Ex-presidente Michel Temer ajudou Bolsonaro na redação da “Carta à Nação” que apaziguou os ânimos com o STF| Foto: Marcos Corrêa/PR
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O ex-presidente Michel Temer (MDB) quer ser o candidato da "terceira via" em 2022. Pessoas próximas ao emedebista e até alguns integrantes da cúpula do MDB admitem que o "socorro" ao presidente Jair Bolsonaro para estancar a crise entre poderes tem como pano de fundo uma tentativa de Temer de angariar capital político para se viabilizar como o candidato de centro na disputa do ano que vem. Ou de, ao menos, ter peso na sucessão presidencial. Temer buscou passar a imagem de que é um moderado capaz de negociar com diferentes correntes políticas para solucionar os problemas do país.

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Emedebistas admitem que a ideia de ser o candidato da terceira via é um sonho de Temer, embora a concretização da ideia seja atualmente improvável para um ex-presidente que chegou a ser reprovado por 82% da população, segundo pesquisa de junho de 2018 da Datafolha.

"É um balão de ensaio para acumular capital político", reconhece um interlocutor do ex-presidente. "O Michel só vem [como candidato em 2022] se ele for aclamado; e é isso que está buscando", complementa.

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O ex-presidente quer recolocar o MDB no protagonismo político. Com tantos pré-candidatos à Presidência, Temer entende que seu histórico político mais do que o qualifica à disputa eleitoral. A avaliação dele e de seus aliados é de que, no mínimo, ele acumularia capital político para "vender" a uma outra candidatura da terceira via que venha a apoiar. "Ou mesmo [apoiar] Bolsonaro ou [ex-presidente] Lula", diz uma pessoa do entorno político de Temer.

Temer dialoga com diferentes nomes do centro político. É o caso, por exemplo, do presidente do PSD, Gilberto Kassab – que sonha em lançar como candidato em 2022 o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O ex-presidente também tem contatos frequentes com o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), e com o empresário Paulo Marinho — suplente do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) que rompeu com a família Bolsonaro e que, hoje, atua na pré-campanha do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

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Os gestos de Temer que mostram que ele quer ser candidato

"O MDB inteiro fala sobre isso", diz uma fonte próxima de aliados de Temer sobre expectativa do ex-presidente de postular uma candidatura ao Planalto como representante da terceira via.

Alguns gestos de Temer são citados como exemplos disso. Na segunda-feira (13), o ex-presidente alterou a foto de seu perfil no Facebook pela primeira vez desde julho de 2018 – quando ainda era presidente. A imagem escolhida foi a foto oficial de quando ainda estava no comando do Palácio do Planalto. "É a mídia social que ele mais utiliza", afirma um emedebista.

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Também no Facebook, na quinta-feira passada (9), Temer usou imagens que enaltecem o controle à inflação conduzido por sua gestão. "Pegamos o país com 9,32% de inflação da gestão anterior. Com trabalho eficiente, reduzimos a inflação para 2,76% ao ano. Passando aqui só para relembrar, pois é", disse. Atualmente, a inflação alta voltou a ser um problema para o país — e Temer, assim, mostra que sabe como baixá-la.

Na sexta-feira (10), o ex-presidente publicou um vídeo em que aparece caminhando em direção ao avião presidencial que o levou a Brasília para a reunião com Bolsonaro, um dia antes. "Sempre que fui chamado para ajudar o país, busquei o diálogo e coloquei as instituições acima dos homens. A solução para muitos problemas que os brasileiros enfrentam está na pacificação e no entendimento. Torço para que sigamos nesse caminho hoje e sempre", escreveu Temer.

Em outro vídeo — elaborado pela equipe de Temer e que ainda não foi veiculado nas redes sociais, mas foi divulgado pela revista Veja — o ex-presidente fala das conquistas de seu governo (como a reforma trabalhista e a do ensino médio) e procura passar um tom moderado. "Eu sempre fui reconhecido como homem de diálogo. E como há muita polarização hoje no Brasil, convém lembrar que dialogar nunca foi tão importante. Tem que saber ouvir, posicionar-se, fazer concessões, mas sem abrir mão dos princípios", diz.

Outro movimento conduzido por aliados do ex-presidente é incluir Temer nas próximas pesquisas de intenção de voto para 2022. Segundo informação publicada pela revista Veja e confirmada pela Gazeta do Povo, aliados de Temer procuraram responsáveis por institutos de pesquisa para incluí-lo nos próximos levantamentos.

