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Imigrantes muçulmanos foram acusados de múltiplos homicídios por autoridades italianas Imigrantes muçulmanos foram acusados de múltiplos homicídios por autoridades italianas

Diante da crise humanitária dos imigrantes que tentam desesperadamente entrar na Europa, com direito a imagem de criança morta na praia e tudo, fica realmente difícil travar um debate sério sobre o assunto. As emoções tomam conta das pessoas, deixando pouco espaço para a razão. Um viés sensacionalista costuma falar mais alto também, e como pimenta nos olhos dos outros é refresco, poucos tentam se colocar no lugar dos europeus.

Qualquer reação cautelosa sobre a “invasão bárbara” no continente, portanto, passa a ser associada à “xenofobia”. Como se receber da noite pro dia centenas de milhares de pessoas de culturas diferentes fosse algo trivial, fosse moleza de absorver tanto do ponto de vista cultural como econômico, para países que, não custa lembrar, estão em crise com seus governos “benevolentes” quebrados.

Já tentei mostrar aqui que o “welfare state” acaba produzindo a xenofobia mesmo, pois a turma de fora chega para pegar “carona grátis” nas benesses estatais pagas pelos trabalhadores desses países. A reação natural, sob esse sistema de estado de bem-estar social, é tentar barrar novos entrantes, fechar as fronteiras, impedir o acesso dos demais àquilo que os estabelecidos já desfrutam.

Quando esses imigrantes chegam com culturas totalmente diferentes e, ainda por cima, acham que os anfitriões é que devem se adaptar, e não o contrário, a coisa só piora. Se esses que chegam pertencem a uma cultura ou religião associada aos grupos terroristas modernos, que realizam atentados no próprio solo europeu, aí claro que a desconfiança só tende a aumentar. O que dizer, então, de imigrantes que já chegam acusados de lançar cristãos no mar, antes mesmo de pisar em solo europeu?

Chamar qualquer reação cautelosa de “xenofobia”, portanto, parece injusto. Abaixo, para colaborar com o debate sério daqueles que ainda o buscam, uma resenha do livro de Walter Laqueur, no qual faz previsões pessimistas para o futuro europeu justamente por conta das mudanças culturais em curso:

europa

A Crise da Europa

“Nas circunstâncias, um declínio lento e gradual parece mais provável do que um grande colapso.” (Walter Laqueur)

O continente europeu tem sido o berço e a locomotiva da civilização por vários séculos. Dali saíram os principais pilares do mundo Ocidental. No entanto, vários problemas sérios, culturais e econômicos, têm ameaçado esta liderança. A Europa vem perdendo força no cenário mundial, e podemos estar diante do começo de seu declínio. Eis a tese defendida pelo historiador Walter Laqueur no livro Os Últimos Dias da Europa, cujo título já deixa evidente o teor pessimista da mensagem. O autor lembra que a história está cheia de casos de países e impérios que desapareceram ou perderam sua hegemonia. A Europa não está livre dessa ameaça, e pode acabar se transformando num grande museu. O alarmismo quanto a esta possibilidade para a Europa não é infundado.

O foco de Laqueur foi o aspecto cultural, ainda que ele tenha citado o problema econômico, que merecia uma atenção maior, em minha opinião. Ele dissecou a questão da imigração nos diferentes países europeus, mostrando como este fator representa um enorme risco devido a suas peculiaridades no caso da Europa. A imigração sempre existiu, mas existem diferenças para o que se passa atualmente. Em primeiro lugar, os imigrantes se esforçavam para se integrar social e culturalmente. Havia uma elevada taxa de casamento entre pessoas de nacionalidades distintas. Atualmente, muitos imigrantes vivem à margem da sociedade na Europa, sem um esforço claro de integração.

