Publiquei hoje um texto sobre armas em que mostro a declaração surpreendente de Reinaldo Azevedo, condenando a pauta do MBL que inclui a revogação do Estatuto do Desarmamento. Argumentei que tal bandeira desarmamentista não é condizente com quem se diz liberal ou conservador, sendo uma típica bandeira esquerdista. Meus leitores logo puxaram do baú – do próprio blog de Reinaldo Azevedo, para ser mais exato -, um texto em que ele “desmonta o mito do desarmamento”. Vejam:
Os números sobre a violência no Brasil servem justamente para desmistificar essa cascata cretina sobre a campanha do desarmamento. Eu também acho que o desejável é não ter armas. Mas fundamental é que os bandidos, que não costumam entregar seus “instrumentos de trabalho” para o estado, não as tenham. O que é preciso, como se faz em São Paulo, é que os usuários desses objetos estejam em cana e que a polícia atue com eficiência.
As pessoas que, de boa-fé, entregam as armas que têm ao estado certamente não estavam pensando em usá-las para impor a sua vontade aos outros. Os que têm esse objetivo não cedem ao apelo do Ministério da Justiça. Atribuir, ainda que de maneira oblíqua, a redução discreta do número de homicídios às campanhas do desarmamento corresponde a pegar carona em feitos alheios e a deixar de reconhecer o método que realmente funciona: polícia reprimindo crime e bandido na cadeia.
Há uma média de 50 mil homicídios por ano no Brasil. Em números absolutos, é o país em que mais se mata (ao menos entre os que têm estatísticas mais ou menos confiáveis); está certamente no alto da tabela em números relativos. É uma carnificina! Não obstante, somos obrigados a ouvir essa conversinha mole de desarmamento e o ataque sistemático, às vezes acompanhado de uma verdadeira conspirata, contra aqueles que fazem um bom trabalho na área.
O texto é de 2011, mas reparem nesse detalhe: Atualizado em 6 dez 2016. Ou seja, o autor estava há poucos dias defendendo o absurdo do desarmamento, e sem mais nem menos resolveu detonar a turma do MBL por colocar em pauta a revogação do Estatuto do Desarmamento, afirmando (sem embasamento algum) que mais armas não diminuem a violência, mas a aumentam.
Por que essa inversão tão radical, de 180 graus, sem aviso prévio ou sinais que pudessem insinuar a guinada? Reinaldo Azevedo falou em nome de muitos na direita – do meu inclusive! – quando combateu com determinação o petismo. Mas de uns tempos para cá ele vem só escorregando para a esquerda, atacando a Lava Jato, o juiz Serio Moro, os conservadores, e agora chegou a endossar até o desarmamento dos cidadãos de bem. O que se passa?
Só vejo três alternativas:
1) ele realmente mudou de opinião, o que é parte da vida. Pessoas mudam de opinião o tempo todo, e por isso considero meu ofício de formador de opinião importante, pois vejo o retorno de muitos leitores que mudaram graças aos meus argumentos. Mas, nesse caso, ele claramente regrediu, e o estranho é se tratar de uma mudança tão repentina e radical, sem apresentar os argumentos necessários para justificar tamanha reviravolta. Eu mesmo mudei várias opiniões, deixando de lado uma fase mais libertária radical e migrando para mais perto do que chamo de conservadorismo de boa estirpe. Mas meus leitores acompanharam a mudança lenta e gradual, com a devida bibliografia por trás a sustentando, com justificativas, com argumentos. No caso de Reinaldo, ele simplesmente parece ter pulado da direita para a esquerda, sem aviso prévio, e sem embasamento;
2) o próprio Reinaldo escreveu sobre um aneurisma que teve no final de 2016, felizmente superado pelo trabalho de bons médicos. Pergunto com a melhor das intenções: será que ficou alguma sequela disso? Alguns ex-admiradores especulam que o escriba pode mesmo ter mudado tanto por algum problema neurológico. Levanto aqui a possibilidade, mas acho pouco provável. Tudo mais parece normal, sua capacidade de argumentação não está prejudicada, sua memória, seu embasamento cultural. O problema tem sido mesmo o mau uso dessa habilidade toda. Que ele demonstra capacidade racional está claro, mas que essa razão não tem sido usada para ligar lé com cré, para defender o que parece certo, isso também está claro. O que nos leva à terceira possibilidade;
3) sua mudança coincidiu com a aproximação do PSDB pela Lava Jato, depois que o PT já havia sido derrotado pelo impeachment, e também com a visível mudança na linha editorial da Veja, também caminhando para a esquerda. Essas coincidências todas suscitam muitas suspeitas e teorias “conspiratórias”. Não quero ser leviano aqui e fazer acusações, mas preciso abordar a possibilidade de Reinaldo não ter falta de capacidade cerebral, e sim de caráter. É a conclusão a que vários de meus leitores chegaram. Prefiro não me manifestar quanto a isso, simplesmente deixando aqui as três únicas explicações que consigo vislumbrar para tantas mudanças estranhas.
É uma pena. Reinaldo Azevedo escreve muito bem, é claramente inteligente, vinha defendendo inúmeras bandeiras importantes com viés liberal e conservador, e foi em vários aspectos uma inspiração. Realmente lamento muito ver o que me parece ser uma evidente decadência de alguém com tanto potencial, com a perda crescente de credibilidade. Eu achava o Tio Rei de antes muito melhor…
Rodrigo Constantino
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