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Atraso no Fies bate recorde e expõe alto custo da demagogia
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“Esse encantamento democrático pode ser usado por vocês, meus odiosos diabinhos, para impedir a educação. A educação é antidemocrática porque é criadora de diferenças. A escola não pode ensinar porque, se ensinar, estará gerando no aluno uma qualificação – um habitus – que outro não tem. A educação é elitizadora, portanto, é antidemocrática. A escola qualificada passa a ser uma agenda de discriminação. A escola, portanto, não deve ensinar, para não gerar diferenças. A democratização do ensino é tornar as escolas igualizadoras, que promovam a socialização e não ensinem.” – Dom Lourenço de Almeida Prado, reitor do Colégio São Bento

O ensino deve ser “democrático”. Todos devem estudar até a universidade. São bandeiras lindas, com forte apelo emocional. Quem pode ser contra um objetivo tão nobre? Só há um problema: ensino universitário é elitista por natureza, e nem todos devem passar por ele. Para muitos sequer compensa: melhor seria um curso técnico especializante, para aumentar a produtividade no mercado de trabalho.

Mas a demagogia sempre fala mais alto, especialmente em governos de esquerda. E eis que o PT ajudou, então, a criar uma bolha de crédito no setor universitário. Foi a farra das empresas privadas durante um bom tempo, várias lançando ações na Bolsa e festejando. Quanto mais gente na universidade, melhor. Nem importa tanto a qualidade do ensino, se esses alunos saem delas mais produtivos de fato, ou se terão condições de pagar a dívida. E eis o que temos agora como resultado:

Foram cinco semestres estudando Engenharia de Produção na Universidade Moacyr Bastos, na zona oeste do Rio, até que uma gravidez de alto risco interrompesse o sonho da graduação da carioca Tatiane Oliveira, de 30 anos.

Daquele período, acumulou muitas horas-aula e uma dívida de R$ 50 mil com a Caixa Econômica Federal (CEF) ao usar o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para bancar o curso. Além de não se formar, Tatiane luta há dois anos para quitar o débito que se avoluma.

— Foi a única oportunidade que tive para estudar, não havia outra maneira. Agora, ou bem tento resolver essa conta parcelando tudo por 15 anos ou recomeço a faculdade — desabafa.

Tatiane não está sozinha. De acordo com dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), 59% dos 899.957 contratos em fase de consignação estavam com pelo menos um dia de atraso no pagamento em janeiro.

Isso significa que 3 em cada 5 estudantes que usaram o Fies para pagar a faculdade estão inadimplentes. A grande maioria (45%), por mais de 90 dias. A dívida acumulada por esses acordos já ultrapassa R$ 13 bilhões, um recorde na história do fundo, que está completando 20 anos de existência.

[…]

Dados do FNDE permitem traçar um perfil do inadimplente, e a maioria deles é como Tatiane: mulher, jovem, no início do financiamento e com renda familiar de no máximo 1,5 salário mínimo.

De acordo com o órgão, metade dos estudantes endividados possuía até 24 anos no início da faculdade. 60% deles são do sexo feminino, 79% têm renda de até 1,5 salário mínimo e 89% se declararam branco ou pardo na hora da matrícula.

Tatiane, ao menos, foi estudar Engenharia. Mas o que dizer de tantos que vão para a área de humanas, aprender a “lacrar” nas redes sociais? Qual o real benefício para o país quando alguém vai se aprofundar em estudos lésbicos africanos? Que tipo de produção agrega quem se torna mestre em feminismo? Qual valor é legado à sociedade com uma tese de doutorado sobre o funk?

Governos populistas estimulam o crescimento da população universitária como um fim em si mesmo, sendo que não deveria ser. Da mesma forma podemos pensar na casa própria, o sonho de muitos. Quem disse que todos devem morar numa casa própria, porém? Por vários anos vivi de aluguel. Qual o problema?

Mas demagogos gostam de fomentar bolhas de crédito em nome dessas causas “populares”, e daí surgiu, por exemplo, a crise do subprime aqui nos Estados Unidos. Era o governo estimulando quem não tinha condições a comprar uma casa financiada, bolha que estourou em 2008. A esquerda hipócrita culpou o mercado, mas foi a Casa Branca democrata a responsável.

Também há uma bolha nos “student loans” americanos, e pelo mesmo motivo: acharam que era “democrático” estimular dívidas crescentes para que alunos fossem para as universidades aprender sobre as “maravilhas” do socialismo, virarem eleitores de Bernie Sanders, e se tornarem especialistas em estudos sobre as “minorias”. A conta não fecha. Não há trabalho para essa gente. Não há demanda no mercado.

E um dia a casa cai. É o custo inevitável da demagogia.

Rodrigo Constantino

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