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A ficha já caiu para todos, menos para o governo e os "analistas" chapa-branca
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A crise é dos emergentes, pois o banco central americano, o Fed, começa a retirar aos poucos o excesso de liquidez, e aqueles que nadavam pelados ficam expostos. Mas a crise também é brasileira, feita em casa, pelas trapalhadas do PT. Todos os analistas sérios já perceberam isso. Alguns não podem falar. Outros não são sérios.

Mas os que podem falar têm alertado, até agora em vão. Abaixo, um recorte só de colunas e reportagens do fim de semana e de hoje. Apenas para dar o tom de que a ficha caiu para todo mundo, menos para o governo e esses “analistas” chapa-branca.

Comecemos por Henrique Meirelles, que foi presidente do BC durante o governo Lula. Ou seja, não se trata de um opositor petista que toca um bumbo pessimista por interesses políticos. Ao contrário, é alguém que esteve lá dentro e enxerga os crescentes equívocos da equipe do governo Dilma. Em sua coluna na Folha ontem, ele disse:

Essas distorções exacerbaram os desequilíbrios econômicos. Produtores de soja, por exemplo, seguram produção esperando câmbio mais realista. Já os índices de inflação manipulados enfraquecem o tecido social, com luta desorganizada por recomposição de preços de bens, serviços e salários.

Tudo isso estava mascarado pelo excesso de liquidez global e o crescimento chinês que absorvia as exportações dos emergentes. Com o início da correção nos Estados Unidos e na China, todos os países serão forçados a corrigir e ajustar não só fundamentos, mas a estrutura microeconômica de preços relativos, direcionando mais investimentos à produtividade, não ao consumo ou fins políticos.

É lição importante a todos e alerta ao Brasil. 

Mas é uma lição que a equipe econômica de Dilma não quer nem saber. Samuel Pessoa, também na Folha, explicou porque o mercado está projetando aumento na taxa de juros ainda maior para a frente:

Se a Selic ficar constante e na ausência de novos choques sobre a economia, o juro atual conseguirá colocar a inflação em 2015 na casa de 5,6% ao ano. Se não houver novos choques, a convergência para a meta ficará para meados de 2017!

Dado que 2015 será ano de ajustamento com forte inflação corretiva, em razão da recomposição dos preços controlados que estão represados, entende-se por que os analistas de mercado consideram hoje 10,5% de Selic insuficiente.

Até mesmo o economista Luiz Gonzaga Belluzo, que eu não colocaria exatamente na lista dos que considero mais preparados, já percebeu que o lado fiscal é o calcanhar de Aquiles do governo:

Para Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e um dos economistas mais ouvidos pela presidente Dilma Rousseff, o Brasil deveria anunciar um superavit primário de 3% do PIB em 2014.

“Com uma política fiscal mais rígida, surpreenderíamos o mercado e não ficaríamos tão dependentes de alta de juros”, diz. No longo prazo, o crescimento dos EUA e o rebalanceamento da economia global são boas notícias até para os emergentes, que poderão aumentar suas exportações para os países ricos. O problema é resistir até lá. 

Não é apenas isso, claro. São os malabarismos contábeis, os preços congelados, um Banco Central sem autonomia que nunca entrega uma inflação na meta, uma expansão de crédito acelerada demais, e por aí vai. Mas não deixa de ser interessante ver que até mesmo Belluzo já sabe que o governo precisa apertar os cintos, praticar maior austeridade fiscal, expressão pecaminosa para as hostes esquerdistas.

Os investidores estão com profundo mau humor em relação ao Brasil não é à toa. Na verdade, como apontou o gestor e filósofo Michael Shaoul em entrevista à Folha de ontem, são os investidores brasileiros que não querem mais saber do Brasil:

O Brasil está entre os mercados emergentes mais fracos?
Sim, mas em parte porque o Brasil começou primeiro. Também acho que vocês são os que estão mais próximos do fim do ajuste. Sempre achei que a Bovespa perderia metade do seu valor, e já perdeu metade do valor em dólares e um pouco mais de um terço do valor em reais.
O problema é que, normalmente, quando os mercados atingem seu nível mais baixo, as empresas colapsam. Então, talvez o real termine acima do que esteve em 2008. O número de brasileiros com renda alta interessados em investir fora aumentou muito nos últimos 12 meses.
Não é que os estrangeiros não queiram investir no Brasil. Os brasileiros não querem investir no Brasil.

