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Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal

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Eu tenho alguns artigos em que veementemente critico Bolsonaro e seu time governamental, e  em outros eu os elogio ― um bom tanto desses artigos o próprio Lucas Berlanza comentou no Programa IL Flash. Eu julgo que um bom analista político tem que ter culhão para criticar sim, com agudeza e força; mas também para elogiar com efusão e sinceridade; para suspender julgamentos prévios e profecias andreazzianas; e, é claro: para ser ponderado e desapaixonado, tendo como farol maior a prudência e o trânsito entre acertos e erros nos quais naturalmente os analisados caminharão. Análise política não é a briga de amantes vs haters de políticos e ideologias, mas sim o uso responsável dos vários ramos do conhecimento humano, a fim de elucidar aspectos da coisa social e política ― nacional ou mundial.

Mas há dois tipos de analistas “conservadores” muito interessantes em curso no Brasil, 1- o conservador meretriz: aquele que agrada quem lhe paga, assim como a sua patota amigável dos legalzões, dois grupos dos quais ele recebe afagos intelectuais e louvores nas redes sociais. Tais conservadores criticam tudo que o atual presidente faz independentemente do que faça. O presidente recentemente afirmou que a ANCINE deverá ter um filtro para não desperdiçar dinheiro público em projetos cinematográficos que não são de interesse público. Muitos vigorosos amantes da liberdade vieram do ralo mais próximo para afirmar que não deve existir filtro algum para gastar o dinheiro público… Isto mesmo… Que o Estado “TEM QUE FINANCIAR FILME DE EX-GAROTA DE PROGRAMA COM INCENTIVOS FISCAIS E DINHEIRO PÚBLICO SIM SENHOR”.

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Da mesma maneira há os 2- conservadores bolcheviques, aqueles que, se amanhã Bolsonaro falar que estrume de hipopótamo é bom para saúde, em menos de 2 horas já farão até shake do produto para vender; elaborarão uma explicação convincente para defender o uso do excremento do animal, arrogando que, na verdade, “Bolsopai estava falando das propriedades vitamínicas que há no precioso dejeto, que sua utilização indiscutivelmente trará benefícios infindáveis à nação, tais como o grafeno. Na verdade, vocês que são burros e petistas, não entendem o gênio ímpar do Nosso deus: Bolsocristo”. Ou seja, estes adestram suas consciências, fé e retóricas a fim de sempre abarcar e acariciar toda e qualquer ação de Bolsonaro. Tudo que ele faz já é previamente justificado e defendido; uma espécie de calvinismo bolsonarista: a justificação pela graça de Bolsonaro.

Edmund Burke, em Reflexões sobre a Revolução em França, afirma logo nas primeiras 50 páginas que a análise e a prática política estão no entremeio da Polis. Isto é: que a razão deve ser temperada pelo costume; que o contrato, pela religião; que os vivos, pelos mortos; que os liberais, pelos conservadores. Que a verdade tende sempre à temperança, e não à radicalidade; dizia isso ― naquele tempo ― para confrontar os jacobinos franceses, mas serve para uma infindável paleta de colunistas filósofos, jornalistas e analistas políticos que pululam entre jornais, revistas e blogs brasileiros.

Em suma, Edmund Burke ― pai do conservadorismo moderno e liberal clássico ― afirma que a inteligência de quem julga a política deve estar em saber temperar para não salgar a crítica, e em não achar que o elogio insosso é virtude quando os louros são merecidos. Para um analista conservador, a liberdade de criticar ou elogiar é verdadeiramente elementar, se seu tempero agradará apoiadores ou críticos, isso verdadeiramente não importa.

Se você já olha para o governo pronto para caçar likes lacradores ou afagos da turba da pantufa, se suas reflexões são previamente direcionadas para adornar ou mutilar, e não para apurar e oferecer um real apreço da realidade; então deveria considerar mudar de ocupação. Um analista político, que previamente já escolheu um lado, não é um analista, mas sim uma concubina que escreve; um torcedor que deposita uma fé mais cega do que racional em seu time ideológico ou jogador político preferido.