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Indústria tem pior resultado em 5 anos: calma, que vai piorar…
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A produção da indústria brasileira em 2014 decepcionou. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade do setor despencou 3,2% no acumulado do ano, depois de ter recuado 2,8% em dezembro. O resultado anual é o pior desde 2009, quando o indicador recuou 7,1%. 

Economistas ouvidos pelo Banco Central para o relatório Focus apostavam que a indústria registraria queda de 2,49% em sua produção em 2014. Para 2015, as estimativas do Focus já caíram por quatro semanas seguidas, passando de crescimento de 1,04% há um mês para 0,5% agora. 

O tema da “desindustrialização” esteve muito presente nos debates dos últimos anos. Há quem justifique que se trata de uma tendência global, ou que é apenas o resultado do enriquecimento do país. À medida que a classe média cresce, o setor de serviços tende a ganhar espaço frente à indústria. Quem já comprou um carro ou um refrigerador não compra dois ou três a mais; passa a consumir mais serviços.

Mas a explicação é bastante incompleta no caso brasileiro. Não é o caso de a indústria perder participação relativa no PIB, e sim de uma queda em termos absolutos! Nossa indústria está pagando um alto preço pelos equívocos do governo. É a principal vítima da “nova matriz econômica” e do nacional-desenvolvimentismo que norteia o governo Dilma.

Em um mundo globalizado, as indústrias precisam ser competitivas vis-à-vis seus pares internacionais. Para tanto, é necessário ter um ambiente amigável de negócios, com burocracia reduzida, carga tributária baixa, ampla liberdade econômica, boa infraestrutura e mão de obra qualificada.

Quanto mais aberto for o país, melhor, pois as indústrias domésticas terão de se adaptar ao ambiente competitivo, investindo mais em produtividade. Terão acesso aos insumos mais baratos também. E é fundamental desfrutar de um mercado de capitais robusto, com disponibilidade de farta poupança.

Esse é, portanto, o arcabouço necessário para o avanço da indústria. Somente reformas estruturais permitiriam melhorias nesse quadro. O “Custo Brasil” é justamente o fardo que as indústrias nacionais carregam nas costas na hora de produzir e competir no mercado.

As leis trabalhistas são rígidas e obsoletas, a carga tributária é uma extorsão, a burocracia é asfixiante, a mão de obra é pouco qualificada, a infraestrutura é péssima e há pouca poupança disponível, pois o governo absorve quase tudo para seu custeio e para transferências “sociais”.

Fica mais fácil entender por que a indústria vai tão mal: simplesmente nenhuma reforma estrutural foi feita nos últimos 12 anos! Ao contrário: pioramos em vários desses indicadores no ranking global. Perdemos liberdade econômica, os impostos aumentaram, a economia continua fechada, a taxa de juros aumentou e a educação pirou. Como competir assim?

O governo Dilma preferiu atacar os sintomas em vez das causas. A energia é cara? Então reduz as tarifas na marra! A taxa de juros é alta? Decreta uma menor! Falta poupança doméstica? O BNDES empresta recursos subsidiados enquanto o Tesouro se endivida!

Não funciona. Os grandes grupos industriais acabam se aproximando do governo, em uma simbiose nefasta que chamamos de “capitalismo de estado”, para “investir” em lobby em vez de produtividade. Cair nas graças do governo passa a valer ouro, pois as benesses podem compensar a falta de competitividade.

Enquanto alguns grupos organizados conseguem privilégios, fechando ainda mais o mercado, ou transferindo recursos da sociedade para suas contas, o resto da economia paga o preço. O BNDES desembolsa R$ 200 bilhões por ano a taxas abaixo da inflação. Quem paga? Ora, quem não consegue tal vantagem, claro. Chama-se efeito crowding out para os economistas. Depois o governo reclama que o mercado de capitais não se desenvolve. Como pode, com essa concorrência desleal?

Eis o resultado dessa “política industrial” do PT: concentrar privilégios em poucos grupos grandes, e impor um enorme custo aos demais. Nossa indústria simplesmente não tem como competir com o resto do mundo, pois o governo cria obstáculos demais em seu caminho. Enquanto os problemas estruturais não forem resolvidos, a indústria brasileira continuará arquejando, respirando com muita dificuldade o ar rarefeito que o governo lhe impõe.

Rodrigo Constantino

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