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Um grupo de políticos, economistas e representantes de movimentos de renovação organizou um discurso e ações para a construção de uma alternativa de centro no persistente cenário polarizado da política nacional. A defesa de uma agenda liberal na economia e, ao mesmo tempo, “progressista” na área social vem sendo reiterada por nomes como o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e líderes políticos como o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung e o presidente do Cidadania, Roberto Freire.

Como na tentativa frustrada de lançar um “outsider” na disputa presidencial do ano passado, esta articulação tem como peça central o apresentador Luciano Huck. É o que mostra uma reportagem do Estadão neste domingo. A ideia de lançar Huck para presidente, não custa lembrar, veio de Paulo Guedes, atual ministro do governo Bolsonaro e o “posto Ipiranga” do presidente.

Vejo com bons olhos essa articulação. Toda democracia precisa de pluralidade de ideias, e há um espaço legítimo a ser ocupado por uma esquerda civilizada, moderna, que não rejeite as vantagens do capitalismo liberal, ainda que pregue bandeiras sociais mais “progressistas”, das quais discordo.

O que não é compatível com uma democracia que mereça tal nome é a presença de uma esquerda jurássica como o PSOL, que pregue o socialismo em pleno século 21, que apoie o nefasto regime ditatorial venezuelano, ou que lance como candidato figuras que praticam crimes invadindo propriedades. Ou então, claro, uma quadrilha criminosa disfarçada de partido político, como no caso do PT.

Há espaço para uma esquerda mais moderna e civilizada, portanto, e é natural que ele seja ocupado nesse vácuo deixado pela polarização excessiva da nossa política, com petismo de um lado e bolsonarismo do outro. Também há um vácuo a ser preenchido por um liberalismo de viés mais conservador, que rejeite os excessos do bolsonarismo, com sua postura tribal, seu nacional-populismo de tom autoritário. É o espaço que João Doria e João Amoedo, entre outros, buscam ocupar.

Como autor de um livro recente em que defendo a tese de que o pêndulo do “liberalismo” extrapolou demais para o lado esquerdo “progressista”, é lógico que tenho minhas preferências nesse embate de ideias. Mas, acima de tudo, acho saudável a própria pluralidade e, mais do que qualquer coisa, um desejo genuíno de se debater as ideias, em vez de demonizar o adversário com base em suas supostas intenções malignas. Há divergências legítimas e salutares em jogo, e é o tribalismo fanático, a postura de seita ideológica dona da razão, que precisa ser derrotado, para o bem do país.

Eu já disse e repito: mil vezes um centrista ou mesmo um “progressista” com ideias que julgo equivocadas, mas que tenha decência na postura e esteja aberto ao diálogo, do que um “direitista” tosco, boçal, que usa cargo público para promover assassinato de reputação com difamações e mentiras.

O bolsonarismo pode até ser um “mal necessário”, uma quimioterapia cheia de efeitos colaterais para combater um mal maior, o câncer do petismo. Mas em algum momento o Brasil vai precisar descartar os extremos tribais e voltar à moderação. Não é razoável supor que ficaremos presos eternamente entre essas escolhas binárias.

Rodrigo Constantino

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