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Atacar ministro por aquilo que seu pai fez é injustiça: não herdamos os pecados dos outros
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A Folha de SP, em sua cruzada contra o governo Bolsonaro, em especial contra a ala conservadora, publicou uma reportagem sobre o pai do ministro Ernesto Araújo, que teria dificultado a extradição de um nazista. Segue um trecho:

Em 1978, durante o regime militar, o então procurador-geral da República, Henrique Fonseca de Araújo, dificultou a extradição de um nazista responsabilizado por 250 mil mortes entre 1942 e 1943.

Escolhido para o cargo pelo presidente Ernesto Geisel, ele deu pareceres negativos à extradição de Gustav Franz Wagner. O procurador, morto em 1996, é pai do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújoescolhido pelo presidente, Jair Bolsonaro(PSL).

Folha tentou inúmeros contatos com o chanceler, que informou nesta segunda-feira (11) que iria se pronunciar posteriormente, por escrito.

Wagner era o subcomandante do campo de concentração de Sobibor, na Polônia ocupada pelos nazistas. O cheiro nauseante dos corpos de judeus incinerados era a primeira impressão dos prisioneiros que chegavam ao lugar.

[…]

Diversos países pediram ao Brasil a extradição do nazista. O pai de Ernesto Araújo analisou quatro pedidos: da Polônia, onde estava o campo de Sobibor; da Áustria, país natal de Wagner; da Alemanha, berço do nazismo; e de Israel, Estado do povo judeu, as principais vítimas do Holocausto.

No parecer de outubro de 1978, Henrique Araújo disse que Israel “não tinha competência” para pedir a extradição de Wagner porque “não era um Estado” na época dos crimes —Israel foi criado em 1948.

Ele também recomendou indeferir a extradição para Áustria e Polônia porque a lei brasileira entendia que os crimes de Wagner estavam prescritos.

Ainda que a decisão do pai de Araújo tenha sido terrível, igualmente terrível é tentar imputar responsabilidade ao filho por aquilo feito pelo pai décadas antes. Filhos não podem herdar dívidas dos pais: o montante devido vai somente até o limite dos ativos. É assim para questões monetárias, e também para questões morais.

Por isso liberais focam mais em indivíduos, enquanto esquerdistas preferem adotar visão coletivista e identitária. Para os “progressistas”, por exemplo, basta o sujeito ser branco e ocidental para ser culpado pela escravidão e dever “reparações”, ainda que o indivíduo em questão seja um branco com origem pobre e difícil, que nunca teve parentes com escravos na vida.

Leandro Ruschel comentou: “Folha de São Paulo sendo canalha mais uma vez, utilizando o conceito de culpa por parentesco, prática usual dos comunistas. O alvo é o Ministro das Relações Exteriores. Implicitamente o acusam de nazista, pelo seu pai ter dado parecer contrário à extradição de um nazista em 78”.

Carlos Andreazza também condenou essa postura: “A história é terrível; mas, por favor, Ernesto Araújo nada tem a ver com isto. Ninguém pode ser responsabilizado nem cobrado por atos de antepassados. Não confundamos as coisas”.

É essa desonestidade da mídia que gera sua acelerada perda de credibilidade. E pensar que há reais motivos para se criticar o ministro, como a sua própria inclinação petista no passado, ou seu exagero ao elogiar o “guru”, talvez numa bajulação excessiva que mais parece um preço pago pelo cargo que hoje ocupa:

Renan Santos, do MBL, ironizou: “De acordo com ele, Olavo também desembarcou aqui com as caravelas em 1500. Esse papo é igual o dos lulistas”. Que o ministro Ernesto Araújo seja criticado por seu próprio passado petista, ou por seu presente olavista fanático, ou por seus erros como chanceler, sua inexperiência, sua visão de cruzada sob influência do maluco Steve Bannon, mas não por aquilo que seu pai fez ou deixou de fazer.

Rodrigo Constantino

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