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Ferguson: racismo policial ou não? Algumas reflexões iniciais…
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Imagem do suposto assalto de Brown minutos antes de ser morto pela polícia

Confesso ao leitor antes de mais nada: não estou acompanhando em detalhes o caso do rapaz negro morto pela polícia em Ferguson, Missouri. Li alguma coisa aqui, alguma coisa lá, e ponto. O tempo é escasso e é preciso definir prioridades, e naturalmente o assunto político nacional roubou a cena. Mas tentarei contribuir com meus dois cents para nossa reflexão.

Podemos ver aqui um resumo do que está acontecendo e da escalada da tensão no local:

Os protestos e a violência não param em Ferguson desde que, em 9 de agosto, um policial branco matou a tiros o jovem negro Michael Brown, de 18 anos, que estava desarmado.

No domingo (17) à noite, a polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar manifestantes que saqueavam lojas. Os oficiais também foram alvos de ataques com coquetéis molotov e tiros.

“Diante dos atos violentos deliberados, coordenados e cada vez mais enérgicos contra pessoas e bens em Ferguson, ordeno que a Guarda Nacional de Missouri ajude a polícia a restaurar a paz e a ordem na comunidade”, anunciou o governador.

Protesto com tiro e coquetel Molotov não é bem protesto, mas agressão, violência, ataque ao império das leis e ao Estado de Direito, e deve ser duramente combatido. Dito isso, claro que é compreensível a revolta da população local, que jura se tratar de um caso de racismo, já que o jovem morto estaria desarmado.

A polícia alega que Brown morreu depois de reagir de forma agressiva e resistir à detenção. Mas Dorian Johnson, que acompanhava Brown quando ele foi baleado, afirmou que o jovem foi atingido quando estava com as mãos para o alto. Em quem acreditar?

A polícia divulgou uma gravação de um roubo ocorrido 20 minutos antes da detenção e morte de Brown, que mostra um jovem negro com altura similar à vítima roubando maços de cigarro em uma loja. Não sabemos ao certo quais são os fatos nessa história toda. Qualquer reação, portanto, demanda cautela.

Mas considero equivocada a tentativa de logo transformar isso tudo em mais uma narrativa simplista de racismo. Alguns chegaram a alegar que mais de 50% dos presos ou abordados pela polícia são negros ou hispânicos. E quantos que praticam os crimes são negros ou hispânicos? Só faria sentido suspeitar de racismo se houvesse grande discrepância entre uma coisa e outra, não?

Isso tudo me remeteu ao caso Zimmerman, guardadas as diferenças. Cheguei a escrever um texto na época, que segue abaixo:

O caso Zimmerman

O clima é de revolta nos Estados Unidos após George Zimmerman ter sido absolvido pela Justiça pela morte de Trayvon Martin. O caso ganhou visibilidade nacional, ou mesmo internacional, em boa parte graças ao pronunciamento de Obama, que afirmou que se tivesse um filho homem, ele se pareceria com Trayvon. Mas há muita, muita coisa errada nisso tudo, mostrando como a cartada racial faz, como primeira vítima, a busca pela verdade.

Primeiro, o contexto da coisa, de forma bem resumida. Para quem quiser mais detalhes, Ben Shapiro trata do assunto no capítulo sobre racismo em seu excelente livro Bullies. O bairro é violento, e uma onda de crimes e atos de vandalismo varre o local. Moradores criam grupos de proteção e vigilância. Zimmerman faz a ronda noturna, e observa um sujeito com atitude suspeita, olhando para algumas casas sozinho. 

Ele liga para a polícia e relata o que vê. O garoto percebe que está sendo vigiado, e acelerada o passo. Zimmerman quer segui-lo. O policial pede uma descrição do suspeito, e Zimmerman o descreve. Após a pergunta do policial, ele diz que o garoto parece ser negro. Na transcrição da conversa, isso não merece tanta atenção. 

O policial diz para Zimmerman não correr atrás do suspeito. Pouco se sabe depois disso. Mas sabe-se que Zimmerman chegou na delegacia local, após ter atirado no garoto, com sérios machucados na cabeça. Sua versão: o rapaz partiu para cima dele, bateu nele, que caiu no chão. Em legítima defesa, atirou e matou o suspeito. Mais um caso entre tantos na vizinhança perigosa. Caso encerrado para as autoridades locais.

Mas eis que a grande imprensa descobre o caso e leva para cadeia nacional. E há um detalhe: era época de campanha para presidente. Obama, acuado pelo desempenho fraco da economia, encontra a cartada racial perfeita: mais um crime contra negros nos Estados Unidos! A imprensa esquerdista morde a isca. Os trechos da conversa são editados, e passam a clara impressão de que um “branco” relatou do nada a cor do suspeito, e depois o matou. Crime de racismo.

Só que não era a verdade. Para começo de conversa, Zimmerman é meio hispânico, meio branco, assim como Obama é meio negro, meio branco. Para todos os efeitos raciais, ele é um hispânico. Um “pequeno” detalhe ocultado pela grande imprensa esquerdista, para alimentar a culpa da elite branca, o que sempre funciona. 

Em segundo lugar, o morto foi retratado como um pobre estudante, vítima do preconceito. Mas ele não era bem isso. É verdade que estava desarmado, que não era um assaltante em vias de cometer um crime, ao que tudo indica. Mas tinha um histórico nada exemplar. Era um hoodlum, como os americanos dizem, ou um “vadio”. 

O que a imprensa fez foi transformá-lo em uma pobre vítima que teve seu futuro brilhante destruído abruptamente por um branco racista. E isso caiu como uma luva para a campanha de reeleição de Obama, curiosamente elogiado por não utilizar a “cartada racial’ e se colocar como alguém pós-racial. 

Pelo visto, a questão da “raça” ainda está bem viva por lá, e muitos aproveitam isso para apelar para a vitimização das minorias contra a “elite branca”, mesmo quando temos o que parece ser uma morte por legítima defesa envolvendo um hispânico e um negro.

Se o leitor acha que tenho algum viés racial por ser branco, recomendo então o artigo, escrito antes do resultado do julgamento, de Thomas Sowell. A busca isenta pela verdade não tem cor de pele. 

Rodrigo Constantino

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