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Analistas não param de rever para baixo estimativa de crescimento, mas Mantega está satisfeito!
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Economistas de instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central (BC) para o relatório Focus acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 0,79% neste ano, menos do que na projeção anterior, de 0,81%. Esta é a 12ª semana seguida que o mercado diminui sua expectativa com relação à expansão econômica. Para 2015, porém, a estimativa média permaneceu em crescimento de 1,20%.

Estimativa de crescimento do PIB para este ano. Fonte: Bloomberg Estimativa de crescimento do PIB para este ano. Fonte: Bloomberg

As expectativas são declinantes por boa razão: os últimos dados reforçam o pessimismo dos analistas. Com o desempenho oscilante do comércio e com a indústria em retração, a economia brasileira encolheu 1,2% no segundo trimestre deste ano, nos cálculos do Banco Central. O Brasil já flerta com uma recessão, e isso mesmo com uma inflação no topo da elevada meta.

Mas o ministro Guido Mantega, cuja longa permanência no cargo prova o quanto a própria presidente Dilma endossa a atual política econômica, acha que está tudo bem, e ainda aproveita para criticar Armínio Fraga em entrevista recente. Diz nosso sábio economista da linha desenvolvimentista de Campinas:

O Brasil é interessante, está difícil no mundo todo hoje você ter bons investimentos porque o mundo ainda vive o final de uma crise e o Brasil é considerado um lugar privilegiado. Portanto, uma coisa é a opinião, outra coisa é a realidade. Eu prefiro olhar os dados concretos e eu vejo que há interesse. A Bolsa brasileira valorizou mais de 10% no primeiro semestre, tá certo. E uma parte disso é investidor externo que vem aqui para o Brasil.

Mantega só esqueceu de dizer que a alta recente da Bolsa foi justamente porque aumentaram as chances de Dilma perder as eleições em outubro. O Santander chegou a demitir quatro analistas por constatar esse fato, que incomodou a presidente Dilma. Eis a realidade que o PT prefere não enxergar.

Então, se nós pegarmos de 2003 a 2007, nós crescemos em média 4%, o que foi um crescimento muito bom. Se nós pegarmos o último ano do governo Lula, foi umcrescimento de 7%, a economia estava bombando. Então, confiança, etc. Agora, quando nós entramos na crise, e principalmente na segunda fase da crise, que começou na segunda metade de 2011, nós tivemos uma mudança de humores. Porque você vai falar com a população da Itália, da França, etc., está todo mundo.Então, caiu um pouco a confiança porque se refere aos negócios e aí você pega, digamos, o dirigente de plantão, o ministro de plantão, paga o pato. Bom, se você tem uma crise internacional, a culpa é do ministro, a culpa é do presidente? Não é. […] Então veja, de fato, tivemos um cenário ruim para todo mundo, nós tivemos uma perda de confiança na maioria dos países, e o Brasil não foi diferente, mesmo que nós tenhamos tido um desempenho razoável.

Vejam só! Mantega está muito satisfeito com o desempenho medíocre do Brasil. Ele esquece de citar os demais países emergentes que têm crescido bem mais do que o Brasil, com menos inflação. Que crise é essa? Itália? França? É sério que Mantega vai nos comparar justo com quem está no epicentro da crise, e não com quem está aproveitando a reação de estímulos desses países desenvolvidos para surfar uma onda de crescimento? É análogo ao atleta olímpico que fica em décimo na sua categoria, mas vibra pois está melhor do que os paraolímpicos!

No segundo trimestre nós tivemos a Copa do Mundo que nos tirou vários dias úteis. Ela foi um sucesso do ponto de vista de organização, porém do ponto de vista da produção e do comércio ela prejudicou porque nós tivemos dias úteis, muito poucos dias úteis. Combinou com um período de muito feriado, então a produção caiu, a produção industrial caiu e o comércio cresceu pouco, cresceu, mas cresceu pouco, e os serviços não sabemos porque você teve a Copa, alguns serviços aumentaram e outros diminuíram. Então, de fato, não foi um bom resultado.

Sempre buscando responsáveis pelo fracasso do lado de fora, nas nuvens, nos astros, nas estrelas, nos demais países. Ao menos, como já comentei aqui, Mantega reconhece que a Copa foi prejudicial ao Brasil do ponto de vista econômico. O que Dilma tem a dizer sobre isso?

Só estou dizendo o seguinte, o que eu posso afirmar é que no segundo semestre vamos ter um crescimento maior que no primeiro semestre. E eu estou dando dados aqui de julho, agosto continua esta trajetória que aqui está. Então, eu diria o seguinte, vai haver uma melhoria, mas será um ano ainda de transição.

E eu acredito em Papai Noel e no Saci Pererê! Mantega é aquele que consegue errar previsões por três pontos percentuais inteiros! Ou seja, ele acha que a economia vai crescer 4,5% no ano, ela cresce 1,5% e olhe lá. Dessa vez o Brasil caminha para uma recessão, mas Mantega acha que tudo vai melhorar em breve. Por quê? Ninguém sabe. Deus é brasileiro, talvez? E petista ainda por cima, só se for!

Não. Não houve represamento. Não houve represento [de preços administrados].

Melhor nem comentar!

Armínio Fraga está enganado então?
Redondamente enganado.

Nesse caso do câmbio. O câmbio está apropriado para a economia brasileira no atual nível?
O câmbio está apropriado, mesmo porque não é que você fabrica um câmbio. Esse câmbio é o resultado de variáveis é o resultado da situação do…

*Mas o governo é o ator mais relevante ai nessa variável.
Não é só o Armínio não, o FMI também, o Fundo Monetário Internacional, avaliou que a gente está com a taxa de câmbio um pouco fora do ponto.*

De 2006 até esta data, o que nós fizemos? Nós aumentamos a compra de reservas. A compra de reservas, entre outras coisas, ela serve para não permitir a valorização do real, porque eu me lembro, quando eu entrei no Ministério, em 2006, já havia uma pressão para valorizar o real.

Nem uma palavra sobre os cerca de US$ 100 bilhões em swaps cambiais para conter o dólar e evitar uma desvalorização nos últimos meses?

Pois é. Há quem goste da gestão de Mantega, e a prefira em relação a um Armínio Fraga, por exemplo. Fazer o quê? Tem gente que prefere morar na favela em vez do Leblon, ou ao menos é o que Regina Casé quer que acreditemos. Há quem prefira comer insetos a comer um suculento bife com fritas. Preferências subjetivas.

O que podemos fazer se tem gente que parece gostar de estagflação em vez de crescimento com baixa inflação? O que fazer se a maioria achar que Mantega é mesmo melhor do que Armínio Fraga? Só nos resta, se for esse mesmo o caso, observar a desgraça geral da nação, uma escolha popular, uma tragédia auto-imposta. Espero que o povo brasileiro tenha mais juízo…

Rodrigo Constantino

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