Foto: Gustavo Miranda - Agência O Globo / VEJA| Foto:

O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, um dos pais do Plano Real, cuja estabilização monetária completa 25 anos no mês que vem, vê a reforma da Previdência como o desafio mais urgente entre os que o país enfrenta hoje, mas observa que o desequilíbrio fiscal é uma questão de “curto, médio e longo prazos”. Em entrevista ao GLOBO na última quarta-feira, após dar uma palestra em evento da RB Capital, no Rio, ele previu “uma enorme pedreira pela frente, não só uma pedra no meio do caminho”.

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“Estamos numa crise que estará conosco durante muito tempo. Crescemos, na média, 0,6% ao ano nos últimos oito anos. O resto do mundo em desenvolvimento nesses mesmos oitos anos cresceu 4,8%, 4,9%, pelo menos. Essa situação agora é a mais séria da nossa história recente”, disse o ex-ministro.

Ele acrescentou: “O grande desafio está na área fiscal. Este 2019 vai ser o sexto ano de déficit fiscal primário, 2020 será o sétimo, 2021 provavelmente o oitavo e talvez 2022, dependendo da tração fiscal da reforma da Previdência. Todo mundo é a favor do aumento de despesas, para acomodar vários interesses. Todo mundo é contra aumento de impostos e todo mundo acha que dívida se rola, se reestrutura, se posterga, se adia. Não é uma combinação saudável, principalmente quando temos esse crescimento de gastos com Previdência.”

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Malan criticou o sistema atual de repartição também, mostrando sua insustentabilidade com base na demografia, e saiu em defesa do modelo de capitalização, defendido por Paulo Guedes, mas deixado de fora da relatoria da reforma: “Quem chega aos 55 hoje vai viver até os 80, ganhando um salário que é um múltiplo de sua contribuição. As pessoas não se dão conta de que nosso sistema é de repartição. Quem está pagando os aposentados de hoje é quem está na força de trabalho. A população cresce a 0,7% ao ano e a de aposentados, a 3,5%. No fim dos anos 2040, só a faixa etária com mais de 60 anos vai crescer. Essa aposentadoria terá de ser paga por essa população que está trabalhando e que está diminuindo. É uma bomba de efeito retardado”.

Por fim, Malan defendeu foco na melhora do ambiente de negócios no país: “No Doing Business do Banco Mundial, o Brasil está na 109ª posição. A China, que estava na casa da 70ª, conseguiu em um ano baixar 20 e tantas posições.” Devemos atuar mais na área micro, portanto. A MP da Liberdade Econômica do governo Bolsonaro caminha nessa direção. Outras medidas precisam vir.

Rodrigo Constantino