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Bolsonaro x Carluxo: existe ou não centro-direita, afinal?
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O presidente Jair Bolsonaro, ao lado de Sebastian Pinera, presidente chileno, atacou Macron como alguém de esquerda (fato), alegando que por isso ele tem mais credibilidade, enquanto se disse de centro-direita. Bolsonaro estava ao lado de um político de centro-direita, de fato. Mas ele como centro-direita? Vejam:

A declaração bate de frente com uma constatação feita por seu próprio filho antes. Carlos Bolsonaro, ou Carluxo como ficou conhecido por aí, acredita que o termo centro-direita, assim como o termo centro-esquerda, foi inventado para confundir, pois em sua visão binária existe apenas esquerda ou direita, sem gradações, sem nuances, sem região cinza. Eis sua postagem do final de 2017:

Será que o vereador mudou de opinião? O fato é que essa declaração é uma bobagem. A estratégia sempre foi chamar centro-esquerda de direita, para efetivamente jogar todos aqueles mais conservadores para a extrema-direita. Mas claro que existe centro com inclinações mais à esquerda ou mais à direita.

Aliás, a filosofia política é complexa demais para enquadrar as opções de forma tão binária, como fez Carlos. Essa visão é típica do seu tribalismo. E o bolsonarismo ainda tenta monopolizar a representação da direita na política, o que é absurdo. É por isso que basta criticar o governo de Bolsonaro em algum ponto para virar “esquerdista” na ótica distorcida dos bolsonaristas.

No fundo, Carlos queria suavizar a imagem que o bolsonarismo tem, e que não é exatamente sequer de direita, mas um nacional-populismo com viés autoritário. E a estratégia de Jair Bolsonaro hoje parece seguir na mesma linha. O presidente deve ter percebido que os arroubos mais exagerados de sua militância e dele mesmo cobram um alto preço em popularidade.

De olho nisso, há uma demanda reprimida por moderação, como expliquei em texto em que analiso a estratégia visível de João Doria para 2022. O governador de São Paulo quer aproveitar as coisas boas do atual governo, em especial na economia com as reformas liberalizantes, mas isolar Bolsonaro num gueto mais extremista.

Percebendo isso, e tentando reagir, Bolsonaro se declara centro-direita, para não deixar o espaço vazio, já que em política o vácuo é logo ocupado. O problema é que não convence. E não só pelo conteúdo, já que várias bandeiras do presidente, em especial aquelas da ala olavista, afastam-se de qualquer coisa que possa ser chamada de centro; mas também pela forma.

A moderação, definitivamente, não faz parte das qualidades do presidente. Seu estilo pode ter sido útil para vencer a eleição plebiscitária contra o lulismo, e pode ser útil até para certas medidas de governo, como a limpeza da patota esquerdista incrustada no estado. Mas não agrega, não dialoga com adversários ideológicos, não contemporiza. É a tática do combate, do confronto permanente, do tribalismo do tudo ou nada, “nós contra eles”, tão bem expressa na fala do Carlos.

Boa sorte a Bolsonaro ao tentar se vender como alguém de centro-direita. Terá de mudar de postura também, pois só no gogó, repetindo o rótulo, não vai convencer ninguém. Nem mesmo o próprio filho…

Rodrigo Constantino

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