• Carregando...
Bolsonaro quer “arejar” Polícia Federal, mas pode asfixiar sua independência
| Foto:

O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar de mudanças no comando da Polícia Federal (PF). Em entrevista exclusiva à Folha de S.Paulo, o presidente disse que é preciso renovar. “Essa turma [que dirige a PF] está lá há muito tempo, tem que dar uma arejada”, disse ao jornal.

Bolsonaro ainda classificou de “babaquice” a reação de integrantes da corporação às declarações sobre trocas nas superintendências e na diretoria-geral, e afirmou que já teve uma conversa com o ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre uma possível mudança no comando da PF. “[Moro] pode trocar quando quiser o diretor-geral Maurício Valeixo, mais difícil é trocar de esposa”. Ao falar sobre a troca, Bolsonaro citou a demissão de Santos Cruz da Secretaria de Governo, com quem tinha amizade há 40 anos, disse.

O presidente está constrangendo publicamente seu ministro para que demita o diretor-geral da PF, o que é uma ingerência absurda. Moro confia em Valeixo, e Bolsonaro deveria confiar em Moro. Ele já chegou a dizer que seria um “banana” se não mandasse, sendo que para isso existem camadas de poder. Ele deveria delegar ao seu ministro tal decisão. Intervir desse jeito é que parece coisa de republiqueta das bananas.

O que mais incomoda nisso tudo é que Bolsonaro não apresenta um único argumento concreto para suas intenções de mexer nos cargos, não há uma explicação plausível. O tempo não é prova de nada, e ele, que ficou por sete mandatos no Congresso, deveria saber. Dar uma “arejada” por dar não faz o menor sentido. O time está ganhando ou não? A Receita e a Polícia Federal estão fazendo um bom trabalho ou não? Estão cumprindo sua missão ou não?

São essas questões que Bolsonaro precisa responder para decidir trocar comandos. Se os atuais chefes são incompetentes, ou se o “deep state” atua para boicotar o presidente, então ele precisa fornecer ao menos evidências que sustentem acusação tão grave. Caso contrário, sem qualquer prova, fica apenas parecendo se tratar de retaliação ou blindagem do filho senador mesmo.

As suspeitas só aumentam com a postura estranha do presidente. A tal “arejada” pode significar, na prática, asfixiar a independência desses órgãos de estado, e isso é inaceitável. Esse caso foi comentado hoje por mim no Jornal da Manhã:

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]