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Olá, eu sou o iPhone. Você provavelmente anda comigo para cima e para baixo, e me considera indispensável. Mal consegue imaginar sua vida sem mim. Toma como certa cada uma de minhas funções, e em minha versão mais moderna não custo mais do que algumas centenas de dólares, apesar de toda a tecnologia que carrego em mim.

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Eis o ponto aqui: nenhuma pessoa do mundo, nem mesmo a mais genial de todas, saberia como me criar do zero. Não falo “apenas” dos componentes mais tecnológicos, mas de tudo. Pense nas máquinas necessárias para obter os recursos naturais que uso, nas ferramentas usadas pelos mineiros, em cada detalhe que tenho em meio a essa incrível complexidade. Minha árvore genealógica vai bem longe.

Sou global também. Tenho partes feitas na Alemanha, na Coreia, no Japão, em Taiwan, na França, na Itália, na Holanda, inúmeras etapas realizadas nos Estados Unidos e sou finalmente montado na China. Sou eu, não Obama, o verdadeiro “cidadão global”.

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O mais incrível disso tudo é que não há uma mente genial coordenando cada um desses passos de forma centralizada. Eu não fui pensado desde a origem, não houve alguém determinando que era para obter lítio, transformar sílica em vidros finíssimos, fazer baterias leves e duradouras, criar memórias parrudas e minúsculas etc. Tudo isso foi acontecendo em paralelo, sem controle, sem um comitê central para a “criação do iPhone”.

Cada indivíduo, cada empresa diferente em cada canto do mundo estava seguindo sua agenda própria, motivados por seus interesses particulares, sem me ter como foco ou meta. Mas, guiados como que por uma “mão invisível”, todos eles foram, de alguma forma, possibilitando o meu nascimento. Até que alguns indivíduos, sob a liderança de um empreendedor astuto, tiveram o insight de me construir. Surgia então um objeto de desejo geral, que foi se adaptando, criando novas demandas sequer imaginadas, evoluindo.

Sou, portanto, a combinação de um amplo livre mercado calcado no lucro e na propriedade privada, e o empreendedorismo capaz de vislumbrar inovações desruptivas, num processo incrível de cooperação e competição, chamado por um economista austríaco de “destruição criadora”. Sou, em suma, uma espécie de milagre econômico, e vim ao mundo para gerar mais lazer, produtividade e eficiência. Se vendi mais de um bilhão de unidades é porque o consumidor me adora.

Até mesmo aquele que, em discursos, despreza tudo aquilo que tornou possível minha existência. Sim, o que mais tem por aí é socialista de iPhone, cuspindo no capitalismo, combatendo o livre mercado, condenando o lucro e as desigualdades. São ingratos e hipócritas. Mas não ligo: desde que eu possa continuar evoluindo sem interferência estatal, está tudo certo. Podem me usar à vontade…

Texto originalmente publicado na revista IstoÉ, em memória de Leonard Read

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