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Esquerda ignorante pega exceção pela regra para pintar uma direita caricata
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São décadas de hegemonia cultural da esquerda no Brasil. O estrago foi tão grande, que muitos “formadores de opinião” e jornalistas sequer se dão conta de que não passam de agentes de Gramsci, mesmo sem nunca ter lido a obra do comunista.

O domínio absoluto trouxe a preguiça, a negligência, e o emburrecimento: essa turma não leu os pensadores de direita, liberais ou conservadores, que eram demonizados pelos professores nas faculdades, e não faz a menor ideia do que essas doutrinas efetivamente pregam.

Diante do fracasso da esquerda no poder e do surgimento da “onda conservadora”, em boa parte possível pelo advento das redes sociais, esse pessoal fica mais perdido que cego em tiroteio, e precisa ridicularizar o fenômeno. Como?

Ler Oakeshott, Dalrymple, Scruton, Burke, Mises, Hayek e companhia dá muito trabalho. Bem mais simples pegar uma patota insignificante, que não fala em nome dessa nova direita, e tomar a exceção como a regra, para bater em espantalhos. Seria como dizer que o PCO representa toda a esquerda nacional, inclusive aquela do PSDB.

Pior: enquanto até mesmo os radicais de esquerda, como Guilherme Boulos, são tratados com respeito pela mídia, qualquer um à direita é logo associado aos extremistas que falam em nome da direita, sem o devido reconhecimento por parte das principais lideranças dos movimentos liberais e conservadores.

Em muitos casos é uma tática deliberada, mas em tantos outros é mesmo desespero e ignorância, de quem viveu a vida toda sem sair da bolha “progressista”, acreditando que bastava “ser de esquerda” para ser do bem, para demonstrar como se importa com os pobres e minorias oprimidas, enquanto todo liberal e conservador só pode ser um monstro moral, um insensível, ganancioso, obscurantista e reacionário autoritário.

Uso duas colunas recentes para ilustrar meu ponto. No Estadão de hoje, Eliane Cantanhêde, que sempre dava um jeito de dourar a pílula para o PT, usa uma minúscula minoria barulhenta para retratar toda a direita, associando a onda conservadora ao que há de pior no mundo:

Há ou não uma onda conservadora no Brasil, arrastando a política, a economia, o comportamento e a visão de mundo das pessoas? Essa questão é impulsionada pela ascensão do deputado Jair Bolsonaro ao segundo lugar nas pesquisas presidenciais, pelos assassinatos de mulheres (pelo menos quatro horrendos na semana passada!) e por militantes que botam fogo num boneco representando a pensadora Judith Butler, defensora da identidade de gênero. Fogueiras?! Bruxas?!

[…]

A americana Judith Butler, recebida com gritos e agressões em São Paulo (que vergonha!), avisa que pode demorar mais ou menos, mas a vitória sobre a intolerância é certa: “As pessoas querem viver com liberdade, com alegria, não com vergonha e com censura. Temos a alegria e a liberdade do nosso lado. Por isso, vamos vencer”. Amém.

Amém?! A jornalista deixa transparecer sua verdadeira religião, e ela atende pelo nome “ideologia de gênero”. Tolerância? Na esquerda? A mesma que cala conservadores em universidades, que agride pessoas que simplesmente desejavam ver um filme sobre Olavo de Carvalho, que aplaude black blocs, invasores do MTST e MST? A mesma esquerda que xinga Yoani Sanchez, a dissidente cubana? Essa esquerda representa a tolerância e o amor contra a direita que queima bruxas?

A outra coluna é a de Antonio Prata na Folha este domingo, em que ele defende o “direito do imbecil”, talvez em causa própria, alguém poderia dizer. Mas Prata não considera a possibilidade de ser ele o grande imbecil, pois ele é “descolado”, “progressista”, “tolerante”, enquanto os direitistas são um bando de alienados tacanhos. Eis a imagem que ele tem da direita:

O imbecil também é gente e se quiser defender a volta das crucificações, a instalação de um pato guilhotina diante da Fiesp ou a indicação do Alexandre Frota para o Ministério da Educação, não cabe ao Estado calá-lo, mas a todos os não imbecis rebatê-lo racionalmente.

