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Brasil ainda tem caráter insular e precisa se abrir para o mundo
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Acabou a Olimpíada, e o brasileiro está orgulhoso de ter dado tudo certo e ter feito uma festa animada, que mostrou ao mundo nosso lado caloroso e acolhedor. Mas ainda somos um país fechado, eis o triste fato. É o que o professor Felipe Monteiro, da INSEAD Business School, afirma em entrevista ao GLOBO:

Eu estudo inovação. E quando você pensa em inovação, descobre que o Brasil é uma ilha, por mais contraintuitivo que pareça. Quando você olha os padrões de como o país está conectado, em termos de inovação e internacionalização, o brasileiro ainda tem um caráter muito insular. É curioso constatar isso quando olhamos para um país desse tamanho, mas é a verdade.

[…]

Você pode pensar de duas maneiras: como pode conectar o cérebro que fugiu? Uma maneira é mantê-lo ligado às empresas locais. A outra , que vemos na China e na Índia, é mandar ao exterior esses cérebros, mas oferecer condições atrativas para eles voltarem. Para o Brasil, o primeiro passo é realmente se abrir para o mundo, ainda que os cérebros estejam lá fora, mas mantendo contato com eles. A segunda questão é criar essas condições. Em comparação a Índia e China, ainda temos muito o que fazer.

[…]

O Brasil não tem animosidade com o que é externo. O país recebe bem. O que falta é uma ambição externa, de se mostrar mais para o mundo, mas não somos um país xenófobo, ultranacionalista, e, sim, acuado em ambições internacionais.

Pois é. Não parece ser um caso de xenofobia ou ultranacionalismo, mas somos fechados. Talvez seja falta de ambição mesmo. Talvez seja insegurança, baixa autoestima. Ou talvez seja um forte lobby de grupos de interesses que se alimenta de uma cultura insular, que desconfia do “gringo” quando o assunto é negócio, que desconfia do próprio capitalismo globalizante.

Senão, como explicar o setor aéreo ainda fechado para estrangeiros, com o caso da Azul sendo fruto do acaso, de seu fundador americano ter nascido no Brasil por acidente? Como explicar que o presidente interino Michel Temer não tenha conseguido ir adiante com a mudança na lei que abriria o setor para os estrangeiros?

Há também o caso do agronegócio. Nossas terras não podem ser compradas por estrangeiros, e Temer quer mudar isso. Mas encontra forte resistência. Novamente, dos grupos de interesses alimentados pela ideologia nacionalista de esquerda. Foi o tema da coluna de Denis Rosenfield hoje no GLOBO:

Dentre os inúmeros anacronismos legados pela herança petista, um deles é ilustrativo por exemplificar os preconceitos que se tornaram correntes contra o capital em geral e, em particular, contra o estrangeiro. Nada aqui é ocasional, pois o peso ideológico terminou se traduzindo por limitações severas ao investimento estrangeiro na aquisição de terras no país.

[…]

Chega a ser inacreditável que um grupo que se caracteriza pelo desrespeito ao estado democrático de direito seja alçado à posição de interlocutor privilegiado de toda uma legislação infraconstitucional. Um autointitulado movimento social, que emprega sistematicamente a violência na invasão de propriedades privadas e órgãos públicos, torna-se artífice da elaboração de pareceres. Há algo de muito errado aqui!

[…]

O mundo globalizado já não mais comporta entidades autárquicas, isoladas do mundo, salvo se o objetivo for a miséria e a pobreza. As cadeias produtivas são internacionais, assim como o conhecimento científico e o desenvolvimento tecnológico.

Assinale-se, a respeito, que o Brasil é um país de ponta nestes setores. O que o MST e movimentos afins temem é a ciência e a tecnologia, pois, para eles, o país deveria regressar a uma etapa camponesa e pré-capitalista, identificada, sabe-se lá por qual motivo, a uma forma de socialismo. Deveriam se transferir para a Venezuela, Cuba ou Coreia do Norte, sem direito de retorno. Dariam uma enorme contribuição para o progresso do país.

Não há explicações razoáveis para manter essas barreiras aos estrangeiros nesse importante setor. O agronegócio, vale notar, é a locomotiva de nossa economia há anos, e não apenas pela alta no preço das commodities ou pela elevada demanda chinesa, mas também pelo ganho de produtividade acima da média nacional. Foi tema da coluna de Marcos Lisboa na Folha recentemente:

A agricultura apresentou um notável desempenho nas últimas quatro décadas, crescendo, em média, 3,7% ao ano. Esse resultado contrasta com o baixo crescimento recente da indústria, apesar da retomada, nos últimos anos, de diversas medidas protecionistas defendidas pelo setor, que haviam sido reduzidas na década de 1990.

Enquanto a produtividade da economia decresceu na década de 1980 e aumentou 1% ao ano entre 1990 e 2010, a produtividade agrícola cresceu cerca de 3% ao ano a partir de 1975, o que significou produzir mais alimentos sem comprometer, na mesma proporção, recursos escassos, como a terra, colaborando com a sustentabilidade.

[…]

Fabio Chaddad conta a história da agricultura no livro “The Economics and Organization of Brazilian Agriculture”. Os tributos oneram menos a agricultura do que o restante da economia. Mas isso não explica o aumento da produtividade, que decorreu das inovações tecnológicas, do maior comércio com outros países, do empreendedorismo e da melhora na gestão das empresas.

Empreendedorismo. Inovação. Mercado global. Essas são as palavras-chave aqui. Somos uma economia fechada. Demos um show de “calor humano” na bela festa da Olimpíada, mas isso não basta. É muito pouco. O desconhecimento dos gringos em relação ao Brasil já é fruto desse caráter insular. Por que a imagem nossa que muitos têm até hoje é de uma selva habitada por macacos ou de pura libertinagem em Copacabana?

Talvez porque sejamos insulares mesmo, fechados, e pratiquemos pouco comércio com o resto do mundo. Temos poucos produtos nas prateleiras de seus supermercados, exploramos mal nossa imagem lá fora, e adotamos visão mercantilista na economia, como se importação fosse algo ruim. É preciso romper com esses grilhões ideológicos.

Entidades como o MST, que representam o retrocesso tribal e pré-capitalista, precisam ficar para trás, para que possamos mergulhar de cabeça no mundo globalizado. Quem tem medo dos gringos? Quem tem medo da livre competição? Quem tem preconceito contra o capital estrangeiro? Isso é muito jeca, ultrapassado. Está na hora de o Brasil se abrir para o mundo!

Rodrigo Constantino

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