• Carregando...
A delicada arte de manter o equilíbrio num mundo tribal
| Foto:

Todos falam da crescente polarização política no país e no mundo, um fenômeno que foi atiçado pelas redes sociais - e também pelo estouro da bolha "progressista" antes hegemônica na mídia. O gênio saiu da garrafa e dificilmente regressará a ela. Tenho escrito bastante, porém, sobre os riscos desse tribalismo.

Tenho receio de que esse comportamento tóxico vá engolir a todos nós. Relacionamentos familiares, de amizades, têm sido desfeitos por conta das divergências políticas, e isso é péssimo. Até porque a política não deveria ser a coisa mais importante em nossas vidas!

O tribalismo, contudo, segue avançando e ameaça implodir cada ponte existente entre os diferentes lados! Em breve só será possível ter um lado, um time nessa disputa. Se você aponta, por exemplo, o claro viés ideológico da jornalista que se acha imparcial, ou pior, liberal democrata sendo de esquerda, isso não quer dizer que você aplaude o método dos canalhas do outro lado.

Golpes baixos, ataques pessoais, "memes" ofensivos, nada disso faz parte de um debate saudável. Para mim, ao menos, nunca "valeu tudo" nessa "guerra cultural". Há coisas mais importantes do que política em nossas vidas. A decência humana, por exemplo. É preciso parar com essa mania de atacar as supostas intenções malignas de todos de quem discordamos, como se fossem uns vendidos ou golpistas. Divergir faz parte!

É verdade que existe o "isentão", com quem posso ser confundido ao escrever essas linhas. O típico "isentão" é aquele que posa de imparcial, acima da disputa entre direita e esquerda, mas no fundo defende sempre a esquerda. Eu não sou um "isentão". Eu sou um liberal clássico com viés conservador e, portanto, antiesquerdista. Mas isso não me impede de ter amigos de esquerda, tampouco de condenar posturas abjetas de ditos direitistas.

Tento criticar o que considero erro no governo e elogiar acertos, a única postura que julgo adequada para um comentarista. Mas verdade é que muitos perderam a mão na crítica, tratam o governo Bolsonaro como PIOR do que o PT, o que é ridículo, e não se importam de cerrar fileira ao lado de "democratas" como Ciro Gomes, Marina Silva e Alessandro Molon para atacar o "fascismo" que enxergam no poder. O seguro morreu de velho, até porque há uma ala bolsonarista um tanto autoritária, mas esse exagero será cobrado deles no futuro.

Um exemplo da falta de senso de proporção: vi gente falando que "povo na rua" nem sempre é democrático (fato), pois Mussolini colocou povo na rua também! Menos, gente! Então os manifestantes vão mascarados com o intuito de fechar o Congresso? Não vi nada isso. Vi gente querendo pressionar os chantagistas que lideram o Parlamento, o que é parte essencial da democracia.

É possível discordar da manifestação. É possível considerar um equívoco o presidente se meter isso (eu acho). E é legítimo até se preocupar com ataques generalizados ao Congresso. Mas a histeria de alguns, ainda mais ao lado de quem destilam esse "pânico" todo, suscita no mínimo suspeita sobre sua capacidade de priorizar o mais relevante. Não dá para levar a sério afetação democrática de Ciro e Marina, ex-ministros de Lula!

Marina, aliás, resolveu aparecer para demonstrar apreensão com os rumos da nossa democracia:

Quando o seu querido PT, de onde saiu com profunda tristeza, comprava o Congresso com o mensalão para um projeto realmente autoritário, quiçá totalitário, ela estava mais preocupada com a clorofila e o "aquecimento global" do que com nossa democracia...

Por fim, divergências quanto aos métodos deixadas de lado, eis o que realmente quero saber de quem pretende travar um debate sincero: ninguém deseja a volta do mensalão, certo? E todos cobram que o Executivo precisa articular com o Congresso, correto? Pergunta: sem pressão popular, acham que Maia e companhia serão sensibilizados com base em argumentos patrióticos? São altruístas agora?! O centrão fisiológico?!

Nenhum crítico me explicou ainda como melhorar essa articulação sem aderir ao toma-lá-dá-cá corrupto, justamente o que parece desejar o centrão chantagista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]