Jair Bolsonaro e Sergio Moro: conteúdo de vídeo é peça chave em inquérito no STF que apura interferência política na Polícia Federal.| Foto: Jonathan campos/Gazeta do Povo
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Investigadores que acompanharam as quase três horas de exibição do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril, no Palácio do Planalto, avaliam que o conteúdo da gravação complica "gravemente" o presidente Jair Bolsonaro. Entendem que as imagens confirmam as acusações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, que acusa o presidente de tentativa de interferência na Polícia Federal. “O vídeo é ruim para Bolsonaro, muito ruim”, anotou um investigador. “Escancara a preocupação do presidente com um eventual cerco da PF a seus filhos”, destacou.

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O registro da reunião foi exibido nesta terça-feira (12), a um restrito grupo de pessoas autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, relator do inquérito que apura a suposta interferência política de Bolsonaro na PF. A exibição foi realizada no Instituto Nacional de Criminalística da corporação em Brasília, "em ato único" – conforme determinado por Celso de Mello – com participação de Moro, integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU), procuradores e investigadores que acompanham o caso.

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Após a exibição o advogado de Moro, Rodrigo Sánchez Rios, afirmou que o material "confirma integralmente" as declarações dadas pelo ex-juiz tanto no anúncio de sua demissão quanto no depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 2. Em nota, o advogado afirmou ainda que o vídeo "não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional" e defendeu que a íntegra da gravação seja tornada pública.

Nesta segunda-feira (11), Celso de Mello determinou, a pedido da PF, que uma equipe realize a perícia do vídeo logo após a exibição da gravação. AGU, PGR e advogados de Moro poderão acompanhar o trabalho dos agentes.

O ministro do STF cobrou, ainda, a degravação integral do HD externo apresentado pela União. Os arquivos deverão ser encaminhados ao seu chefe de gabinete, Miguel Piazzi. Celso de Mello afirmou, em despacho, que aguarda a transcrição do vídeo para decidir sobre a divulgação parcial ou total do conteúdo.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse que irá recorrer contra a decisão que permite a degravação. De acordo com o blog de Andreia Sadi, do portal G1, Aras disse que a transcrição na íntegra é “desnecessária” e coloca a “soberania nacional” em risco.

"Zero preocupação", disse Bolsonaro

Na segunda-feira (11), véspera da exibição do vídeo, Bolsonaro afirmou que tinha "zero" preocupação com a gravação e que decidiu entregar o vídeo pela "verdade acima de tudo". No entanto, o presidente disse esperar que apenas trechos que envolvam o inquérito sejam divulgados. Ele afirmou que o tom da reunião foi ‘bruto’, pois era reservado e se fosse em público teria usado uma forma mais ‘polida’.

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Antes de entregar a mídia ao Supremo, a AGU alegou que a gravação tratava de "assuntos potencialmente sensíveis de Estado" e pediu para remeter apenas trechos. Depois pediu que a divulgação se restringisse aos trechos do inquérito e ainda pediu que fosse definida a cadeia de custódia da gravação.

Vídeo contém palavrões e ameaças

A reunião ministerial citada por Moro contou com palavrões, briga de ministros, anúncio de distribuição de cargos para o Centrão e ameaça do presidente de demissão "generalizada" a quem não adotasse a defesa das pautas do governo.

Segundo Moro, em tal reunião, Bolsonaro teria dito que iria "interferir em todos os ministérios". “O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio Ministro da Justiça”, relatou.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]