disputa pela prefeitura de São Paulo, as forças de centro largam com competitividade na corrida municipal. Também podem ser encaixados no grupo nomes como os do ex-governador Marcio França e da ex-prefeita Marta Suplicy – que deixou o PT, migrou para o MDB e agora está filiada ao Solidariedade.

Mas a candidatura de Marta ainda não está consolidada. O Solidariedade confirma o interesse em lançar a ex-prefeita, mas ela também é considerada como possível vice de Covas.

Especula-se que outros candidatos também possam desistir para embarcar na candidatura de Covas. Celso Russomanno foi cogitado para concorrer como vice do atual prefeito, mas seu discurso de momento é o de confirmar a pré-candidatura.

Covas desejava ter em sua chapa o principal partido de centro do Brasil, o MDB, que seria representado pelo jornalista José Luiz Datena. O apresentador de TV entrou no partido em março e, desde então, considerava ou lançar sua própria candidatura ou participar do projeto de Covas. Mas Datena não irá disputar a eleição de 2020.

São Paulo mostra panorama, mas não necessariamente dita o futuro

A eleição de São Paulo é um indicativo do quadro político nacional, mas seus resultados não necessariamente se replicam nas disputas para presidente e governador que ocorrem nos dois anos seguintes.

O maior exemplo da contradição se deu no intervalo entre em 2016 e 2018. Em 2016, Geraldo Alckmin, então governador, apostou em João Doria para concorrer pelo PSDB à prefeitura. Até então, Doria não havia disputado nenhuma eleição. Mas ele venceu no primeiro turno.

À época, se dizia que seu triunfo representava um sinal da força que Alckmin teria quando fosse candidato a presidente dois anos depois. Mas o projeto fracassou: Alckmin teve menos de 5% dos votos válidos em 2018 e sua candidatura não empolgou nem mesmo dentro do PSDB, que teve quadros apoiando Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa eleitoral citada nesta reportagem foi realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas no município de São Paulo entre os dias 15 e 19 de agosto de 2020. Foram 1.100 eleitores paulistanos com 16 anos ou mais. A margem de erro é de 3% para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95% (o que significa que, se essa pesquisa for realizada 100 vezes com essa mesma metodologia, em 95 os resultados vão dentro da margem de erro). A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o n.º SP- 01020/2020.

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