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O que Temer diz sobre a ideia de ser o nome da terceira via

Pessoalmente, o próprio Temer desconversa sobre uma candidatura de seu partido. "Conheço o MDB há muito tempo, né? E sempre foi assim... Sempre quis lançar candidato; e muitas vezes acaba não lançando. Hoje, tem uma bela pré-candidata [a presidente], a [senadora] Simone Tebet [MS]. Mas não sei se o partido vai com essa posição até o final", afirmou na segunda-feira (13), em entrevista ao programa CB.Poder, uma parceria do jornal Correio Braziliense com a TV Brasília.

"Com toda a franqueza, estou achando complicada essa história [de candidatura de centro]. Não acho fácil que os principais cotados da terceira via, em um dado momento, abram mão da candidatura, priorizando só um candidato", disse Temer. Porém, ele ponderou que a pulverização de candidaturas fortalece "aqueles que polarizaram".

Já o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), afirmou à Gazeta do Povo que não há segundas intenções de Temer no gesto a Bolsonaro. "O gesto do [ex-]presidente Temer no sentido de colaborar, para desmontar ou arrefecer a crise institucional, foi um gesto de ex-presidente da República, um gesto de cidadania. Não foi um gesto eleitoreiro e buscando uma visibilidade para se viabilizar como candidato."

O líder emedebista ainda garante que tampouco está definido o lançamento de uma candidatura do partido. "Lógico que o partido discutirá uma candidatura própria ou o campo de aliança que a gente vai participar, caso decida não ter candidato. E o [ex-]presidente, sem dúvida nenhuma, é um grande quadro, um grande nome. Deu sua colaboração ao país quando ficou à frente da Presidência. Mas não entendo que esteja buscando viabilidade eleitoral", disse Bulhões Jr.

O MDB trabalha em um programa partidário chamado "Todos por um só Brasil" e a efetiva discussão das eleições de 2022 ainda não está na "ordem do dia", diz Bulhões Jr.

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Qual é a avaliação de lideranças de centro sobre possível candidatura de Temer

O desejo de Temer em se posicionar como opção para as eleições de 2022 não passou despercebido no Congresso por lideranças de partidos de centro e centro-direita.

Os presidentes nacionais do PSL, Luciano Bivar, e do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), firmaram — com aval do ex-presidente Michel Temer — um acordo para a construção de um projeto nacional em conjunto em 2022. Além disso, com a possível fusão entre PSL e DEM, todos estão atentos aos movimentos de Temer.

"Eu aposto nisso, que o Temer tenta se lançar como pré-candidato para buscar capital político para a terceira via", avalia o deputado Felício Laterça (PSL-RJ), segundo secretário da Executiva nacional da legenda. "E as fundações do PSL e MDB já vêm trabalhando juntas para entender as necessidades do Brasil."

O deputado Luis Miranda (DF), vice-líder do DEM na Câmara, entende que o "socorro" dado a Bolsonaro assegura a Temer muita visibilidade e capital político a ser explorado na disputa eleitoral. "Ele ganhou visibilidade muito importante, onde acaba agradando ambas as direitas, a liberal e bolsonarista, que viram no Michel Temer um articulador importante", analisa.

Para Miranda, o MDB vai calcular se uma candidatura de Temer tem chances de se viabilizar e, caso avalie não ter chances, a tendência é apoiar o lado mais "forte" na disputa.

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Ele acredita que mesmo um apoio de Temer a Bolsonaro não pode ser descartado. Mas ele alerta para o atual quadro eleitoral: "Tanto o DEM quanto o PSL têm demonstrado claramente o seu total desinteresse em apoiar o Bolsonaro. O que vai acontecer: teremos o maior partido do Brasil trabalhando para lançar a terceira via [o partido que resultaria da fusão entre DEM e PSL]; e o MDB aguardando para ver o que vai acontecer". A união entre DEM e PSL resultaria num partido com 81 deputados federais. "Mas internamente, no DEM, essa discussão ainda não está clara", pondera Miranda.

Mas a intenção de Temer de ser candidato desperta interesse não apenas do MDB, PSL e DEM. Mas também do PSD e PSDB, cujos dirigentes partidários se posicionam contrários a Bolsonaro. A leitura feita nesses dois partidos é que, não se viabilizando ao Planalto, o ex-presidente possa se lançar ao Senado por São Paulo — onde ambos os partidos têm interesses (e a próxima eleição tem apenas uma vaga de senador em disputa por estado).

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