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Aécio Neves na oposição: discurso pusilânime ou sabedoria mineira?
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Muita gente reclamou do primeiro discurso de Aécio Neves como incontestável líder da oposição após ter recebido 51 milhões de votos. Esperavam mais dele, uma posição mais aguerrida, combativa. Condenaram suas críticas ao lado mais agressivo das manifestações que pedem o impeachment da presidente Dilma ou mesmo a intervenção militar. Disse o tucano:

“Eu respeito a democracia permanentemente. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão em outro campo político, não estão em nosso campo político.”

Claro que os jornalistas vão destacar a parte do que ele condena nas manifestações, mas o que mais ele poderia ter dito? Que aplaude uma eventual forma autoritária e truculenta de protestar? Seria absurdo. Aécio deve mostrar total compromisso com os caminhos legais e democráticos, e rejeitar qualquer coisa que pareça com “golpismo”.

O que se espera dele é uma oposição firme sim, mas respeitando todos os trâmites democráticos e as regras do jogo. Não aceitamos a máxima petista de que os fins nobres justificam quaisquer meios. Aécio deve cobrar esclarecimentos, deve combater qualquer vestígio de desvio do governo, deve votar com base nos interesses nacionais, não partidários. É isso que se espera de um líder de oposição.

Claro, entendo a angústia de muita gente da direita. Afinal, o PSDB nunca foi um partido de direita. Alguns tucanos estão desesperados, tentando deixar isso bem claro. Sua origem é a social-democracia europeia, ou seja, um partido de centro-esquerda. Só mesmo no Brasil o PSDB passou a ser associado ao “neoliberalismo”.

A direita órfã encontrou abrigo no PSDB, por falta de opção. Isso não faz do PSDB um partido de direita. Mesmo na direita há muita divergência. Alguns gostariam de alguém como Jair Bolsonaro como porta-voz, outros não aceitam uma postura tão radical ou agressiva. Alguns clamam por intervenção militar, outros julgam esta demanda absurda e querem fortalecer as instituições democráticas, ainda existentes.

Isso tudo mostra como é necessário para a direita ter representação partidária, talvez mais de uma. O ideal seria um partido mais conservador, e outro mais liberal. O PSDB ficaria, então, como representante legítimo da social-democracia, a esquerda civilizada e democrática. Como nos principais países desenvolvidos.

Enquanto isso, é o PSDB que temos, todos nós que desejamos, acima de tudo, resgatar o respeito às instituições democráticas e combater essa quadrilha instaurada no poder. Desde Marina Silva e Eduardo Jorge até Bolsonaro e Feliciano, passando pelos liberais: estão todos juntos contra o PT. E essa união é fundamental para a vitória da democracia.

Claro que os mais à esquerda vão reclamar muito da “infiltração” da direita nessa oposição representada por Aécio Neves. E claro que a ala mais à direita vai criticar a “pusilanimidade” do tucano, que, afinal, não é conservador nem de direita. Está mais para Tancredo ou Ulysses do que para Carlos Lacerda.

No estilo mineiro ou com a persistência e paciência de Ulysses, vai comendo pelas beiradas para alcançar o poder e de lá tirar o PT. Quase conseguiu logo na primeira tentativa, contra todas as expectativas, contra o abuso da máquina estatal, o terrorismo eleitoral, a difamação e calúnia dos militantes petistas.

Não devemos confundir o que gostaríamos de ver Aécio falando com aquilo que é realmente mais eficaz do ponto de vista de resultado. Aécio precisa se estabelecer como líder da oposição, uma oposição firme e disposta a enfrentar o PT sem medo. Mas não deve ser truculento ou agressivo, passar do limite, pois isso aliviaria em parte nossas angústias e daria vazão ao nosso sentimento de indignação, mas não garantiria mais votos no futuro, dos indecisos ou dos que escolheram Dilma por alienação ou medo.

Confiemos no mineiro! Ele surpreendeu a todos com sua postura otimista e confiante nas eleições, e também pela firmeza, mesmo sob os ataques mais pérfidos já vistos na história de nossa democracia. Aécio não pode se curvar diante do PT em hipótese alguma, mas tampouco deve se transformar num Carlos Lacerda agora. Não é seu perfil, não é seu estilo, e também não é o necessário para conquistar mais adeptos em cima do muro.

Em vez de produzir mais calor, é hora de produzir mais luz!

Rodrigo Constantino

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