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Como um estado paternalista excessivo mina a confiança necessária para uma sociedade livre e solidária
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“Nunca entendi porque é ganância querer preservar o próprio dinheiro que você fez, mas não é ganância querer tomar o dinheiro dos outros”. (Thomas Sowell)

Um livro muito interessante, que recomendo, é Sociedade de Confiança, de Alain Peyrefitte, diplomata francês (de vez em quando acontece de a França parir um pensador liberal). Nele, o autor mostra a importância que faz para a prosperidade de uma sociedade a confiança dos agentes nas regras do jogo, a confiança mútua dos indivíduos, que partem da premissa de que o outro é correto, não um malandro safado. Os custos de transação disparam quando falta esta confiança.

A história do capitalismo é muito mais a história de um enorme mecanismo voluntário de cooperação do que a história de uma luta de classes, de uma competição mortal, de um jogo de soma zero, como querem os marxistas. Basta entrar num supermercado para ver o “milagre” da cooperação humana, ainda que cada um tenha sido motivado por seus próprios interesses. Eles foram guiados como que por uma “mão invisível” a fazer aquilo, a oferecer para tantos consumidores, com preferências e bolsos tão diferentes, toda aquela gama de produtos.

Altruísmo? Não, apenas uma sociedade de confiança agindo de forma livre. Claro, também há espaço para o altruísmo propriamente dito nessa sociedade, pois alguns sempre ficam para trás, por vários motivos. E, novamente, temos espaço para o “milagre” da solidariedade, da caridade, praticada por aqueles que, sensíveis às desgraças alheias, empáticos ao sofrimento do outro, como já mostrava Adam Smith em Teoria dos Sentimentos Morais, resolvem ajudar os desvalidos. Ajuda essa, vale notar, voluntária, e por isso mesmo meritória.

A esquerda está destruindo tudo isso! É o que alerta meu amigo Flavio Quintela em artigo publicado essa semana na Gazeta do Povo. Abaixo, alguns trechos, mas recomendo a leitura na íntegra:

O papel da agenda de esquerda neste processo degradante é bastante claro: ao estimular a dependência do Estado e enfraquecer a responsabilidade individual, o governo assume cada vez mais o papel de intermediador da confiança e de regulador da honestidade, algo para o que não tem vocação e nem capacidade. O processo se propaga a cada geração de forma cumulativa, e não se restringe apenas à confiança básica – o altruísmo padece tremendamente sob a ideologia de esquerda.

As políticas assistencialistas implementadas no Brasil nas últimas duas décadas são totalmente opostas ao altruísmo genuíno. Em vez de estimular as pessoas a ajudar o semelhante necessitado, elas acabam “terceirizando” a caridade feita localmente, a qual possui inúmeras vantagens sobre o assistencialismo estatal: menos intermediação, maior controle sobre quem precisa ou não ser ajudado e conexão real entre quem doa e quem recebe. Além disso, há um abismo moral entre a doação voluntária e o assistencialismo feito com dinheiro confiscado, aquele que os governos costumam chamar de arrecadação de impostos. E, por último, ações locais de altruísmo não compram votos; programas de ajuda governamental sim.

[…]

O desenvolvimento da confiança básica e o aprendizado do altruísmo, que deveriam ser um passo importante na conquista da competência adulta, estão em extinção na juventude brasileira. A criança e o adolescente de famílias necessitadas aprendem que podem e devem contar com o governo para cuidar de suas mazelas. Salvo se instruídos em algum momento de suas vidas por alguém que lhes exponha a verdade, tornar-se-ão adultos dependentes da ajuda estatal e desconfiados de qualquer um com condições econômicas mais favoráveis. Nas famílias não necessitadas, a lição será diferente: ser bem sucedido e cumprir a lei tem uma punição, a de ter seu dinheiro confiscado e entregue a alguém que você não conhece. E isso tudo se você conseguir sair de casa e dar um passo sem achar que vai levar uma rasteira de seu semelhante na próxima esquina.

Não bastava sermos o país dos Gérsons; somos agora um país de Gérsons egoístas e dependentes. Fomos transformados numa nação de crianças mimadas.

Como negar? Conheço várias pessoas que justificam a “insensibilidade” de ignorar o mendigo com o argumento de que já o ajudam por meio do estado, obrigados a “contribuir” com quase 40% do que ganham de forma compulsória. Como negar-lhes alguma razão? Por outro lado, vemos os mais pobres, em muitos casos, argumentando que têm “direito” a isso ou àquilo, em nome da “igualdade”, da “justiça social”. Esse clima de antagonismo vai minando a solidariedade que emerge espontaneamente na sociedade, vai jogando uns contra os outros.

Não é por outro motivo que, em países comunistas, crianças são simplesmente ignoradas nas ruas, bebês são deixados de lado no meio da calçada, sem que alguém se disponha a ajudar. Ocorria com frequência na China, e em Cuba, “paraíso” socialista onde “nenhuma criança dorme na rua”, várias crianças circulam nas ruas, em busca de um cliente sexual para garantir um trocado extra. O esquerdismo fomenta a insensibilidade nas pessoas.

Paradoxalmente, a esquerda condena o capitalismo por transformar tudo em produto, mas é a própria esquerda que destrói a capacidade de altruísmo nas pessoas, ao transferir para o estado (coerção) e chamar de direito o que era, antes, visto como um dever moral: a solidariedade voluntária. Para acrescentar injúria ao insulto, foram historicamente as religiões que fomentaram esse sentimento nobre de caridade, em especial o cristianismo, tão atacado pela mesma esquerda, talvez porque sua ideologia seja uma seita religiosa que não admite competição.

Ajudar o próximo não é um instrumento de opressão velada da elite, tampouco confiscar mais impostos para delegar aos burocratas e governantes o poder de distribuir esmolas em troca de votos. Ajudar o próximo é uma atitude nobre, quando voluntária e genuína. Algo incompatível com o paternalismo estatal da esquerda. E o pior é que esses esquerdistas ainda posam como as almas mais abnegadas que já habitaram esse planeta, só por pregarem que os outros pratiquem “caridade” compulsória em seu lugar!

Rodrigo Constantino

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