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Estou acompanhando com espanto o “debate” entre Alexandre Schwartsman e Leda Paulani na Folha. Coloco debate entre aspas pois, se Schwartsman procura apresentar argumentos lógicos e fatos de um lado, do outro temos apenas a insistência em dogmas, curiosamente daquela que acusa o adversário de ser dogmático. É um espanto a incapacidade de nossa esquerda de aprender coisas básicas sobre economia.

A mais espantosa de todas é a ideia de que a taxa de juros é um preço exógeno, que pode ser deliberadamente definido pelo governo, impunemente. E mais espanto ainda é essa gente ignorar que foi exatamente o que fez o governo Dilma no primeiro mandato, reduzindo na marra a taxa de juros, inclusive alegando em cadeia nacional de televisão que estava enfrentando os banqueiros corajosamente. Na época, foi muito aplaudida pela mesma esquerda que, hoje, finge não ter nada com isso.

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Em seu artigo de hoje, Leda Paulani simplesmente insiste que a alta taxa de juros é uma aberração (correto), e que basta o governo decidir reduzi-la que tudo ficará bem (absurdo). Não há elo entre a taxa de juros e a inflação, segundo a economista. O que importa é apenas a expectativa dos agentes. Ou seja, se ao menos o marqueteiro do governo for mais persuasivo, tudo será uma maravilha, e teremos taxas de juro como as praticadas na Suíça! Diz ela:

E não venham dizer ele e seus pares que a estratosférica taxa de juros é necessária para conter a inflação. Concedendo algum crédito à tese de que a taxa de juros é variável incontornável na determinação do comportamento dos preços, o que importa aí é a evolução das expectativas –a qual, independente da direção, pode ser a mesma no nível dos 5% ao ano, dos 8%, dos 12%, dos 15%, ou outro número qualquer.

Por que 13% é pergunta que deve responder o Copom, o mercado que avaliza a taxa e os colunistas que aplaudem tamanha aberração.

Nem venham dizer ele e seus pares que a absurda taxa é necessária para garantir a atratividade dos capitais externos.

Em primeiro lugar porque, faz anos, as taxas nominais nos principais mercados do mundo são extremamente baixas, quando não negativas em termos reais. Em segundo lugar porque esse capital cigano, que não esquenta assento, não ajuda o país, antes o contrário.

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Deixando de lado o desprezo (agora) pelo capital “cigano”, que sai do país quando o cenário piora, resta compreender qual taxa a economista acha que seria adequada. 10%? Talvez 5%? O fato de que a inflação está acima de 8%, quase o dobro da meta (elevada) do governo, não importa. Isso não ocorreu porque o Banco Central ficou “atrás da curva”, praticando taxas de juros abaixo do que deveria, o que deixou as expectativas desancoradas. Imagina! É tudo questão de expectativa apenas, e ela não depende dos dados econômicos reais…

Como uma economista não entendeu ainda que a taxa de juros é um sintoma, um preço de mercado? Isso é algo incrível, da ordem do horror. Um governo com as finanças desajustadas como é o caso, e que praticou uma política não só fiscal, mas também monetária extremamente expansionista, terá que subir a taxa de juros para conter a inflação, se quiser conter a inflação. Não há outro remédio. O ajuste fiscal rigoroso é a única alternativa, e isso não depende apenas das expectativas dos agentes, mas também das variáveis econômicas, que não podem ser ignoradas impunemente.

São leis básicas da economia. Governo gastador e frouxo na política monetária irá sempre produzir inflação. A única arma, o canhão que precisa ser usado pelo Banco Central, é a taxa de juros. Se o governo fizesse o dever de casa e ajustasse suas finanças, a artilharia monetária não precisaria ser tão forte. Mas insistir que basta reduzir a taxa de juros e que isso não terá efeito na inflação, que já está fora de controle, isso é algo de fazer cair o queixo de qualquer economista sério, que Leda chama de “dogmático”.

“Infelizmente para a maioria esmagadora e esmagada da população, o país de Alexandre e seus pares tem triunfado e tripudiado, minando os esforços, mesmo mínimos, de engendrar uma nação”, escreve ela. Ou seja, para piorar as coisas, o sofrimento todo causado pelas trapalhadas desenvolvimentistas do governo Dilma é culpa do liberalismo, do “dogmatismo” dos economistas ortodoxos! É ou não um espanto?

Enquanto Dilma seguia a cartilha desenvolvimentista, sob os aplausos dos “keynesianos de quermesse”, como diz Alexandre, nós liberais apontávamos para o inevitável resultado catastrófico das medidas. O caos chegou, e os defensores de ontem do governo não acusam o golpe; preferem acusar o liberalismo ortodoxo! O fato de gente assim dar aulas por aí, (de)formando alunos com tais baboseiras, é de desanimar qualquer um.

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Admiro a paciência de Alexandre Schwartsman. É preciso ter muita paciência mesmo para “debater” com essa turma, cuja marca registrada é nunca aprender com os próprios erros. Defende a receita da desgraça, e depois sai de fininho, como se não tivesse nada com aquilo, ainda por cima apontando o dedo na direção dos que criticavam a receita da desgraça desde o começo. Ó, céus!

Rodrigo Constantino