O que esses brasileiros dizem?
Eles estão muito preocupados com a situação política. Eles se sentem muito expostos por serem ricos neste momento. Acham que as políticas econômicas são ruins e estão interessados em investir nos Estados Unidos.
O que esperamos é que os mercados se tornem ruins o suficiente a ponto de assustar os políticos e os levar a fazer as coisas certas.

As coisas certas, segundo o gestor, seriam políticas mais pró-negócios, ou seja, menos populismo e intervencionismo estatal. O mercado já vem colocando o governo contra a parede. Mas a equipe econômica de Dilma segue em negação da realidade. Armínio Fraga, em entrevista à Folha no sábado, disse:

Economistas dizem que o governo deveria dar um sinal mais forte de contenção de gastos, como em 1999 [naquele ano, o superávit primário subiu de 0,29% para 2,9% do PIB]. Acredita que vão fazê-lo em um ano de eleição?
Esse sinal deveria ser dado. Mas não me arrisco a fazer prognósticos. Faz parte de um quadro maior que infelizmente está aí e que não tem sido capaz de entregar crescimento econômico. É um modelo que não é sustentável e que teria que mudar. Mas o fiscal com certeza seria um sinal importante. Não só o número em si mas como chegar lá. Não quero dizer que seja fácil, mas é necessário.

[…]

O BC deveria elevar mais os juros para frear o movimento?
O melhor que o BC pode fazer é trabalhar para que as expectativas de inflação fiquem bem ancoradas e na meta. E de preferência com apoio da política fiscal e de crédito.

Isso não tem sido feito. O governo prefere olhar para fora e culpar os astros, o Fed, a “crise global” por nossos problemas. Diagnóstico falso. Em reportagem no GLOBO hoje, o economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano, disse:

O governo quer atribuir seu insucesso a fatores externos. Mas é equivocado dizer isso. A possibilidade de as agências de classificação de risco rebaixarem a nota brasileira é fruto das políticas adotadas no Brasil.

Alexandre Schwartsman, que tem sido um crítico da postura negligente do BC no combate à inflação, lembrou na mesma matéria que a desvalorização das moedas emergentes vai adicionar gasolina ao nosso fogo inflacionário: 

Para o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e fundador da Schwartsman & Associados, se o governo tivesse mantido uma política fiscal mais sólida e a inflação próxima ao centro da meta, o país estaria melhor agora, num momento em que o mundo olha as economias emergentes com desconfiança. No ano passado, o superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) ficou em 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), sendo que meta era de 2,3% do PIB. Já a inflação terminou o ano em 5,91%, mais próxima do teto de 6,5%.

– O problema é que agora o cenário pressiona o câmbio, que vai acabar se refletindo numa inflação que já está alta – disse o ex-diretor do BC.

Eu poderia continuar por muito tempo, mas creio não ser preciso. Isso tudo, só para refrescar a memória do leitor, foi retirado apenas dos últimos 3 dias, e mesmo assim tinha mais material. Os alertas vêm de todo lado, de gestores internacionais, de economistas brasileiros, de analistas independentes, de agências de risco, e até de conselheiros da presidente Dilma!

O PT montou uma bomba-relógio na economia. Não fez o dever de casa com reformas, não respeitou o tripé macroeconômico, e contou com a abundância eterna de liquidez nos mercados. Foi, em outras palavras, irresponsável e usou um mapa de voo equivocado, com forte ranço ideológico.

O resultado está aí. Apenas para ilustrar, segue abaixo o gráfico do Ibovespa em dólar nos últimos 5 anos (e não venham falar que é apenas “ataque especulativo”, cabeças de bagre, pois isso é um termômetro que aponta a febre do doente):

Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg

As empresas brasileiras valem a metade do que chegaram a valer em 2010! Mesmo tirando o efeito do Grupo X (que tem tudo a ver com os equívocos do governo do PT), o estrago é impressionante. A conta das burradas está chegando. Assusta pensar que ainda falta muito, e que o governo sequer se dá conta do quão grave é o quadro e de que suas impressões digitais estão em todas as cenas do crime.

A ficha ainda não caiu para o governo. Se não cair para os eleitores também, o sofrimento será grande à frente…

Rodrigo Constantino

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