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Levy

A elite empresarial brasileira costuma se iludir com facilidade. Caiu lá atrás no conto do vigário de que Dilma era uma gestora eficiente e uma “faxineira” ética, e mais recentemente embarcou na canoa furada de Joaquim Levy, o “ortodoxo” que veio de Chicago para consertar a bagunça fiscal do governo. É muita vontade de ser enganada mesmo.

Tenho orgulho de jamais ter sido ingênuo a esse ponto, e concentrei minha artilharia em Levy desde o começo (podem atestar). Alguns empresários e economistas sérios discordavam: “ao menos ele levará algum bom senso para o governo petista”. Nada mais falso. O tecnocrata vaidoso apenas empresta sua reputação para um governo incompetente, corrupto e tarado por impostos. E ainda permite que a esquerda radical culpe o “neoliberalismo ortodoxo” pelas lambanças desenvolvimentistas!

Pois bem: acho que a ficha está caindo para todos, agora que Levy demonstra ter ignorado as principais lições dos mestres da Chicago. Imposto temporário? O homem nunca escutou Milton Friedman, que sabia que nada é mais permanente do que medidas “temporárias” de governo? No mais, era preciso mesmo convidar um doutor de Chicago para defender a volta da CPMF? Qualquer petista idiota faria isso, não é mesmo?

Eis que Levy passou a agir exatamente como esses petistas. Primeiro, chamou de “investimento” o aumento de impostos, algo indecente e imoral num país como o Brasil. Como disse meu amigo Alexandre Borges: “Quando um país entende que baixa carga tributária significa mais dinheiro nas mãos da sociedade e dos agentes econômicos para que haja investimentos, criação de empregos e crescimento econômico, ele começa a trilhar o caminho da prosperidade. O Brasil está a anos-luz desse entendimento”. Levy é parte do problema, não da solução.

Agora o ministro da Fazenda resolve piorar o que já era muito ruim, e desmerecer o impacto da CPMF, apenas “dois milésimos” dos gastos. Ora, em primeiro lugar, se é tão irrisório o impacto, por que recriá-la? Mas isso não é o pior: Levy finge não saber que os “dois milésimos” incidem em todas as etapas produtivas. O editorial do GLOBO colocou o ministro em seu devido lugar, ao refrescar sua memória com a informação de que o imposto incide em cascata, sobre todas as movimentações financeiras no país:

Cooptado para fazer a defesa da volta da CPMF e da elevação de impostos em geral, Joaquim Levy deu o exemplo da compra de um bilhete de cinema, sobre o qual incidirão os tais ínfimos “dois milésimos”. Ora, o problema é que, sabe bem o economista Joaquim Levy, a CPMF incide em cascata sobre todas as fases da produção e comercialização de bens, de serviços, sobre o consumo, as operações financeiras, tudo. Portanto, o aumento do custo de produção no Brasil, já elevado, será bem maior que os “dois milésimos”. E em nada atenua dizer que a CPMF recauchutada terá o prazo de validade de quatro anos. Ninguém acredita, e com sólidas razões.

[…]

É assombroso que num Orçamento de R$ 1,2 trilhão o governo não consiga fazer cortes de pouco mais de R$ 30 bilhões, e opte pela volta de um imposto de péssima qualidade como a CPMF e pela elevação de alíquotas do imposto de renda. Mesmo que a carga tributária do país, na faixa dos 37%, já seja muito alta e funcione como fator negativo na competitividade brasileira no exterior.

Além de a via do aumento das receitas ser um desestímulo aos investimentos, necessários para o país superar a recessão. Está evidente que fatores políticos e ideológicos condicionam o ajuste.

Sim, está evidente, assim como está cristalino que o “ortodoxo” Levy faz parte desse processo, e com um papel de destaque, pois sem ele ficaria muito mais difícil os tarados petistas aprovarem mais impostos. Seu personagem, diga-se de passagem, é dos piores, pois os demais não escondem a essência. E pior do que o lobo é o lobo em pele de cordeiro.

A fala dos “dois milésimos”, após a história do aumento de imposto como “investimento”, foi realmente a gota d’água. Levy envergonha todos os doutores de Chicago e admiradores de Milton Friedman e companhia. É apenas alguém que defende o indefensável, que deseja avançar ainda mais sobre nossos bolsos para sustentar um governo incompetente, corrupto e perdulário.

Rodrigo Constantino

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