Por Adolfo Sachsida, publicado pelo Instituto Liberal
Uma reportagem na Folha de São Paulo sobre meu estudo “Efeitos da Inserção das Disciplinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio Sobre o Desempenho Escolar” (escrito com Thais Waideman Niquito), tem gerado grande debate. Infelizmente, muitos partem para o ataque pessoal e preferem ofender a debater ideias.
Vamos aos pontos:
1) O estudo verifica o efeito da Lei 11.684 que tornou obrigatória a inclusão das disciplinas de Filosofia e Sociologia no ensino médio.
2) Para estudar o efeito de uma intervenção do governo foi adotado o instrumental padrão na área de avaliação de impacto: diferenças em diferenças e dados de painel.
3) Temos um fato óbvio: dada a limitação de carga horária, qualquer inclusão de novas disciplinas implica em necessariamente reduzir a carga horária destinada às demais.
4) Em decorrência desse fato óbvio elaboramos a seguinte pergunta: será que os efeitos dessa lei são diferentes para diferentes grupos socioeconômicos?
5) Encontramos a seguinte resposta: alunos que estudaram em escolas públicas em áreas menos desenvolvidas foram mais negativamente afetados por essa lei.
6) Propusemos uma explicação: alunos filhos de pais ricos estudam em escolas particulares que podem aumentar a carga horária em sala de aula, ou ainda podem recorrer a aulas particulares, ou ainda podem ser auxiliados em casa por seus pais. Já alunos pobres não têm tantas opções assim, o que eles não aprendem na escola dificilmente conseguem aprender fora dela. Dessa maneira, a inclusão das disciplinas filosofia e sociologia no ensino médio piorou a situação dos alunos carentes.
7) Ninguém está dizendo que o desempenho em matemática é ruim por causa das disciplinas de sociologia e filosofia. O que o estudo conclui é que a inclusão dessas disciplinas piorou o desempenho em matemática dos alunos submetidos a essa lei, e tal efeito foi mais evidente para alunos de escolas públicas em locais carentes.
8) Vários procedimentos para verificar a robustez dos resultados (inclusive com a estimação de placebos) foram realizadas. Ao todo são 62 páginas de discussões, revisão de literatura, explicações e testes estatísticos que nos fornecem evidências suficientes para concluirmos que a Lei 11.684 não teve os resultados esperados no que se refere à melhora no desempenho escolar dos alunos.
9) Todo estudo científico é sujeito a críticas, claro que no futuro podem surgir novas evidências sobre o tema. Espero que meu texto tenha ajudado a despertar a curiosidade sobre esse importante tema. Notem que a Lei 11.684 foi aprovada em 2008, e o nosso estudo (pelo melhor de meu conhecimento) foi o primeiro a avaliar seu impacto no desempenho escolar dos alunos. Espero que novos estudos surjam, e um amplo debate aconteça. Nossos alunos merecem respeito. Se os resultados de meu artigo estiverem corretos (e existem boas evidências de que estão), então a Lei 11.684 não cumpre com seu papel de melhorar o desempenho escolar dos alunos, pior que isso: pune mais severamente os alunos que estudam em escolas públicas em localidades mais carentes.
10) Agora você pode continuar me xingando e me ofendendo na internet, ou você pode começar a dialogar e debater ideias, a escolha é sua! Se você acha que meu estudo está errado, então sua hipótese é a de que a inclusão de Filosofia e Sociologia no ensino médio tem um efeito transbordamento, isto é, o ganho intelectual gerado por essas disciplinas mais do que compensa a redução na carga horária de outras disciplinas. Teste essa hipótese, é assim que a ciência avança!
11) Por fim, uma pergunta: o Distrito Federal está pensando em incluir a matéria Educação Moral e Cívica no currículo de seus alunos. Você concorda com essa proposta? Meu estudo sugere que essa não é uma boa ideia, meu estudo sugere que incluir novas disciplinas sem aumentar a carga horária total na escola tem o potencial de prejudicar o desempenho dos alunos. Engraçado que muitos que são contrários ao ensino de Educação Moral e Cívica são ardorosos defensores da Lei 11.684. Amigos, coerência é fundamental! O argumento usado pelos defensores da inclusão da disciplina Educação Moral e Cívica no currículo das escolas é bem parecido com o adotado pelos defensores do ensino de Filosofia e Sociologia: formar melhores cidadãos.
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