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É possível ser um crítico construtivo do governo, mesmo temendo a ala autoritária?
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Não é difícil entender a postura da imensa maioria daqueles com bom senso: torcem para que o governo dê certo, pois são brasileiros, apoiam as reformas econômicas, pois são boas, mas temem a ala fanática e autoritária do bolsonarismo, pois é perigosa. Daí ser um crítico construtivo.

Essa turma quer que o governo avance com as reformas, muitos até simpatizam com as pautas conservadores nos costumes, e entendem que Bolsonaro pode ser como um pesado antibiótico, um “mal necessário”, uma quimioterapia para combater um mal maior, o câncer do petismo.

Não obstante, ela sabe que vem junto os efeitos colaterais dessa escolha, a postura arrogante do presidente, a militância fanática comandada por seus filhos, os jacobinos e Robespirralhos da vida, os nerds que se veem como cavalheiros templários salvando a civilização e a alta cultura porque aprenderam a xingar todo mundo com o guru de Virgínia.

Diante desse pacote, o sujeito com bom senso faz um esforço enorme para engolir essa ala sob influência do populista Steve Bannon, que nem Trump quis manter por perto. Prefere focar naquilo que há de positivo e virtuoso no governo, coloca uma foto do Paulo Guedes na geladeira, uma de Tarcísio de Freitas no espelho do banheiro, para a todo momento lembrar porque tem que aturar Carlos, Eduardo e Flávio, o trio do clã Bolsonaro, ou a própria verborragia do presidente.

É como aquele que chega na lanchonete faminto, mas só encontra uma empada com azeitona, que ele detesta. A fome fala mais alto! A empada, tirando a maldita azeitona, é boa. Então paciência: ele vai encarar a azeitona. O bolsonarismo é a azeitona na empada liberal.

A agenda como um todo é boa! Então dá para digerir o bolsonarismo – desde que não abuse em sua essência tribal de guerra permanente, desde que não coloque tudo a perder fazendo com que esse lado negativo comece a superar o positivo. É essa a postura do crítico construtivo: ele deseja o melhor, ele reconhece os méritos do governo, mas ele teme o fanatismo que sustenta o fenômeno.

A alternativa sendo o sujeito se tornar um bolsonarista minion, passador de pano, bajulador de político, puxa-saco de poderosos, que ataca de forma vil qualquer um que ousa tecer uma dessas críticas construtivas ao governo. E esse típico bolsonarista vai justamente demonizar o crítico construtivo, fortalecendo sua crença de que precisa ser cada vez mais crítico e se afastar desse troço esquisito e perigoso.

Para não entender isso é preciso ser limitado. Ou, claro, há a possibilidade de o sujeito que não é burro fingir que não entende isso e deliberadamente mostrar espanto diante de um crítico construtivo, mesmo quando alerta para o risco de autoritarismo. Aí estamos falando de canalhas mesmo…

Rodrigo Constantino

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