Além da questão ética há uma outra, estratégica, para que deixemos os imbecis espalharem aos quatro ventos o vento de suas cabeças ocas: o cretino com voz é apenas um cretino, mas o cretino censurado se transforma num mártir da liberdade de expressão.

Se permitirmos que se comuniquem, há grandes chances de os patetas tropeçarem nos próprios cadarços, como os que protestaram diante do Sesc contra a filósofa Judith Butler, brandindo crucifixos, ateando fogo a uma boneca e gritando “Queimem a bruxa!”. Basta calarmos o bufão, no entanto, e ele vira um herói das liberdades individuais numa cruzada contra a tirania do Estado, repetindo cacos de Thoreau copiados do Facebook e aspas do Mises pinçadas do Twitter.

[…]

Nesta quarta (8), uma comissão da Câmara aprovou, por 18 votos (todos homens) contra um (mulher), a proibição do aborto mesmo em caso de estupro. Serão esses parlamentares influenciados pela poderosíssima “ideologia de gênero” que os carolas do Sesc combatiam com cruzes e chamas? Terão estes senhores sido vítimas do complô de doutrinação comunista que o Escola Sem Partido luta tanto para derrubar?

No domingo passado (5), enquanto 6 milhões de adolescentes faziam o Enem, com o aval do STF para se manifestarem contra os direitos humanos, Luan Nogueira, de 14 anos, saiu de casa para comprar biscoito, em Santo André, e foi morto por um PM com um tiro no pescoço. Sua mãe, impedida pela polícia de se aproximar do corpo, coberto por um saco plástico, reconheceu o filho pela sola do sapato. Sem dúvida, precisamos urgentemente lutar pelas liberdades individuais contra a tirania do Estado, mas será que é combatendo os direitos humanos?

Alexandre Frota deve mesmo falar em nome da direita, não é mesmo? Prata cita Mises, quem certamente nunca leu, mas imbecil é o outro, é sempre o outro. Termina seu texto patético citando um caso de morte pela PM, ignorando que mais de cem policiais já morreram esse ano só no Rio, e que a sua esquerda defende esse ambiente de desordem que permite esse tipo de coisa, a começar pelo ataque sistemático à PM “fascista”. Mas, repito, imbecil é sempre o outro.

Cantanhêde e Prata são apenas dois num mar de colunistas de esquerda, nos principais jornais do país, inclusive aqueles considerados “de direita” (risos). E eis a imagem que eles fazem da direita: um bando de imbecis toscos que querem queimar bruxas e obras de arte!

O Antagonista, que certamente não é de direita, reconheceu que essa distorção do conservadorismo em nada ajuda, e pode inclusive jogar lenha na fogueira. Comentando o texto de Cantanhêde no Estadão, o site disse:

O subtítulo do artigo também questiona se a “a crise política, econômica e ética induz a um contra-ataque do conservadorismo”. A resposta a essa pergunta específica é sim. Mas o que também induz a um contra-ataque (cultural, diga-se) de conservadores ou eleitores de Bolsonaro (ser um não necessariamente implica ser outro) é serem colocados pela imprensa no mesmo saco de vândalos e assassinos de mulheres.

É por aí mesmo. Enquanto Lucas Berlanza escreveu um texto para o Instituto Liberal condenando aqueles que foram atacar Judith Butler, não vimos a esquerda condenando com veemência os ataques sofridos por direitistas, que são inclusive bem mais constantes. É como se a esquerda pudesse agredir, pois, afinal, está sempre do lado do bem lutando contra o mal, contra fascistas terríveis.

É por causa de gente como Eliane Cantanhêde e Antonio Prata, entre tantos outros, que a onda conservadora só cresce. Enquanto a esquerda insistir em bancar a “isentona” e demonizar toda a direita, pegando grupelhos insignificantes como se fossem a regra, as pessoas normais vão perceber o absurdo da estratégia e se voltar contra essa esquerda cínica, canalha e hipócrita, que fala em nome da tolerância e da diversidade ao mesmo tempo que só prega intolerância e preconceito.

Rodrigo Constantino

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