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Milhares de manifestantes, que ficaram conhecidos como “coletes amarelos”, tomaram novamente as ruas de Paris neste sábado e entraram em confronto com a polícia. Saques, incêndios e barricadas foram registrados na 18ª semana consecutiva de protestos contra as políticas do presidente francês, Emmanuel Macron , e seu estilo de governar. Os manifestantes afirmam que as políticas do Palácio do Eliseu trazem umalto custo de vida e criticam as reformas fiscais, fundamentais segundo o governo para trazer mais justiça social e econômica. Até o fim da tarde, no horário local, a polícia havia detido cerca de 240 pessoas.

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As manifestações reuniram 14 mil pessoas em todo o país, sendo 10 mil somente em Paris, comparadas a 2.800 da semana anterior, de acordo com o Ministério do Exterior. As autoridades acreditam que cerca de 1.500 eram “ultraviolentos”.

Vitrines de várias lojas foram quebradas, um banco foi posto em chamas. Bancas de jornais também foram incendiadas, enquanto fogueiras queimavam nas ruas. Quarenta e dois manifestantes ficaram feridos, além de 17 policiais e um bombeiro.

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A França vive o caos, e em parte e isso se deve ao governo fraco de Macron. O professor João Espada comentou a visão dirigista do primeiro-ministro francês em sua coluna no Observador hoje:

Fundamentalmente, em meu entender, a Carta de Macron é importante porque revela o equívoco fundamental que ameaça o projecto europeu: o estéril conflito entre Antigo Regime e Revolução, para usar a consagrada expressão de Alexis de Tocqueville.

Vários autores puseram em evidência, a meu ver certeiramente, a natureza dirigista e centralista das ideias propostas pelo Presidente francês. José Manuel Fernandes criticou vigorosamente neste jornal a ideia peregrina de criar “censores europeus” para “proteger as democracias nacionais” das “fake news” das redes sociais. A eurocéptica revista britânica The Spectator condenou o “dirigismo económico” de Macron. Numa convergência rara nos dias que correm, também a europeísta revista britânica The Economist condenou o “dirigismo económico” de Macron, num editorial certeiramente intitulado “L’Europe c’est moi”.Subscrevo todas essas críticas ao tom dirigista, centralista e federalista da carta do Presidente francês. Mas receio que o problema possa ser ainda mais fundo e mais grave.

O Presidente Macron apresenta as suas propostas centralistas como as únicas que exprimem a causa da União Europeia contra os seus inimigos — que ele designa como populistas, nacionalistas e xenófobos. Por outras palavras, está subjacente ao argumento do Presidente francês que quem discorda das suas propostas centralizadoras estará necessariamente ao lado do populismo e contra a União Europeia. Este é um equívoco crucial que não deve passar sem reparo.

Para quem tem boa memória, Macron era o “progressista” que despertava enormes esperanças na elite globalista e na mídia, enquanto Trump representava a maior ameaça ao planeta. Saindo da retórica e indo para os fatos, a economia americana vai muito bem, obrigado, com menor taxa de desemprego histórica para minorias, enquanto a França vive esses momentos crescentes de tensão social. Como de praxe, a esquerda é boa em promessas e discursos, enquanto a direita é melhor em entregar resultados concretos.

Mas não pensem que isso será suficiente para uma revisão de conceitos, um mea culpa, uma análise crítica. Quem acha isso não conhece o modus operandi dessa turma. Trump continua como a grande ameaça fascista, o sujeito que vai afundar não só a América, mas o mundo todo, enquanto Macron é um cara legal, descolado, preocupado com as causas nobres. A esquerda vive apenas de estética, nunca da realidade…

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Rodrigo Constantino