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É difícil levar a sério quem ainda leva Olavo de Carvalho a sério, mas como o próprio presidente Bolsonaro e seus dois filhos mais ativos nas redes sociais o levam muito a sério, a ponto de condecora-lo com honrarias de estado e enaltecer o tempo todo seu papel intelectual, não temos outra escolha além de prestar atenção no que o “filósofo” diz.

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E apesar das promessas de se retirar do debate político, que só bobinhos acreditaram, o homem está de volta com sua metralhadora giratória de ataques, xingamentos, apelidos pejorativos e, claro, teses conspiratórias, sem as quais sua seita não sobrevive. Para Olavo, a “classe jornalística” é toda de esquerda e comanda os políticos brasileiros. Vejam:

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Reparem como todo embusteiro lança mão de conceitos vagos, sem defini-los de forma objetiva ou sem dar nomes aos bois, para espalhar suas teorias conspiratórias. Olavo trata a “classe jornalística” como algo monolítico, coeso e organizado. Mas quem é essa classe? Reinaldo Azevedo? Ricardo Noblat? Miriam Leitão? Merval Pereira? Marco Antonio Villa? Carlos Andreazza? Vera Magalhães? Felipe Moura Brasil? Eu? Augusto Nunes? Guilherme Fiuza? Alexandre Garcia? J.R. Guzzo?

Aprendemos, com titio Olavo, que Andreazza e Vera Magalhães “controlam” Rodrigo Maia e o “centrão”, eis o que está sendo dito nessa mensagem estúpida. Mas ela não tem nada de estúpida se analisarmos pela lógica do PODER. É isso que interessa a Olavo e sua seita. E nessa campanha é preciso desqualificar toda a imprensa, tratada como inimiga do povo, fábrica de Fake News.

Parêntese: desnecessário dizer, uma vez mais, que enxergo o viés ideológico predominante na mídia mainstream, em boa parte “progressista”. Como já mostrava Bernie Goldberg em Bias, anos atrás, isso não se deve a uma conspiração de cima para baixo, mas ao simples fato de que a maioria dos jornalistas é de esquerda. Mas não existe uma “classe jornalística” nesse sentido que Olavo pretende dar à expressão.

Por que, então, esse ataque? É simples: olavetes precisam minar (ainda mais) a credibilidade da imprensa, para que o “jornalismo” chapa-branca seja a única voz na “informação” sobre os fatos. A militância olavista quer substituir a mídia, simples assim, para bajular em paz seu “mito” político e seu “guru” intelectual, sem questionamentos incômodos, sem contrapontos.

Mas quando um desses militantes consegue sair de uma terça livre para um canal mainstream, aí fica todo feliz por “ocupar espaços”. Quando o próprio Olavo dá entrevista ao Bial na terrível e golpista Rede Globo, isso é motivo de orgulho para a seita. Quando um jornalista defende alguma coisa do governo, ou aprova a manifestação no domingo, isso é um carimbo fundamental para a narrativa olavista, um selo de qualidade.

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Tratar o jornalismo como uma classe coesa é apenas uma estratégia de combate, portanto. O simplismo maniqueísta e binário vende bem para o público alienado. Marx fazia muito isso com sua luta de classes entre capital e trabalho. Olavo, que “foi” marxista, segue a mesma estratégia, mas sua luta de classes é entre “patriotas conservadores” (na verdade nacional-populistas autoritários) e “inimigos da nação”, que, descobrimos agora, são comandados pela “classe jornalística”.

Qualquer reflexão mais profunda sobre o que foi dito expõe a picaretagem. Mas Olavo está em local seguro. Sabe que seus seguidores fanáticos nunca farão perguntas incômodas, vão lembrar dos jornalistas esquerdistas e das Fake News, e vão aplaudir como uma incrível verdade revelada a denúncia estapafúrdia do “filósofo”.

E como há quem rebata as baboseiras e mostre a hipocrisia ao mundo, é preciso desqualifica-los também. Por isso Olavo precisa reagir assim, no pior estilo leninista de acusar os outros daquilo que faz e é:

Um agente provocador que incita massas revoltadas e alienadas: eis Olavo de Carvalho. Merecia ser apenas ignorado, claro. Como eu disse, ninguém sério o leva mais a sério. Mas só tem um pequeno problema: o presidente da República resolveu levar esse senhor muito a sério! E isso é temerário…

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Rodrigo Constantino