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Escolha de Joaquim Levy para BNDES pode gerar desconfiança, mas não é ruim
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O economista Joaquim Levy aceitou o convite do futuro ministro da Economia Paulo Guedes para presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo de Jair Bolsonaro (PSL).

Com extensa experiência em gestão pública, Levy é PhD em economia pela Universidade de Chicago e atualmente ocupa a diretoria financeira do Banco Mundial. O economista foi ministro da Fazenda no segundo governo de Dilma Rousseff (PT), em 2015, no momento em que a crise econômica batia na porta do Brasil.

Tentou, sem sucesso, promover reformas, sobretudo na Previdência, mas se viu sozinho – estava sem apoio no governo e no Congresso. Acabou demitido por pressões do próprio PT.

Levy é engenheiro naval e era diretor do Bradesco até ser convidado para o governo Dilma. Foi também secretário do Tesouro Nacional no governo Lula, integrando a equipe montada pelo então ministro da Fazenda Antônio Palocci. Também ocupou o cargo de secretário de Fazenda no primeiro governo de Sérgio Cabral no Estado do Rio.

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A indicação de Levy pode ser considerada uma vitória da visão econômica mais liberal, capitaneada por Paulo Guedes dentro do governo. O grupo formado por militares na equipe de Bolsonaro, com visão um pouco mais estatizante, defenderia um BNDES menor, mas com alguma função no financiamento à inovação e aos investimentos em infraestrutura.

Já para o grupo mais liberal, o BNDES poderia se dedicar apenas às privatizações de estatais e estruturação de projetos de concessões de infraestrutura à iniciativa privada. Essa função teria prazo de validade. Vendidas as estatais e concedidos os principais projetos de infraestrutura em carteira, o BNDES poderia até mesmo ser extinto.

Num primeiro momento, essa escolha pode suscitar todo tipo de desconfiança. Afinal, como pode um ex-ministro de Dilma ir para um governo Bolsonaro? Levy também estava no governo de Sergio Cabral, o que novamente gera desconforto. É, portanto, totalmente compreensível que os eleitores de Jair Bolsonaro fiquem preocupados com essa nomeação para cargo tão importante. Mas acho que o medo é exagerado.

Levy, afinal, é um técnico, e não um político. Não foi para o governo petista por afinidade ideológica, e sim para executar uma função definida, que não conseguiu e por isso mesmo o fez sair. Vou dizer algo que vai incomodar alguns leitores, e que alertei lá atrás: ou Bolsonaro trairia os seguidores mais fanáticos, ou trairia os eleitores que embarcaram na jangada por conta de Paulo Guedes e discursos mais sérios e moderados.

Há um país complexo para ser governado, e a época da retórica de campanha terminou. Todos sabem que falta quadro técnico ao PSL. Não há como preencher todos os cargos relevantes com neófitos que se aproximaram do capitão por seu tom antipetista, mas que não possuem bagagem, experiência, currículo.

Dito isso, o foco agora deve ser abrir a caixa preta do banco e, de preferência, reduzir seu escopo e acabar de vez com a “seleção dos campeões nacionais”. Nesse contexto, é alvissareiro que o próprio Bolsonaro tenha acatado a recomendação de seu “posto Ipiranga”, mas tenha feito um importante alerta: se não cumprir essa missão, está fora!

“Tanta gente que já apoio a Dilma, apoio o Lula, apoiou o Temer… Não é por que apoiou, teve do lado, num cargo, que você vai execrar o cara. Teve cara que passou por lá sem problema nenhum”, disse o presidente eleito. Bolsonaro ainda disse que Levy foi escolha de Paulo Guedes, que pediu um voto de confiança. Sobre sua declaração de abrir todos os sigilo de empréstimos do BNDES, o presidente eleito foi enfático: “A caixa-preta vai ser aberta na primeira semana! Não tenha dúvida disso. Se não abrir a caixa-preta, ele está fora, pô”.

Paulo Martins foi um que endossou a escolha: “Se o Levy aceitou tais condições, então é mais gol, pois trata-se de um grande técnico”. Outro ponto da escolha de Joaquim Levy que não deve ser ignorado: não era Marina Silva que se vangloriava que governaria com os melhores quadros de “todos” os partidos, para êxtase dos jornalistas? Deixando de lado o fato de que ela pensava só em PT, PSOL e PSDB quando dizia isso, foi Bolsonaro que demonstrou humildade e foco nos resultados ao apontar um ex-ministro de Dilma.

Ele tem as qualificações técnicas necessárias, e saiu do governo justamente porque suas “mãos de tesoura” não combinavam com as políticas inflacionistas da petista. Entendo a desconfiança de alguns, e todo cuidado é pouco, ainda mais com gente que participou de alguma forma de governos corruptos de esquerda; mas Bolsonaro demonstra maturidade ao aceitar essa indicação de Paulo Guedes. #DeixaoHomemTrabalhar!

Rodrigo Constantino

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