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A questão do juro: a esquerda nunca aprende
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Enquanto Dilma dizia que enfrentaria os banqueiros para reduzir na marra a taxa de juros, o governo gastava e emprestava como se não houvesse amanhã e o BNDES selecionava os “campeões nacionais”, os típicos economistas de esquerda, “formados” em lugares como a Unicamp, eram só elogios. Textos e mais textos aplaudindo a mudança desenvolvimentista.

Agora a conta chegou, como previam os liberais. Estagflação. Queda da atividade prevista para este ano, mesmo com inflação de 7%. Até mesmo alguém como Dilma precisa recuar, chamar Joaquim Levy, falar em reequilíbrio das contas públicas. E o que fazem esses mesmos economistas? Condenam a ortodoxia e pedem mais desenvolvimentismo, como se nada de errado tivesse ocorrido com suas receitas.

Foi o que fez Marcelo Miterhof em sua coluna de hoje na Folha. Sei que pouca gente o lê, e a maioria não sabe quem ele é, mas mesmo assim vale refutar suas falácias, por dois motivos: 1) o sujeito é economista do BNDES, ajudando na tomada de decisões que mexem com os nossos recursos; 2) sua mentalidade representa a de milhares de outros economistas.

A tese fantástica dele é que não existe “taxa de juros natural”, aquela que seria definida pelo encontro entre a demanda e a oferta de capital. O custo do capital é justamente o juro, mas Miterhof acha que este pode ser simplesmente decretado pelo governo, impunemente. Acha, ainda, que firmas precisam poupar para investir, mas o governo, graças à moeda fiduciária, pode simplesmente ignorar essa restrição, novamente de forma impune. Diz ele:

Há uma controvérsia teórica. A ortodoxia entende que a poupança precisa ser acumulada previamente ao investimento. Isso faz sentido, por exemplo, para uma firma: reter lucros ajuda a conseguir financiamentos a custo mais baixo.

Mas a moeda fiduciária, criada pelo BC e pelo sistema financeiro ao conceder empréstimos, torna macroeconomicamente prescindível o acúmulo prévio de recursos. A poupança agregada é necessária para pagar os financiamentos, mas pode ser obtida com a atividade gerada posteriormente pelos investimentos.

E eis que Miterhof descobriu o moto perpétuo de crescimento! Basta o governo imprimir papel-moeda, conceder empréstimos, definir arbitrariamente uma taxa de juros reduzida, e tudo isso vai gerar mais investimentos, mais crescimento, e acabaremos num ciclo virtuoso rumo ao progresso, cuja locomotiva será o próprio governo, especialmente o BNDES.

Mas não foi justamente isso que fez o governo Dilma?, poderia perguntar um liberal chato. Sim, foi. Mas isso parece ser um detalhe bobo para o economista do banco público. O BNDES expandiu sua carteira de crédito de forma impressionante, escolheu vários “campeões nacionais”, e o investimento não veio. O que deu errado? Ora, os fatos, que insistem em incomodar a teoria brilhante do rapaz…

Taxa Selic. Para os economistas de esquerda, o erro não foi derrubá-la na marra e de forma irresponsável antes, mas sim subi-la agora, mesmo com a inflação bem acima da meta.

O culpado do fracasso evidente da receita desenvolvimentista só poderia ser ele, o tal “mercado”, os bancos. Miterhof explica:

É possível compensar o menor juro com maior volume de crédito. Porém é mais arriscado. Além disso, os bancos públicos conseguiram continuar aumentando sua participação no crédito total, de 41,7% em 2010 para 53,5% em 2014.

A estratégia exigiu reforçar as fontes de recursos dos bancos públicos, o que elevou a dívida pública bruta. Ainda assim, em 63% do PIB, ela continua baixa internacionalmente. O problema não é seu tamanho, mas o juro incidente elevado.

Traduzindo: o governo marretou a taxa de juros para baixo, e os bancos privados tinham que compensar isso emprestando muito mais, ponto. Mas os bancos se negaram a tanto, pois o risco era grande demais. Os bancos públicos, que não precisam se importar com solvência, retorno sobre o capital ou outras chatices do gênero, pisaram no acelerador. A Caixa aumentou sua carteira inteira de crédito em 45% só em 2012!

Para financiar essa irresponsabilidade, o governo emitiu mais dívida ainda, levando seu endividamento para mais de 60% do PIB. Miterhof não acha nada demais, pois é um patamar inferior ao dos países desenvolvidos. Esquece apenas que o Brasil não é um deles, e por vários motivos. Os mesmos que levam os investidores a cobrar muito mais pelo financiamento.

Esse nível de dívida é bem maior do que a média dos países “emergentes”, por exemplo. Outro detalhe bobo, garante o economista do BNDES, já que o governo pode sempre definir de sua caixola a taxa de juros sobre tais financiamentos. Miterhof deve jurar que a Grécia pode decidir quanto pagar por sua dívida, e sem dúvida deve ter vibrado com a vitória da esquerda caloteira nas últimas eleições.

Mas os que apontam para suas falácias e mentiras só podem trabalhar pelos interesses dos poderosos banqueiros, claro! Esqueça essa coisa de “ciência econômica”. Isso é uma invenção do “mercado”. Miterhof aponta o vilão da história:

Grandes anunciantes e defensores de um status quo que beneficia os mais ricos com taxas de juro muito altas, não foi difícil para o dito “mercado” ecoar sua insatisfação, como se fosse a defesa de uma indiscutível “ciência” econômica.

Seu poder não se restringe aos meios de comunicação. É forte no mercado financeiro propriamente dito. Assim é até compreensível que o governo tente reeditar a estratégia de 2003, cedendo ao que a elite entende por estabilidade econômica.

Estabilidade econômica, um conceito da “elite”. Para o economista de esquerda, o povo não precisa dela. Quem disse que o governo não pode gastar mais do que arrecada, emprestar o que não tem, jogar artificialmente o juro para baixo e imprimir mais moeda? Ora, basta ver o resultado no Zimbábue ou na Venezuela para verificar que é possível, sim. Ops!

Após suas diatribes contra o “mercado”, o economista do BNDES conclui que o ano será difícil, e por culpa dos ajustes ortodoxos, impostos pelas elites, pelos banqueiros. Sim, vai ser um ano bem difícil. Afinal, economistas como Miterhof estão no controle da economia e foram os responsáveis, junto com a presidente Dilma, por essa lambança que se abate sobre o país. Mas a nossa esquerda nunca aprende mesmo…

Rodrigo Constantino

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