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Dólar cai e já vale R$ 3,25: em defesa de um câmbio livre que flutua ao sabor do mercado
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O dólar recuava mais de 1% e girava em torno de 3,25 reais nesta quarta-feira, reagindo ao ambiente externo favorável e à ausência do Banco Central do mercado de câmbio. Às 10:12, a moeda caía 1,56%, a 3,2545 reais na venda. A divisa chegou a 3,2465 reais na mínima da sessão, menor nível intradia desde 23 de julho de 2015 (3,2225 reais).

Operadores citavam ainda a percepção de que o BC brasileiro deve ser menos propenso a intervir no mercado, apesar de possíveis impactos negativos sobre as exportações. “Parece que o BC não quer gerar ruídos no mercado e isso ajuda a queda do dólar. Por sua vez, um dólar mais fraco facilita a ancoragem das expectativas de inflação”, explicou o operador de um importante banco nacional.

O BC não faz leilão de swap reverso, que equivale a compra futura de dólares, desde 18 de maio. Nesta terça, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, repetiu que a autoridade monetária pode reduzir sua exposição cambial quando e se for possível e que poderá usar todas as ferramentas com parcimônia no câmbio.

O novo presidente do Bacen, Ilan Goldfajn, está certo: o dólar deve flutuar mais livremente, ao sabor do mercado. A turma da Fiesp pode reclamar, mas é o melhor para a economia como um tudo. Os “desenvolvimentistas” podem chiar, pois acreditam que basta desvalorizar artificialmente a moeda para o país crescer, mas estão, como sempre, equivocados.

Antigamente, ter uma moeda forte era sinônimo de ter uma economia saudável. Mas hoje muitos acreditam na “guerra cambial”, na desvalorização como mecanismo para driblar os problemas estruturais da economia. Alguém lembra de Belluzzo, aquele que conseguiu quebrar o Brasil e o Palmeiras, afirmando que com um dólar acima de R$ 3 nossa economia iria deslanchar? Pois é…

O câmbio é um termômetro, e um dos mais importantes. Sofre influência de tudo que é fator, sinaliza aos agentes de mercado informações relevantes para suas tomadas de decisão. Se a crença é num futuro sombrio, como durante o governo Dilma, então o dólar dispara. Mas se há expectativa de melhoria à frente, como agora, ele pode perder valor para o real.

Minha primeira coluna oficial no GLOBO, em 2009, foi justamente sobre a necessidade de se deixar a moeda flutuar livremente. Segue o texto, pois os argumentos continuam totalmente válidos:

Por um câmbio livre

Com a valorização do real frente ao dólar, parece natural que as indústrias nacionais concorrentes de produtos importados comecem a pressionar o governo em busca de uma intervenção no mercado de câmbio. A manipulação da taxa de câmbio sempre representou uma alternativa tentadora, por seu efeito mais imediato. Lutar pela redução da burocracia e dos impostos, com a conseqüente queda dos juros, costuma dar mais trabalho e levar mais tempo. No entanto, intervir no câmbio é análogo a mexer no termômetro para controlar a temperatura: ataca-se o efeito, não a causa.

A razão entre o real e o dólar nada mais é do que um preço. E como todo preço, ele é definido pelo encontro entre a oferta e a demanda. São infinitas variáveis levadas em conta por cada agente do mercado, e o vetor resultante dessa interação toda é justamente o preço final. Por isso ele acaba oscilando tanto. Quando uma empresa fecha a importação de máquinas, há impacto no câmbio. Quando a Vale fecha a venda de seu minério para a China, há impacto também. Quando uma família decide fazer uma viagem para o exterior, outro impacto. E por aí vai.

O preço resultante dessas escolhas carrega em si importantes informações para os diferentes agentes. Seria impossível para qualquer entidade, independente do conhecimento acumulado, identificar cada pedaço importante de informação contido no preço final. Isso é válido para o preço de qualquer bem: uma banana, uma consulta médica ou um avião. A demanda por um determinado bem depende das preferências subjetivas de milhões de consumidores, enquanto a oferta depende do custo de inúmeros insumos.

É impossível alguém determinar qual o preço justo ou adequado para um produto qualquer. Na antiga União Soviética, havia um órgão, Gosplan, encarregado de calcular com complexos modelos matemáticos o preço de milhares de itens. O resultado desse trabalho foi uma escassez generalizada nas prateleiras, e distorções graves na economia, levando finalmente ao declínio do regime.

As mesmas distorções ocorrem quando governos manipulam artificialmente as taxas de câmbio ou juros. Um dos casos mais famosos foi a Inglaterra tentando manter a libra fora de seu preço de mercado. As inexoráveis leis do mercado acabaram prevalecendo, e George Soros ganhou bilhões à custa dos contribuintes ingleses. A bancarrota argentina também teve ligação direta com as manipulações na taxa de câmbio. E mais recentemente, o controle estatal da moeda chinesa, mantida menos apreciada do que deveria, contribuiu para criar a bolha financeira que acabou estourando. Não se consegue brincar com os preços das moedas impunemente.

Voltando à valorização do real, deve-se ter em mente que ele não foi a única moeda a subir em relação ao dólar. Trata-se de um fenômeno maior, presente em boa parte dos mercados emergentes. Por trás desse movimento existem causas estruturais e conjunturais, sendo impossível determinar exatamente quanto cada fator representa. Buscar uma taxa de câmbio “ideal” seria uma tarefa quixotesca, fadada ao fracasso. Se por um lado os concorrentes de bens finais importados reclamam, por outro lado aqueles que necessitam de bens de capital importados para investimentos agradecem, assim como todos os consumidores de produtos importados ou viajantes para o exterior. Qual desses grupos deve ser privilegiado pelo governo?

Existe somente uma maneira de evitar uma disputa política pelo controle do câmbio. A solução é retirar o governo da jogada. Os preços devem ser totalmente livres.

Rodrigo Constantino

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