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Esquerda radical rachada e Bolsonaro fechado em gueto são boas notícias para Alckmin
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Nos dias de hoje, fazer análise política é complicado, pois a maioria está no “mode” torcida. Sei que uma ala vai entender esse texto, então, como uma defesa da candidatura do tucano Alckmin. Nada mais longe da verdade, mas paciência: não escrevo para os seguidores mais limitados, e sim para a maioria, que considero inteligente.

Primeiro, a melhor notícia não só para liberais e conservadores, mas para qualquer brasileiro razoável e democrata: o racha na extrema-esquerda, por culpa exclusiva do ego de Lula. A esquerda radical foi “sequestrada” pelo PT, que, por sua vez, é totalmente dominado por Lula, mesmo da prisão (algo comum no país as quadrilhas continuarem controladas dos presídios).

Parêntese: é impressionante como a esquerda radical toda obedece a um só nome, ao capo, ao chefe da quadrilha. À “empoderada” Manu, feminista de discurso, caberá apenas o papel de dizer “sim, painho” a qualquer exigência de Lula, homem branco. É cômico. Fecho parêntese.

O que começa a ser desenhado não é o “Plano B” de Lula ou do PT, e sim seu Plano A mesmo, aquele que Lula arquitetou desde o começo. Ele nunca esperou ser o candidato de verdade. Estava jogando o tempo todo com sua narrativa, sabendo que teria seu “ungido” na hora certa.

Pode ter esperado demais, o que significa menos chance de Haddad conquistar a transferência dos votos. Mas era um risco que Lula estava disposto a correr, por conta de sua vaidade e seu projeto pessoal. Ciro Gomes achou que seduziria Lula e o PT, o que mostra como conhece pouco essa turma – ou como se deixou levar pela própria vaidade também.

Não é à toa que a vaidade é o pecado preferido do Diabo. E agora temos um racha na esquerda radical causado graças ao ego de Lula e à ambição desmedida de Ciro Gomes. Se ambos estivessem unidos, a extrema-esquerda já estaria no segundo turno. Agora, com PT e PDT seguindo caminhos independentes, há a chance de um segundo turno sem socialistas, o que é alvissareiro. Temos de agradecer a Lula, que gosta de controlar seus postes inexpressivos, e também a Ciro, turrão demais para aceitar papel secundário.

Por outro lado, Bolsonaro tem cometido erros que podem afetar seu crescimento ou mesmo sua manutenção nos patamares atuais das pesquisas. A novela da escolha do vice mostrou bem a dificuldade de o candidato articular alianças maiores do que seu universo fechado. Magno Malta era a “noiva” cortejada, nem que para isso fosse preciso levar Valdemar Costa Neto junto. O mensaleiro do PR traria, ao menos, o tempo de televisão.

Sem sucesso, Bolsonaro partiu para Janaina Paschoal, advogada ligada ao impeachment de Dilma. Esta recusou alegando “questões familiares”. O príncipe era o mais cotado como alternativa, e o escolhido dos seguidores mais refinados, mas Bolsonaro deve ter achado essa coisa de “príncipe encantado” um tanto afeminada, e preferiu fechar com o general Mourão mesmo, do partido de Levy Fidelix.

Forma-se, assim, a chapa “reaça raiz”, da defesa de uma “intervenção militar” e do legado do comandante Ustra. Mourão já se referiu à postura de alguns seguidores de Bolsonaro como “meio boçal”, é verdade, mas o fato é que sua escolha reforça esse núcleo duro, muito presente nas redes sociais, dos militantes mais aguerridos do capitão.

Aerotrem com nióbio! O PRTB é um partido nacionalista, contra privatizações, e o próprio Fidelix, uma figura um tanto tosca, já criticou Bolsonaro por não aceitar “o mercado mandando no Brasil”. Fidelix atacou a escolha do economista Paulo Guedes, o liberal que garante o melhor selo de qualidade da candidatura de Bolsonaro:

https://youtu.be/jngBogItAX4

O projeto do PRTB não é conservador, tampouco liberal, e sim nacionalista ao extremo. Em vez de escolher alguém que permitisse abrir frente com um público maior, Bolsonaro optou por alguém que reforça a câmara de eco existente, fechando-se em seu gueto, como analisou Paulo Celso Pereira:

A opção por um militar vai na contramão da estratégia básica de candidatos ao poder Executivo, que tentam escolher vices que ajudem a diminuir as resistências que sofrem em determinados setores ou agreguem votos e máquinas partidárias. Mourão tem exatamente o mesmo perfil do cabeça da chapa: é militar, conservador, antipetista e chegou a propor uma intervenção militar.

Após ter conquistado cerca de 20% do eleitorado, e estabilizado nesse patamar, Bolsonaro precisa hoje agregar votos de setores que não rezam fielmente por toda a sua cartilha. A indicação de Mourão, no entanto, só fortalece o núcleo mais radical de sua base de apoio, que embora tenha sido a origem do movimento que o levou a liderar a disputa pré-eleitoral – também é o cerne de seus altos índices de rejeição.

Para vencer, Bolsonaro terá que atrair gente mais moderada, de fora de seu reduto atual. Janaina sem dúvida faria isso, assim como Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, transmitindo a serenidade e o verniz intelectual que faltam ao candidato. Mourão, ao lado de Levy Fidelix, faz justamente o contrário: espanta os mais moderados e reforça a imagem de “direita tosca”, flertando quase com o antigo integralismo.

Os erros estratégicos da esquerda radical e de Bolsonaro ajudam, claro, Geraldo Alckmim. O picolé de chuchu sem carisma e sem coragem de bater de frente com o PT vai comendo pelas beiradas, jogando com todas as fichas que tem, costurando alianças para dispor da maior máquina partidária, com tempo de televisão e muitos cabos eleitorais:

Fonte: GLOBO

Até que ponto isso ainda importa na era das redes sociais? Vamos descobrir em breve. Mas o fato é que Alckmin, com seu PSDB pusilânime e eternamente em cima do muro, não teria a menor chance sem os erros de Lula e a intransigência de Bolsonaro, ou sem essa máquina toda trabalhando a seu favor. Se hoje ele se mostra competitivo, isso se deve somente aos escorregões dos demais e à sua capacidade de atrair o “centrão”, ou seja, o “mecanismo” (a um custo bem elevado para o futuro de nossas reformas, sem dúvida).

Se Lula e Ciro fossem menos vaidosos e egoístas em seus projetos pessoais, a extrema-esquerda já teria vaga garantida no segundo turno. E se Bolsonaro fosse capaz de ceder um pouco mais, de abrir mão de sua necessidade de controle ou da lealdade plena dos aliados, teria mais chance de atrair o voto dos moderados, além da base de apoio que já possui. Desse jeito, seu nível de rejeição vai continuar bastante alto, o que pode ser fatal numa eleição majoritária.

Muita água ainda vai rolar nas próximas semanas, mas o cenário começa a ficar mais definido. E todos aqueles que confundiam rede social com política de fato, ou torcida com análise, vão acabar aprendendo umas duras lições nessa eleição, ao que tudo indica…

Rodrigo Constantino

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