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A nova pesquisa Ibope revela um índice de rejeição elevado e crescente ao líder na corrida presidencial, Jair Bolsonaro. Com mais de 40% de rejeição, segundo essa pesquisa, o candidato perderia para praticamente qualquer adversário no segundo turno. Alguns funcionários do PSL ou militantes voluntários diminuem o fato, alegando se tratar de uma pesquisa furada. Mas a postura do próprio candidato, reagindo com mais vigor aos ataques que tem recebido, demonstra uma preocupação maior na prática.

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Esse foi o tema da coluna de Carlos Andreazza essa semana, publicada antes do resultado da nova pesquisa. Ele falou sobre o teto de Bolsonaro, e acrescentou uma análise sobre essa alta rejeição ao capitão:

Outro ritmo conexo merece detido acompanhamento: a forma como progride — vem progredindo — o índice de rejeição a Bolsonaro; e isso mesmo sem que qualquer de seus adversários ou entrevistadores o tenham tratado como um candidato normal, condição em que se veria, como qualquer outro, obrigado a mostrar se já aprendeu algo sobre peso do serviço da dívida no Orçamento da União e — para ficar apenas em mais uma questão que lhe causou apagão recente — mortalidade infantil. É — voltemos — combinação delicada: estagnação, cabeça no teto, mais avanço no volume de refusão. O aumento contínuo da taxa de rejeição historicamente representa etapa anterior à queda no percentual de intenção de votos.

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Com a fotografia acima revelada não quero, por favor, dizer que a posição de Bolsonaro seja desconfortável. Não mesmo. O sujeito lidera a corrida à Presidência — e o faz com sólida base de algo como 15% de votos espontâneos, aqueles declarados sem qualquer estímulo, dos quais se pode afirmar serem de difícil subtração. Se ponderarmos não ser improvável que se alcance o segundo turno com 18%, talvez mesmo 17%, constataremos que o deputado não estaria longe — hoje — de conseguir.

Meu ponto aqui é outro e propõe uma camada: o de que há (pode haver) desconforto — algum grau de pressão — no conforto. Porque, a ser verdade que o deputado tenha encontrado seu teto, isso significaria tê-lo feito prematuramente; o que, por consequência, significaria ver-se imposto a mais de mês em permanente estado de defesa, restrito e obrigado a proteger seu patrimônio eleitoral. Não é perspectiva agradável a indivíduo de natureza ofensiva, contra quem, nesse período, ademais se voltará — com maior ou menor eficiência — uma blitz de desconstrução comandada pelo establishment político.

Em parte, o elevado nível de rejeição a Bolsonaro se deve a esses ataques dos demais candidatos. Mas outra parte pode ser explicada pelo comportamento do próprio candidato e, principalmente, de sua militância. Tenho chamado a atenção para esse fenômeno faz tempo, em diversos artigos e vídeos. Se a militância mais aguerrida ou fanática tem seu papel de mobilização nas redes sociais ou em aeroportos, passando a impressão de que o candidato é quase uma unanimidade, ela afasta os mais moderados também. E ninguém vence uma eleição majoritária sem atrair os moderados.

Todo eleitor bate no candidato adversário do seu escolhido. Isso é normal, é parte do jogo. Mas os bolsominions, como são chamados esses militantes fanáticos, fazem algo diferente, e um tanto estúpido do ponto de vista estratégico: batem nos eleitores dos demais candidatos!

Ora, se o eleitor de Alckmin ou Amoedo (no primeiro turno) é tratado como um imbecil, traidor, direita maricas ou comunista infiltrado, então fica difícil imagina-lo migrando o voto para Bolsonaro no segundo turno. Os 3-4% que pretendem votar no Partido Novo no primeiro turno seriam naturalmente eleitores de Bolsonaro no segundo turno, basicamente por conta de Paulo Guedes. Qual o sentido, então, de atacar com tanta pestilência esses liberais?

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Claro, se for contra o PT essa gente, via de regra, votaria até no Capeta, e com razão. Mas contra qualquer outro, mesmo um esquerdista tido como mais moderado, ele pode ter dúvidas e acabar optando pelo mais previsível, com receio justamente do papel dessa militância tosca num eventual governo Bolsonaro. Mas quando apontamos isso, os militantes fogem de qualquer reflexão crítica, e reagem da única forma que sabem reagir: partem para o ataque contra o mensageiro.

Flávio Quintela, em sua análise sobre Bolsonaro, segue a mesma linha de raciocínio: “O bolsonarismo, além de ser cafona e irritante, é também a criptonita do presidenciável, seu maior adversário num segundo turno extremamente provável. Cada vez que um militante vasculha e ataca os perfis de Facebook e Twitter de pessoas que não declararam voto no ‘mito’, uma pequena ponte é queimada”.

Ao publicar o texto com esse destaque, não deu outra: bolsominions invadiram minha página para me atacar de traidor e colocar a culpa de uma possível derrota nessa ala da direita que não se ajoelhou cegamente perante um guru político, rejeitando a bajulação a quem quer que seja. Conforme já alertei em outro texto, é previsível que, no caso de derrota, essa turma vá xingar a “direita maricas” sem fazer qualquer mea culpa por sua responsabilidade no fracasso.

Rafael Rosset resumiu bem o que pode acontecer no Brasil: “Eu admiro o otimismo dos amigos, mas o quadro eleitoral brasileiro é muito mais parecido com o francês que com o norte-americano, tanto no que diz respeito à pulverização dos candidatos quanto à expectativa do eleitor face ao poder. É mais provável que Bolsonaro termine essas eleições como Marine Le Pen que como Donald Trump”.

Saberemos a resposta em poucas semanas, mas uma coisa já é fato: há quem esteja fazendo análise independente e apontando os escorregões do “mito”, e há quem esteja apenas torcendo, alguns inclusive de dentro do quadro partidário, sem se dar conta de que essa postura intransigente e fanática tem afastado potenciais eleitores num provável segundo turno com Bolsonaro.

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Esses, que encaram qualquer crítica construtiva como ataque de inimigo, terão que arrumar algum emprego se o destino for Le Pen em vez de Trump. Não terão cargo no governo, e não terão qualquer credibilidade como analistas políticos.

Rodrigo Constantino