Por Roberto Rachewsky, publicado pelo Instituto Liberal
Com a atual crise aguda que vivemos no Brasil, ao mesmo tempo tão profunda e tão abrangente, não temos muito tempo para desperdiçar em conjecturas ou suposições. É preciso que sejamos objetivos, claros e diretos, tanto na identificação e análise das causas dos nossos problemas, quanto na proposição de soluções, sob pena de perecermos dada a sua gravidade.
Fica ainda mais evidente a nossa situação de penúria, se compararmos nosso desempenho em diversas áreas da atividade humana com o resto do mundo, onde a maioria dos países vem apresentando níveis de desenvolvimento apreciáveis. A dificuldade que vivemos no Brasil decorre da falência absoluta de um modelo de sociedade fundamentado no protagonismo do estado como agente promotor dos interesses individuais e do desenvolvimento social. Não há atividade humana no Brasil que não sofra com a ação direta do governo. Este Estado, abrutalhado, hipertrofiado e opressor, que sustenta-se através da violência contra aqueles a quem deveria servir, esgotou-se.
Aquela parte da sociedade que majoritariamente demanda que haja um estado onipotente e onipresente, que será habitado por aqueles que se acham capazes de oferecer o que é demandado pela população, não importando o “o quê”, o “quanto” e o “como”, precisa conscientizar-se da realidade. Tal onipotência e onipresença fazem com que a sociedade esteja submetida incondicionalmente à máquina estatal e às ideias daqueles que comandam o seu funcionamento, essa famigerada elite pseudointelectual que condiciona o pensamento dominante.
Não há como fazer com que uma estrutura do tamanho do estado brasileiro, com suas ramificações estaduais, municipais e para-governamentais funcione para o bem; e não há como evitar as consequências nefastas, quando ela funciona deliberadamente para o mal, que é o que tem acontecido no Brasil mais recentemente.
O Brasil atravessou mais de cinco séculos dominado por ideias erradas. Somos um povo eminentemente catequizado para desenvolvermos uma mentalidade coletivista e avessa ao uso da razão. Nossa formação foi feita por uma sucessão de escolas distintas, o catolicismo, o positivismo e o marxismo, que têm em comum a compreensão de que a consciência determina a realidade e que nada é mais ético do que o auto-sacrifício em nome do bem comum. Religião, racionalismo cartesiano e materialismo dialético podem levar uma nação à desintegração.
A crise aguda que experimentamos é apenas uma manifestação acentuada de uma crise crônica duradoura, existencial e filosófica, por conta de uma concepção de mundo equivocada, que tem uma imagem triste e desconfiada do ser humano, do conhecimento, da inovação e de tudo aquilo que a mente humana pode proporcionar de bem estar material, intelectual e espiritual para o indivíduo.
Nos últimos treze anos em que fomos governados pela esquerda sindical, podemos perceber que não é que eles não tenham consciência; eles têm. O problema é que a consciência do pessoal de esquerda é um circuito fechado, uma cápsula incomunicável com a realidade.
Esquerdistas distorcem, filtram e pervertem a realidade. A partir daí, raciocinam e agem causando todo tipo de catástrofes. Esquerdistas, portanto, precisam se apegar a dogmas porque não conseguem perceber os axiomas mais básicos. Não têm no que se fundamentar, a não ser em suposições e deduções concebidas hermeticamente, com base no nada, no vazio de suas mentes. A existência para o esquerdista é uma questão de ponto de vista. A lei da identidade, A = A, para um esquerdista é uma fórmula improvável. A consciência para um esquerdista é que define o mundo a sua volta.
Quando os esquerdistas negam os fracassos da sua ideologia, não é que eles não tenham memória ou que ela seria seletiva. É que eles não têm o que memorizar. A informação percebida por um esquerdista é um espasmo mental, não é o que acontece no mundo real, não é a verdade concreta, objetiva, porque essa não permeia seu aparato sensorial. A idealização do esquerdista é puramente utópica, ficcional. A mente de um esquerdista é como a caverna de Platão, uma projeção sombria do que ocorre no mundo, jamais a realidade nua, crua e dura como aquilo que o socialismo produziu.
A irracionalidade é isso, é a incapacidade do indivíduo para compreender que é preciso pensar, que a realidade é sua principal fonte de conhecimento e que a lógica serve para corroborar aquilo que percebemos, identificamos, conceituamos e integramos na forma de ideias. A racionalidade permite ao ser humano entender que precisamos pensar com independência e objetividade para mantermos a sua própria existência. Se a razão é a resposta epistemológica às nossas demandas existenciais, o autointeresse racional é a resposta ética a essas mesmas questões.
A razão e a ética permitem que compreendamos que a nossa vida e daqueles que amamos é o padrão de valor maior que podemos ambicionar. Sendo a nossa vida e a de quem amamos o maior valor que há, é compreensível que exaltar o autointeresse racional é promover a nossa própria existência. E se queremos garantir nosso direito à vida, precisamos usufruir do nosso direito à liberdade para podermos colocar em prática nossas ideias como bem entendemos, para podermos usufruir de tudo aquilo que pudermos construir como nossa propriedade, almejando satisfazer nossos propósitos de vida, por nós definidos como sendo o nosso caminho na busca da felicidade. Jamais poderemos defender estes direitos para nós, se não reconhecermos que os outros também são possuidores desses mesmos direitos. Também como nós, de forma inalienável.
Se quisermos reverter a trágica trajetória que temos percorrido como nação, para tentarmos construir uma sociedade civilizada baseada em direitos individuais em vez de privilégios coletivos, obtidos através da violência do estado, precisamos urgentemente reformular a matriz filosófica sobre a qual erigimos nossa comunidade, inaugurando um novo tempo, onde a racionalidade e o autointeresse predominem, emancipando o indivíduo para torná-lo efetivamente um cidadão livre, para que possa atuar como seu próprio representante no contexto social, a fim de garantir que ele seja o que deveria ser, um fim em si mesmo e não um instrumento para a simples satisfação dos demais.
Todas as crises que temos vivido, sejam elas crônicas ou agudas, têm uma origem principal, a aceitação complacente dos brasileiros de viver em uma sociedade governada por imorais irracionais.
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