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E se eu fosse Joaquim Levy… Ou: Quem é John Galt?
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E se eu fosse Joaquim Levy? Bem, para começo de conversa, jamais teria aceitado fazer parte de um governo petista. Não sou vaidoso a esse ponto ou “pragmático” nesse patamar. Tenho meus princípios e não os sacrifico em nome dos “bons resultados”. No mais, quais bons resultados mesmo? Ah, a situação estaria ainda pior se algum Belluzzo da vida estivesse no comando da Fazenda? Fato. Mas será que o efeito pedagógico não seria muito maior, o que faria um bem enorme para o Brasil a longo prazo?

E foi com isso em mente que pensei no que faria se fosse Joaquim Levy, hoje, assumindo que ele já está lá. Há uma cena em A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, em que o herói John Galt, sob coerção, “aceita” fazer o papel que o governo espera dele, mostrando afinidade com os poderosos. Ele vai na festa, deixa as câmeras o filmarem ao lado dos poderosos representantes do sistema, tudo de acordo com o script. Até (spoiler) o momento em que ele aproveita toda essa atenção ao vivo e, num gesto rápido, deixa a arma do seu “camarada” à mostra, para que todos possam ver com os próprios olhos o verdadeiro motivo de sua presença ali.

Quem é John Galt? Alguém que tinha valores bastante intransigentes e não aceitava contemporizar com um governo opressor, corrupto, mentiroso. Idealista? Sem dúvida. John Galt é um herói bem caricato, pois Ayn Rand detestava a região cinzenta, e enxergava tudo de forma maniqueísta, preto ou branco. Mas se trata de um romance, e o extremo serve, ao menos, como um nobre ideal a ser seguido. Galt não tolera o governo opressor, e mesmo ciente da retaliação por sua medida, faz o que é certo: expõe a farsa!

Voltamos a Levy. Seu papelão no governo está evidente para todos, e não foi por coerção que ele acabou no ministério. O “ajuste fiscal” é uma piada de mau gosto, é zero, sem falar da dependência do aumento de impostos, algo indecente, imoral num país como o Brasil, que já tem carga tributária de quase 40% e péssimos serviços em troca. Levy serve apenas de bode expiatório para a esquerda em geral e o PT em particular, que poderão acusar o “neoliberalismo” pela crise uma vez mais, eximindo de responsabilidade o nacional-desenvolvimentismo heterodoxo, verdadeiro culpado por tudo. Tanto que o próprio PT, partido da presidente Dilma, vai se unir à CUT para protestar… contra Levy e “suas” medidas!

Ou seja, Levy empresta alguma credibilidade aos mercados, já se esvaindo (vide a alta do dólar hoje), mas, em contrapartida, serve como desculpa para a esquerda, cai como uma luva na narrativa canalha de que foi o “ajuste fiscal” (qual?) ortodoxo e “neoliberal” o responsável pelo caos. Dilma pode posar ao lado do “John Galt”, do economista da Universidade de Chicago, e mostrar como os “neoliberais” estavam com ela, alinhados, no comando da economia. Está na hora de Levy expor a arma do PT em público, mostrar que o rei está nu.

Se eu fosse Levy, portanto, renunciava hoje, e faria isso contando toda a verdade. Diria que a situação da economia é muito pior do que o governo admite, que foi tudo causado pela “nova matriz macroeconômica”, que o tamanho do buraco a ser preenchido é gigantesco e um “ajuste fiscal” de 0,15% do PIB é uma brincadeira de mau gosto, uma piada, pois necessitamos de mudanças bem mais radicais, de reformas estruturais, da redução drástica dos gastos públicos.

O dólar ia disparar com o medo de alguém da Unicamp assumir a Fazenda? Sem dúvida! A crise ia piorar no curto prazo, o sofrimento seria ainda maior. Mas há momentos na vida em que a alternativa à dor momentânea é a morte, ou um sofrimento bem maior depois. Imaginem o efeito pedagógico que essa atitude corajosa e ousada de Levy teria para milhões de brasileiros mais leigos, que ainda acreditam nas baboseiras da esquerda. Empresários, tendo de enfrentar a realidade sem maquiagem, não mais elogiariam Dilma como “corajosa” e “patriota”. Ficariam com raiva, muita raiva de sua verdadeira face ficar exposta, com tudo que isso representaria em termos de agravamento da crise. Quando dói no bolso, essa gente sem ética sente.

Quanto pior, melhor? Não! Quanto mais transparente e realista, melhor! E a realidade é muito feia, eis a verdade que Levy, de certa forma, ajuda a esconder, a ocultar do povo brasileiro. Ajuste gradual? Uma “mudança de rumo”, sem efetivamente dar nome aos bois e reconhecer que o rumo petista estava destruindo o Brasil? Isso é mascarar a realidade. Isso é John Galt atuando como garoto-propaganda dos seus inimigos. Quem pariu Mateus que o embale!

Sai já daí, Levy, e faz isso colocando a boca no trombone, jogando a porcaria no ventilador, apontando o dedo para os verdadeiros culpados pela grave crise. O Brasil precisa, de uma vez por todas, de uma verdadeira aula sobre a desgraça que é o intervencionismo estatal na economia, o modelo de governo inchado, o nacional-desenvolvimentismo, a mentalidade que delega ao governo o poder de locomotiva da economia. Se você denunciar isso tudo aí de dentro, muita gente vai escutar, vai refletir, vai se dar conta de que não é o “neoliberalismo” o vilão, e sim o próprio governo!

Rodrigo Constantino

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