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As "balas perdidas" encontram mais de uma vítima por dia no Rio: o que será da "cidade maravilhosa"?
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Uma menina de 12 anos foi vítima de uma bala perdida na madrugada desta segunda-feira no Rio de Janeiro – o 12º caso do tipo em menos de dez dias. A criança foi baleada em frente à casa em que mora, no Morro do Chapadão, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio. 

Segundo testemunhas, criminosos de quadrilhas rivais trocavam tiros quando a menina, que estava na rua Javatá, foi atingida. Ela é a 12ª pessoa atingida por bala perdida na Região Metropolitana do Rio de Janeiro desde sábado, 17. Dez casos ocorreram na capital, um em Niterói e outro em São Gonçalo. Quatro vítimas morreram.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), em 2013 (os números do ano passado ainda não foram divulgados), 120 pessoas foram vítimas de bala perdida. Destas, nove morreram. Em 2011, 88 foram atingidas por tiros e sete mortes foram registradas.

O carioca está acostumado a conviver com o risco constante da violência, incluindo as tais “balas perdidas”. Diria que está acostumado até demais. Tornou-se parte de nossa rotina, e tal qual um sapo escaldado, passamos a considerar normal esse tipo de coisa e adaptar nosso cotidiano de acordo com essa triste realidade, que chocaria qualquer cidadão de um país desenvolvido.

Houve uma mudança, é verdade, na postura do governo nos últimos anos. Ela tem nome e sobrenome: José Mariano Beltrame. As UPPs foram um primeiro passo importante para vencer o crime na cidade, e à exceção de uma esquerda radical, todos defendem a iniciativa, com ressalvas. Fala-se muito no aspecto social que faltaria, mas a verdade é que falta também maior punição e mais prisões.

O que se observa é que estamos muito longe de uma cidade “pacificada”, e que não basta colocar a polícia dentro das comunidades mais pobres, dominadas pelo tráfico de drogas ou milícias. Durante décadas tivemos “intelectuais” subvertendo nossos valores, afirmando que os bandidos eram as “vitimas da sociedade”, e alguns chegando ao absurdo de colocar a culpa nas vítimas verdadeiras, pois não deveriam “ostentar” em uma cidade tão desigual.

A impunidade foi sempre o maior convite ao crime. E muitos cariocas, desesperados e influenciados por tais “intelectuais”, passaram a acreditar em “milagres”, em “soluções” que atacavam apenas os sintomas, como o desarmamento. Como se esses bandidos fossem entregar suas armas e respeitar as leis!

Além da política desarmamentista, adotamos uma cultura acovardada que enaltece a “não-reação”, ou seja, as autoridades incentivam os cidadãos a jamais tentar reagir a um assalto. Não é algo exclusivo do Rio, mas de todo o país. Tal passividade, somada ao fato de que o cidadão ordeiro não pode ter arma para se defender, fez com que os bandidos ficassem cada vez mais ousados.

O resultado disso pode ser observado nesse episódio vergonhoso, em que bandidos roubaram um ônibus repleto de militares. Os três criminosos que invadiram um ônibus no Paraná não se deram conta que estavam rendendo e assaltando 42 soldados do Exército que combatem o tráfico de drogas no Rio, afirmou o general Flávio Lancia, comandante da Artilharia Divisionária da 5ª Divisionária. Ele elogiou os militares por não terem reagido!

Outro caso chama a atenção para o clima em que vivemos: um policial à paisana conversava com um amigo no posto de gasolina em São Paulo quando foram surpreendidos por um assaltante, que apontou a arma para a cabeça do frentista. Assim que houve a oportunidade, o policial sacou sua arma e disparou. A polícia disse que precisaria abrir inquérito para verificar se ele agiu de forma correta. Como assim? O correto talvez fosse não reagir, não fazer nada?

A verdade é que estamos paralisados diante dos criminosos. No Rio é ainda pior, pois aqui o domínio deles é escancarado em certas áreas. Sem uma política de confronto direto nada será resolvido. E para piorar o quadro, temos um governo de estado praticamente quebrado, tendo de apertar os cintos e reduzir gastos em bilhões de reais. O preço do petróleo, que caiu pela metade nos últimos meses, joga mais lenha na fogueira, acendida pela irresponsabilidade perdulária dos últimos anos.

O que vai ser da nossa “cidade maravilhosa”? Os cidadãos de bem, trabalhadores, que pagam pesados impostos, estão com medo de sair de casa. Até para ir à praia, programa típico do carioca nesse verão escaldante, o receio de sofrer um arrastão é constante. Tememos também por uma “bala perdida” que venha de encontro à nossa cabeça, do nada.

Foram décadas de lavagem cerebral, de relativismo ético e moral, de inversão de valores, e de blindagem dos bandidos, de impunidade, de negligência. Os cariocas terão de enfrentar em algum momento a situação. Ou isso, ou a vida eternamente apavorada, em que somos prisioneiros em nossa suposta liberdade, sem poder exercer o direito de ir e vir com tranquilidade, ou seja, sem o básico do básico.

Complicado será fazer isso em um ambiente intelectual que ainda trata marginal como “vítima”, e com um governo em sérias dificuldades financeiras. Pergunto novamente: o que será da nossa “cidade maravilhosa”?

Rodrigo Constantino

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