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A bola está quicando para a direita moderada: quem vai chutá-la?
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Eis um resumo super resumido da situação: a política nacional é hegemonia de esquerda faz tempo, na cultura é ainda pior, e o fracasso foi retumbante. A população está indignada, saturada, e não aguenta mais ver tanta falta de sintonia entre a classe política e ela. A agenda “progressista” não é a sua: aborto, drogas, identidade de gênero, o povo não quer saber disso, mas de segurança, segurança e segurança, além de emprego.

É nesse cenário que surge uma oportunidade de ouro para a direita moderada. Venho batendo nessa tecla faz tempo. Órfã de representantes, cansada da empulhação tucana, essa multidão olha para Bolsonaro e o enxerga como a única voz que fala a sua língua. Por isso gravei um vídeo dizendo que a esquerda caviar pariu Bolsonaro. Esse foi o tema da excelente coluna de Carlos Andreazza hoje no GLOBO. Eis alguns trechos:

O Brasil bem-pensante ainda não atentou para Bolsonaro; mas ele é uma resposta genuinamente brasileira — produto de uma população difusamente conservadora, imposta, porém, a uma agenda progressista que nem raramente abarca as reais preocupações daqueles a quem propagandeia defender.

[…]

Direitista solitário na corrida, e ainda que deliberadamente afastado do centro, Bolsonaro é o maior favorecido pela inexistência de representação conservadora moderada no Brasil.

Ele está em campanha e, sem rivais, avança para consolidar seu alcance sobre as direitas. (Ou será apenas a esquerda a ter esquerdas?) Sem que haja ainda quem batalhe pelo latifúndio eleitoral que cultiva sem precisar de cercas, Bolsonaro seria hoje receptáculo quase exclusivo dos milhões de votos antipetistas; logo, polarizando, com reais chances de chegar ao segundo turno contra Lula.

Em política, não existe vácuo — não um que espere pela maturidade do PSDB. Assim, alguns espaços que — quase por inércia — sempre foram do partido, mas que estão negligenciados pela inação tucana, vão ora ocupados, talvez ainda provisoriamente, pelo movimento do novo ator em que Bolsonaro consiste. Sem adversários à direita, ele se alastra e se apropria. A política também tem sua modalidade de usucapião.

Claro que o autor será alvo de novos ataques dos seguidores mais fanáticos de Bolsonaro, mas repare que suas críticas aos tucanos são ainda mais duras. Nesse trecho, por exemplo, o desprezo pela covardia, pela falta de visão, pelo oportunismo e pela incapacidade de assumir seu papel num momento histórico tão delicado são apontados por Andreazza como defeitos inaceitáveis do PSDB, que não conseguiu sequer renovar suas lideranças e depende de FHC como porta-voz:

Bolsonaro fala diretamente a esse indivíduo — e prospera. Os tucanos mal falam entre si — e se atrasam em erros sucessivos. Nada mais precisaria ser escrito a respeito se considerarmos que a guerra no PSDB pela candidatura presidencial provavelmente se estenderá até a data última das convenções partidárias em 2018. No curso desses longos meses de fratricídio, também é provável que o partido, enchendo novamente o tanque petista, continue a assumir erros e a se desculpar em rede nacional, e que o faça — a pouco mais de um ano das eleições — sem mostrar outra liderança que não a de um senhor de idade como FHC. Nesse período, é certo que o PSDB permanecerá no governo Temer dessa forma frouxa, covarde, que não cerra fileiras com o presidente, a quem critica em horário nobre, mas em cuja administração mantém ministérios — o que é a própria definição da falta de caráter, daí porque também firme opção pela irrelevância no debate público.

A angústia de Andreazza é a de milhões de brasileiros, gente saturada da pusilanimidade e mesmo do “progressismo” dos tucanos, e ao mesmo tempo receoso da figura de Bolsonaro, longe de ser um liberal, ou mesmo um legítimo conservador. Em minha coluna da IstoÉ em março, fiz um desabafo parecido, questionando quem iria representar os liberais, ou, se preferir, a tal direita moderada:

Do lado esquerdo mais moderado, temos o PSDB, que vive uma briga interna. Seus caciques representam a socialdemocracia europeia, ou seja, ainda estão muito longe do liberalismo. Serra já se disse mais à esquerda do que o PT, Alckmin cedeu quando “acusado” de privatista, e Aécio Neves não soube honrar seu papel de líder da oposição ao PT com seus mais de 50 milhões de votos.

Os tucanos adotam postura um tanto pusilânime quando é para enfrentar os socialistas, seus “primos radicais”. A exceção é o prefeito paulista. João Doria tem surpreendido pelas respostas afiadas e sem medo da patrulha politicamente correta, além de defender abertamente o programa de privatizações. Ou seja, até poderia ser o nome a representar os liberais, mas estando no PSDB levanta a suspeita de muitos.

Do lado mais à direita temos Jair Bolsonaro, um nacionalista que combate com firmeza a esquerda, mas que ainda precisaria evoluir muito, especialmente na área econômica, para agradar os liberais. Seu discurso sobre o nióbio comprova isso.

Como fica claro, os liberais seguem sem um representante adequado para 2018.

Enfim, seguimos na busca, e dependendo das alternativas, teremos de escolher ou um social-democrata sem muita firmeza na defesa dos valores morais conservadores, ou um direitista mais militar e nacionalista, sem muita firmeza nos valores econômicos liberais. Estaremos entre a foice e a espada!

Rodrigo Constantino

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