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Corrida de vítimas: política de identidades leva democratas ao abismo
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Qual o nome democrata, entre tantos que já se declaram pré-candidatos, que mais poderia ameaçar Trump em 2020? Uma análise isenta colocaria Joe Biden no topo da lista. Sua postura mais moderada poderia atrair eleitores independentes cansados do estilo fanfarrão do atual presidente. Só há um pequeno problema: as bases do Partido Democrata estão cada vez mais radicais e dependentes da narrativa identitária.

Como o editorial do WSJ reconheceu, o fracasso de Joe Biden em marcar qualquer dos quesitos na moderna política de identidades pode acabar o desqualificando como concorrente na disputa eleitoral, mesmo que ele provavelmente seja aquele com melhores chances de vitória.

Recentemente veio à tona uma denúncia de uma colega de partido sobre o comportamento do ex-vice-presidente, acusado de abusivo. Biden teria cheirado seu cabelo e apoiado as mãos em seu ombro na véspera de um discurso dela. O timing dessa acusação, logo após Biden anunciar que vai mesmo disputar as primárias, e também a fonte – uma democrata que esteve, na semana anterior, num comício de Beto O’Rourke, concorrente direto de Biden, não importaram muito: ele passou a ser duramente atacado pela própria esquerda como um machista terrível.

Isso era previsível. Como lembra o WSJ, ele pode ter sido vice-presidente, mas é velho, branco, homem e heterossexual. Essas características representam pecados mortais para a esquerda moderna, que só enxerga grupos de minorias com base no grau de vitimização contra o algoz preferido: justamente o homem branco heterossexual. O professor Mark Lilla já alertou para o risco de essa política tribal de identidade destruir de vez a esquerda progressista.

O conceito de cidadania americana perdeu valor para a esquerda. O “nós” perdeu relevância para o “eu”, e como cada um quer se definir ou se identificar passou a ser a coisa mais importante do mundo. A Nova Esquerda não foi capaz de contribuir para uma unificação do Partido Democrata, tampouco desenvolver uma visão “liberal” de um futuro compartilhado por todos na América. Houve muita segregação e radicalismo, e Hillary Clinton chegou a chamar metade dos eleitores de Trump de “deploráveis”.

Tarde demais. O monstro foi criado, os corvos foram alimentados. E agora vão bicar os olhos dos próprios criadores, da esquerda democrata. Biden dificilmente será o candidato em 2020.

Há uma grande lista de pré-candidatos nessa disputa, cada um tentando posar como ícone de mais minorias “oprimidas”, e com discursos extremistas, como a defesa do aborto tardio ou do socialismo. Quem mais agradece é Donald Trump, que prefere disputar com algum radical desses da vida. Mais fácil de vencer assim. A corrida de vítimas dos democratas leva ao abismo.

Rodrigo Constantino

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