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Bruce Springsteen não é apenas um excelente roqueiro com inúmeros hits; ele tem um forte engajamento político, sempre foi defensor dos democratas mais à esquerda e é tido como um “homem do povo”, apesar de sua fortuna. “The Boss”, como é conhecido, não parece tão animado assim com os prognósticos do seu time político, porém. Ele acredita que Trump tem tudo para ser reeleito em 2020.

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“Eu não vejo ninguém lá nesse momento… o homem que possa derrotar Trump, a mulher que possa derrotar Trump”, disse numa entrevista ao The Sunday Times esta semana. “Você precisa de alguém que fale a mesma língua do presidente, e os democratas não possuem um candidato óbvio, efetivo”, constatou.

Na linha do recado dado por Mano Brown aos petistas no Brasil, Springsteen disse que Trump fala a língua da classe trabalhadora de um jeito que os democratas não são capazes de fazer. A economia tem sua parcela, e o fechamento de fábricas nas décadas de 1970 e 1980 produziu um contingente de trabalhadores inseguros e revoltados, que encontram na mensagem de Trump um conforto e uma esperança.

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Somado a isso, o cantor aponta para a exploração das ansiedades raciais da população, quando alguém culpa o “outro” do lado de lá da fronteira pelas dificuldades enfrentadas. O povo vai ouvir quando esse tipo de mensagem é transmitida: há um bode expiatório para transferir responsabilidades agora e aqueles em situação pior conseguem se ver como vítimas.

Springsteen reconhece a tática bem-sucedida de Trump, mas certamente não é fã do presidente, que não teria o menor interesse de unir a nação, segundo o roqueiro. Ao contrário: para Springsteen, Trump vem adotando uma retórica que divide ainda mais o país.

Ele pode ter um ponto, mas sua análise é parcial, perneta, pois ignora toda a divisão que a própria esquerda democrata vem fomentando na América ao longo de décadas. Além do aspecto de perda do contato com o povo, apontado pelo cantor, há o radicalismo crescente dos representantes “progressistas”, insistindo em pautas sem qualquer interesse popular, como a das políticas de identidade, algo que só desperta suspiros na elite universitária majoritariamente branca e rica.

Tratar o fenômeno Trump apenas como uma resposta populista às perdas da globalização pela classe média trabalhadora é um grande equívoco, que deixa de fora muitas outras coisas importantes. Ainda assim, Bruce Springsteen ao menos enxerga uma parte da verdade, e com isso já está com visão mais acurada do que seus companheiros de ideologia. Sua previsão, portanto, parece razoável: Trump tem tudo para derrotar novamente os democratas em 2020. Ainda mais se o partido de Obama escolher alguém para “lacrar”, como uma Pocahontas da vida…

Rodrigo Constantino

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