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No Brasil é assim: basta ser pego com a boca na botija que o meliante logo vira uma “vítima”, a alma mais honesta do mundo que cometeu apenas um deslize. O senador cassado Delcídio do Amaral vestiu esse personagem na entrevista ao Roda Viva nesta segunda. Pinta uma imagem de um sujeito que está há anos na vida pública de forma totalmente proba, e que deu um só escorregão, ao seguir ordens dos superiores para obstruir a Justiça.

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Não cola. Não convence como o santo de um pecado só. Foi político por tempo demais, transitou entre diferentes partidos, e foi parar no pior de todos, na quadrilha disfarçada de “partido” que é o PT. Não só era petista, como foi o líder do governo no Senado, o que não é pouca coisa. Delcídio fez parte da cúpula do poder petista, portanto. Não convence como inocente em meio a tantas jararacas.

Foi, porém, habilidoso em fugir das perguntas. Escorregadio, com cara de injustiçado. Prefiro mil vezes a postura de Roberto Jefferson, que bateu no peito e assumiu seus crimes mesmo, dizendo-se arrependido. Não obstante, Delcídio gravou seu nome entre os “malvados favoritos” do país, ao morrer atirando. Em acordo de delação premiada, o senador detonou a máfia de que fazia parte, entregando nomes importantes, como os de Dilma e Lula.

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Foi peça-chave na derrocada petista, e isso, por si só, já é um baita atenuante para seus “malfeitos” passados. Jefferson, Delcídio e Eduardo Cunha formam o tripé responsável pelo debacle lulopetista do lado dos aliados. Foram cúmplices do PT, mas entregaram seus comparsas depois. O Brasil não vai esquecer essa contribuição à nação. Cumpriram importante missão democrática. Vejam a entrevista na íntegra:

Chama a atenção também os esquemas nas estatais. Como alguém ainda pode defender um estado empresário após tudo isso? Fica claro que tais empresas estatais servem apenas para esquemas de propinas e desvio de recursos. Só a privatização salva. Não faz sentido preservar essas empresas nas mãos de políticos como Delcídio e companhia.

Enfim, a entrevista acrescenta algumas coisas, mas em geral o entrevistado foi muito escorregadio. Em relação ao principal, contudo, reafirmou o que já dissera antes, e que derruba totalmente a “tese” de golpe contra o PT. Delcídio repetiu com todas as letras: Dilma e Lula sabiam e participaram de todos os esquemas de corrupção; Lula foi o mandante do plano de fuga de uma das testemunhas da Lava-Jato; e Dilma usou o cargo para promover um juiz que soltaria empreiteiro aliado seu.

São denúncias gravíssimas, feitas por alguém de dentro, que participou dos esquemas. Golpe? O único que existiu foi o do PT contra a nossa democracia. E Delcídio ajudou a expor esse fato. Por isso, obrigado.

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Rodrigo Constantino