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Em entrevista para o Huffington Post do Brasil, Ciro Gomes tenta ocupar o lugar à extrema-esquerda na disputa de 2018, simulando ser bem mais moderado do que é, e demonstra morrer de medo de João Doria, mais do que de Jair Bolsonaro. Ciro tentará capturar a revolta dos cidadãos com a desgraça econômica deixada por seus comparsas, pelas medidas que ele mesmo apoiou, de um governo do qual foi ministro, como se fosse “oposição a tudo isso que está aí”. A demagogia desse senhor é velha conhecida nossa. Seguem alguns trechos da entrevista, com meus comentários:

É evidente que nesse momento todo mundo tem direito. E quem sou eu, muito menor que o Lula. Mas eu acho que aquilo que eu falei, o mais do mesmo, ou essa radicalização PSDB e PT já exauriram o ciclo. É preciso dar passagem, não digo para uma candidatura como a minha, mas é preciso dar passagem para um novo projeto.

Sim, o Brasil precisa de um novo projeto, de algo NOVO, mas definitivamente não é isso que Ciro tem a oferecer. O que o Brasil precisa é de mais liberalismo, aquele que nunca nos deu o ar de sua graça. O que Ciro recomenda é mais nacional-desenvolvimentismo, aquele que nos ferrou de vez na era lulopetista. Ciro quer mais estado controlando a economia, não aceita reduzir gastos públicos (não consegue encontrar nem onde cortar um bilhão, lembram?), e rejeita com fúria preconceituosa a solução liberal. Ciro é o velho, o carcomido, o ultrapassado populismo esquerdista, fedendo a naftalina.

Existe um conflito distributivo no País e quem está mandando com o Temer é o baronato, o baronato financeiro. O mundo produtivo brasileiro e o mundo do trabalho estão passando o pão que o diabo amassou sem precedentes, por isso que há uma fresta aí para a gente conseguir repactuar o Brasil.

Aqui o esperto tenta bancar um misto de Trump com Hillary, defendendo um foco nacionalista para favorecer a indústria ao mesmo tempo em que prega mais distribuição por meio do estado, o que sempre produz maiores desigualdades. O “empresário” Benjamin Steinbruch poderá gostar da fala, principalmente se Ciro prometer bater no peito e reduzir na marra a taxa de juros, o que Dilma também fez (e deu no que deu). É a receita certa… para a desgraça.

O teto de gastos é uma perversão que vai se revelar insustentável. Portanto, tenha clareza que se depender de mim, isso será revogado.

Precisa dizer mais alguma coisa? Dá bilhão? Para Ciro, não dá nem centavos. O governo gasta “o necessário”. Isso num país em que o estado arrecada quase 40% do PIB, e não poupa absolutamente nada! Isso num país em que só com algumas mudanças de gestão já é suficiente economizar dezenas de bilhões. Numa nação em que todos reconhecem a péssima qualidade dos serviços públicos, apesar de sempre serem obrigados a pagar mais caro por eles. Teto de gastos públicos? Uma perversão, diz o estatólatra!

O PT não é meu inimigo, não é meu adversário, pelo contrário. Em 1989, votei no Covas no primeiro turno e no Lula no segundo e venho votando.

Precisa dizer mais alguma coisa? Quer o PT de volta, quer Lula de volta, quer Dilma de volta? Então é só votar em Ciro, aquele que já teve uns 546 partidos, mas sempre manteve sua coerência: é oportunista o tempo todo, e sempre à esquerda, pois o Brasil só teve governos de esquerda.

Se há uma parcela do eleitorado que se afina com o que o Bolsonaro interpreta, representa e diz, essa fração tem todo direito que um democrata deve garantir sem qualquer tipo de queixa de se expressar na política. Evidente que no debate, eu estando presente, vou arrancar muitas máscaras. Esse João Doria se apresentar como não político, ele está esquecido que foi presidente da Embratur no governo do Fernando Collor, ele está esquecido – e eu tenho uma memória implacável – de que a empresa dele vivia de milhões de reais de dinheiro público repassado por correligionários deles, de governo do PSDB. Isso que é não-político? Mil vezes, na minha opinião, um Bolsonaro do que um enganador desse tipo.

E aí está onde ele queria chegar! Fez elogios a Bolsonaro, vejam só!, e detonou Doria. O motivo é simples: tem mais medo de disputar com Doria, que representa algo novo e que tem capacidade de unir moderados e gente mais à direita, do que de enfrentar Bolsonaro, que seduz uma parcela expressiva com seus ataques sem rodeios à esquerda, sua defesa intransigente da punição aos marginais e seu estilo politicamente incorreto, mas que sem dúvida tem uma rejeição bem maior perante os moderados, o centrão que acaba definindo eleições.

Então Doria não pode dizer que não é político porque presidiu a Embratur? É sério? Ciro apela desse jeito porque nunca teve compromisso com a verdade, com a honestidade intelectual, como eu já pude atestar ao vivo em “debate”. Ciro é um sofista profissional, uma raposa velha da política, ele sim, um político profissional e nada mais. Nesse sentido, claro que prefere enfrentar Bolsonaro, que também tem um estilo mais explosivo e agressivo, o que anularia esse seu lado negativo para os moderados, e que está no sexto mandato de deputado, o que impede a cartada do “não-político”, talvez o fator mais preponderante no clima atual (como a vitória do próprio Doria no primeiro turno e de Trump nos Estados Unidos demonstram).

O fato de Ciro temer tão mais Doria do que Bolsonaro deveria servir de reflexão para muitos na direita, que não aceitam sequer pensar nessa possibilidade, pois consideram Doria um esquerdista (PSDB) e Bolsonaro um “mito”. Entendo a desconfiança com tudo aquilo que é tucano, mas acho que Doria não tem exatamente o perfil do partido. E também entendo a empolgação que muitos sentem com o capitão sem papas na língua, mas no final do dia o que importa é vencer, não afagar os egos ou alimentar brigas nas redes sociais.

A entrevista começa assim: “Tá rindo de quê?” Faz referência ao fato de que Ciro não acha o momento atual do país propício para muitas risadas. Uma forma de ele justificar seu jeito sisudo e destemperado, talvez. Mas acho impossível não pensar na tirada que ele teve comigo em nosso famoso “debate”, há quase dez anos. Ele disse exatamente isso para mim, e não há como o jornalista não saber, pois os vídeos já foram vistos, em suas diferentes versões, milhões de vezes.

Eu respondo agora, Ciro: eu estava rindo da sua cara! Eu ria da sua cara de pau em interromper cada linha de raciocínio para impedir a conclusão, de forma grosseira, deselegante e autoritária. Ria dos sofismas, de como pode um truque tão podre ainda vingar perante uma parte da população, que acha esse tipo de postura coisa de “machão” que “humilha” o “inimigo”, e não coisa de raposa que foge do debate com o adversário.

E estou rindo uma vez mais: de sua cara de pau novamente, em tentar se reinventar como algo “novo” na política, um moderado de centro-esquerda, que admira Lula, mas quer substituí-lo, e que tem um plano moderno para a economia, sendo que não passa da velha cartilha nacional-desenvolvimentista. É impossível não achar graça. Só não estou gargalhando porque sabemos que, no Brasil, a estupidez tem um passado glorioso e um futuro promissor. Nunca mais subestimo essa estupidez. Se já elegeram Dilma presidente, nada mais é impossível. Nem mesmo um Ciro da vida vencer!

Rodrigo Constantino

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