Em segundo lugar, ninguém os ajudava, não havia assistentes sociais nem governos oferecendo moradia subsidiada, serviços médicos gratuitos e todo tipo de programa de “discriminação positiva”, como ocorre hoje. O imigrante tinha que se virar sozinho. Isso estimulava a procura por trabalhos produtivos e não gerava ressentimento nos cidadãos locais. No modelo de welfare state, o pagador de impostos acaba alimentando um sentimento de rancor por ser obrigado a sustentar milhões de imigrantes que, muitas vezes, nem mesmo abraçam os valores culturais do país. O modelo está induzindo a um parasitismo social. A taxa de desemprego já chega a 40% para jovens imigrantes em alguns locais. O autor conclui: “Se há mais xenofobia agora, isso talvez se deva em parte à reação da classe trabalhadora branca contra o tratamento preferencial que costuma se dar aos novos imigrantes”.

Fora isso, a grande maioria de imigrantes é formada por muçulmanos, e a religião pode se tornar um entrave na adaptação, principalmente para os mais ortodoxos. Para piorar a situação, o terrorismo, associado muitas vezes ao islamismo, é um problema. “Se houve uma animosidade crescente para com os muçulmanos na Europa em anos recentes”, diz o autor, “não foi em resposta à religião deles per se, mas devido ao fato de que a maioria dos ataques terroristas foi realizada por muçulmanos”. Uma retórica antiocidental constante por parte de muitos desses imigrantes muçulmanos e a ênfase na necessidade da jihad certamente não ajudam. Existe uma postura muitas vezes hostil por parte desses próprios imigrantes.

Laqueur afirma que “existe consideravelmente mais fobia com referência aos ocidentais e às coisas do Ocidente do que islãfobia”. O fato de a Europa ter se tornado um gigantesco lar seguro para os terroristas tampouco ajuda. Várias células terroristas surgiram em diferentes países europeus, muitas vezes sob o excesso de complacência das autoridades, e muitos terroristas chegaram a viver anos à custa da assistência social. Para o autor, “a imigração descontrolada não foi a única razão do declínio da Europa”. Entretanto, “considerada junto com outras desgraças continentais, ela remete a uma crise profunda; será preciso um milagre para tirar a Europa desses apuros”.  

Um dos assuntos que mais recebeu a atenção do autor foi o aspecto demográfico. A taxa de natalidade na Europa está caindo faz tempo. A população mundial em 1900 girava em torno de 1,7 bilhão de pessoas, das quais uma em cada quatro morava na Europa. As estimativas existentes para os próximos anos são sombrias. As Nações Unidas estimam que a população da Alemanha irá cair de 82 milhões hoje para 61 milhões em 2050. Os 57 milhões de italianos passarão a apenas 37 milhões no meio do século. Praticamente nenhum país importante da Europa escapa deste destino preocupante.

Além disso, as pessoas estão vivendo cada vez mais, ou seja, a população está envelhecendo rapidamente. Pela primeira vez na história, existem mais pessoas acima dos 60 anos do que abaixo dos 20 em países importantes como Itália, Alemanha, Espanha e Grécia. Laqueur lembra: “Quando o Estado do Bem-Estar Social foi inicialmente implantado após a Segunda Guerra Mundial, a estrutura populacional das sociedades européias era muito diversa da de hoje; além disso, a expectativa de vida aumentou consideravelmente e continuará aumentando”. Há uma bomba-relógio pronta para detonar.

A parte econômica é justamente a que mereceu pouca atenção do autor. Os principais países da Europa possuem uma elevada dívida pública, um passivo previdenciário crescente e uma carga tributária que já absorve praticamente a metade do PIB. Reformas que cortem as despesas estatais são uma necessidade, mas encontram forte resistência por parte dos grupos organizados, que não desejam abrir mão dos privilégios.

Juntando os problemas provenientes da tensão cultural causada pela imigração descontrolada, a demografia desfavorável e o excesso de governo atravancando a economia, o cenário para o futuro europeu não é dos melhores. Se nada significativo se alterar neste curso, poderemos presenciar, nesse século ainda, o declínio da Europa. Somente o tempo vai dizer se essas previsões mais pessimistas irão mesmo se concretizar. Mas os riscos existem e não podem ser minimizados. A Europa está em crise.

Rodrigo Constantino

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