Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
1- Após Lula deixar a presidência da República em 2010, o PT fracassou em fazer um sucessor popular. Com a queda de José Dirceu no escândalo do mensalão, apostou-se em Dilma Rousseff, que, após uma sucessão de erros macroeconômicos, vencer as eleições com mentiras e de equivocar-se em sua articulação política, acabou sofrendo o impeachment em 2016. Sem outras figuras em ascensão, de um partido o PT passou a ser uma espécie de seita ao culto personalista de um ex-presidente condenado.
2- O culto é tamanho que, mesmo após a condenação confirmada em 2º instância e sucessivas derrotas da defesa de Lula na interposição de pedidos de habeas corpus, além do fato de este ainda responder por outras 7 ações penais, o PT continuou a defendê-lo, e ainda o lançou como seu pré-candidato à corrida presidencial de 2018.
3- O caráter autoritário petista ficou escancarado em pleno “showmissa”: Lula atacou a imprensa e defendeu a regulação da mídia. Isso em 7 de abril, dia do jornalista. As ameaças aos jornais não ficaram apenas no discurso: militantes agrediram alguns jornalistas que estavam ali apenas desempenhando seu trabalho, em um ambiente muito hostil.
4- O PSOL foi criado por políticos que foram expulsos do PT ao final de 2003 por discordarem da PEC da Previdência. A proposição legislativa foi conduzida pela equipe econômica do Governo Lula I, acusado pela própria base de cometer estelionato eleitoral, já que o partido havia sido contrário a várias das pautas da PEC quando propostas na legislatura anterior pelo PSDB. Assim, a ala mais radical do PT deu origem ao PSOL, sob as figuras de Luciana Genro, Heloísa Helena, Babá e João Fontes. O partido estava na showmissa abraçado com Lula e lamentando sua prisão. Fica claro que o problema do PSOL em relação ao PT jamais foi a corrupção, não à toa defendem um ex-presidente condenado.
5- Dois presidenciáveis saíram dos cargos que ocupavam na sexta-feira, 6 de abril, para disputar a presidência: Henrique Meirelles, da Fazenda, e Geraldo Alckmin, do Governo de São Paulo. Com todo o circo montado em São Bernardo, Lula acabou tirando a cobertura da imprensa nessas duas pautas importantes. Mais: como o episódio no sindicato se prolongou ao longo de todo o sábado, prejudicou ainda a exposição que Marina Silva poderia ter ao relançar sua pré-candidatura em Convenção da Rede;
6- No palco, ao lado de Lula, estavam dois pré-candidatos a presidência de outros partidos, Manuela D’ávilla (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL), interessados no espólio político dele. Lula também declarou apoio a Fernando Haddad, de seu próprio partido, mas não foi tão enfático. Ciro Gomes não compareceu ao evento por estar fora do país, mas deve visitar o agora presidiário em busca de obter seu apoio. Na falta de sucessores dentro do próprio PT, a corrida pela benção de Lula está aberta;
7- Manuela D’Ávila não se incomodou ao ser reduzida por Lula a “garota bonita”, embora destacar atributos físicos de uma mulher em vez de sua ocupação e relevância seja crítica comum no discurso feminista. A coerência nunca foi o ponto forte da militância de esquerda.
8- Agora que o porta-voz do projeto político do PT está na cadeia, incomunicável com o público, seu poder de transferência de votos se enfraquece ainda mais. Se não conseguir sair da prisão em meio às eleições, sua influência eleitoral será a menor desde 1989.
9- Boa parte do tempo em que Lula falou foi para apresentar “seus companheiros”: nomes do partido de diversos estados do país e que concorrerão às eleições em outubro. Várias figuras do PT, que perderam eleições majoritárias em 2016, vão priorizar a Câmara dos Deputados em busca de, na próxima legislatura, terem uma bancada maior que a atual de 59 deputados e poderem compor uma forte oposição, já que, com Lula de fora, o retorno do partido ao Palácio do Planalto fica ainda mais improvável.
10- A prisão de Lula significa romper uma camada da impunidade que muitos de seus opositores não acreditavam ser possível, mas não se deve subestimar a capacidade do Brasil com o fracasso. O PT ainda possui a seu lado parte da imprensa, a maior parte dos sindicatos do país, a CNBB, autarquias de classe, como o Cofecon – e, querendo ou não, é o maior partido do país, sendo o preferido por 1 entre cada 5 brasileiros. O PT aproveita-se de sua capacidade, como poucos, de criar narrativas, aproveitando-se da falta de informação de muitos eleitores. Continuarão utilizando de confrontação e vitimização para espalhar sua narrativa. O PT sofreu uma grande derrota com a prisão de Lula, mas o partido não está morto.
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