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Cuidado com o excesso de pragmatismo: deslizes afastam Bolsonaro de liberalismo
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Em política é preciso ser realista, pragmático. Não há espaço para jacobinos numa democracia. O jacobinismo purista, porém, pode ser uma estratégia oportunista para se chegar ao poder, e depois deixa-lo de lado. É o que aparentemente muitos ligados ao bolsonarismo fizeram.

Sua narrativa era de total intransigência para com a “velha política”. Michel Temer, que foi um presidente bastante razoável, foi massacrado sem dó nem piedade. Os tucanos foram equiparados aos petistas. Não havia espaço para o cinza: era tudo preto ou branco.

Uma vez no poder, contudo, o discurso mudou. Agora é preciso dosar a pílula, fazer concessões, ser pragmático. A causa é nobre, alegam, o que justifica quase qualquer meio. É a “nova era”, e nela aquilo que ontem era condenado hoje é aceito como um custo para o amanhã brilhante.

Apontar para cargos públicos gente sem qualquer experiência, ex-namoradas de companheiros, olavetes? Não é mais nepotismo ou favorecimento previsto em lei como crime. Agora é “ocupar espaços” para reagir ao esquerdismo. Assim como manter a TV Brasil: uma necessidade para lutar contra a praga “progressista”.

E é assim que a turma vai passando pano em tudo de errado que o novo governo faz. A mais nova foi o protecionismo para produtores de leite. Se alguém argumentar que é uma medida ruim, mas talvez aceitável pelo pragmatismo para atrair a bancada rural para votar a favor da reforma previdenciária, até podemos engolir. Mas daí a justificar a medida protecionista em si como positiva?

Foi o que vários fizeram. E como quem dá a mão acaba tendo que dar o braço, claro que a coisa não vai parar por aí. O Antagonista já fala que Paulo Guedes teria perdido outra batalha e que os subsídios da conta de luz, que Temer tinha cortado, podem voltar. Mais antiliberalismo, mais privilégios, e lá estarão os bolsonaristas “explicando” que é preciso manter certas coisas da “velha política” para que o futuro seja maravilhoso.

Que Bolsonaro nunca foi mesmo um liberal convicto nós todos já sabíamos. Mas se a inspiração for Geisel em vez de Paulo Guedes, aí complica. A com tantos deslizes surge uma questão angustiante: até quando o próprio Guedes aguenta isso?

Meu palpite: se sair uma reforma previdenciária bem razoável, ele engole os sapos protecionistas e até o “cabide de emprego” em certas áreas, assim como o mercado. Mas se a reforma for chocha, meia-bomba, fraquinha, aí fica realmente complicado…

Rodrigo Constantino

 

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