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O pré-candidato Sergio Moro já divulgou ao menos um nome de peso de seu programa econômico, o de Affonso Celso Pastore, conhecido economista com viés liberal. Dessa forma, como constata reportagem do Estadão, Moro busca se consolidar como opção da elite econômica na terceira via em 2022.

Ainda segundo a reportagem, Moro estaria tentando atrair Arminio Fraga também, que ajudava o projeto do apresentador Luciano Huck, que preferiu se manter no quadro de entretenimento da Globo, empreitada mais segura. Diz o jornal:

Para quem acompanha de perto essas articulações, Moro marcou “um gol de placa” ao citar Pastore. “É um dos melhores nomes do País”, disse o ex-juiz. Colunista do Estadão, o economista é hoje um dos líderes do Centro de Debate de Política Públicas (CDPP), grupo de estudos formado por alguns dos nomes mais importantes de áreas como economia e direito que se dedica a discutir e elaborar pesquisas sobre os principais desafios do País. Entre seus integrantes estão referências como os economistas Ilan Goldfajn, Edmar Bacha, Eduardo Giannetti, Luiz Stuhlberger, Pedro Malan, Persio Arida, o próprio Arminio, entre outros.

Admito: são todos nomes respeitados, que formam a nata da equipe econômica tucana. Moro, como eu já apontei após seu primeiro discurso como político na ocasião da filiação ao Podemos, adota postura típica dos tucanos em todos os aspectos. Defende o livre mercado, mas com ressalvas contra o "capitalismo cego"; fala em "sustentabilidade" aderindo ao mindset globalista; e prega uma face mais "humana" ao governo em busca da "justiça social". Ah sim: e é desarmamentista.

O jornalista tucano Merval Pereira, em sua coluna de hoje no Globo, aplaude com incontida empolgação essa escolha de Moro, alegando que, ao contrário de outros políticos que usam economistas como postes para se apoiar, o ex-juiz quer a luz. Com base no pensamento de Pastore, vemos que essa luz não aponta tanto assim para o liberalismo, que, segundo ele, exige eficiência no setor privado, mas isso não significa que "tenha de sair privatizando tudo".

Merval conclui com uma alfinetada em Paulo Guedes: "Aos órfãos da prometida política liberal de Paulo Guedes, defendeu a abertura da economia e o livre mercado, mas 'com solidariedade e compaixão'". Se o presidente atual, mesmo diante de uma pandemia, do lockdown de governadores e prefeitos, e de um "meteoro" dos precatórios, resolve flexibilizar um pouco o teto de gastos, isso é "eleitoreiro" e "irresponsável", mas os tucanos saberão tocar o barco com "solidariedade e compaixão", sem desviar do compromisso fiscal. Sei...

Não me entendam mal: nutro respeito por vários desses nomes, que são técnicos. São bons economistas, em geral com viés liberal na economia. Mas não consigo engolir o discurso surrado da turma social-democrata de que só essa visão "mista" demonstra real preocupação com os mais pobres. O "welfare state" da terceira via não resolveu o problema da pobreza, tampouco da desigualdade, que coloca como prioridade. Ao contrário: em várias ocasiões, esse modelo agravou o quadro de miséria e injustiças, criando castas de privilegiados.

Do ponto de vista do "mercado", ou seja, dos investidores, esse caminho não representa nenhum caos, e isso já é música para seus ouvidos, ainda mais quando lembramos que uma das alternativas é a volta do PT de Lula, aí sim com um risco enorme de destruição (apesar de não faltar apoio ao corrupto socialista em hostes financeiras). Os tucanos, do ponto de vista econômico, aprenderam muitas lições importantes.

O maior problema que vejo é nas demais áreas. Tucano rechaça qualquer guerra cultural, até porque, via de regra, flerta com o globalismo e com a esquerda "progressista". Tucano normalmente não se importa com cotas raciais, com pautas feministas e de ideologia de gênero, com todos os ataques que minam os valores tradicionais e enfraquecem os pilares da civilização ocidental. Os tucanos, na melhor das hipóteses, nem ligam para essas coisas, que julgam chatice de desocupado ou paranoia de reacionário. E tampouco temos visto tucanos priorizando críticas aos abusos supremos, hoje a maior ameaça às instituições republicanas e nossas liberdades.

Em suma, a equipe econômica que deve se unir ao candidato de centro Sergio Moro tem pedigree, agrada ao mercado, e terá muito provavelmente uma proposta reformista virtuosa. Para muitos, que focam basicamente nisso (quase todos do tal "mercado"), isso é mais do que satisfatório. Para milhões de outros brasileiros, incomodados com o esgarçamento de valores conservadores na sociedade, isso não é suficiente.


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