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Fonte: Estadão
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Resgatar a história do Brasil faz parte da guerra cultural, da reversão necessária após décadas de doutrinação ideológica da esquerda. Nesse contexto, acho legítimo o esforço de explicar melhor o que aconteceu na década de 1960, que levou ao regime militar. Permitir a narrativa cafajeste de que aqueles comunistas lutavam pela democracia é um absurdo, e algo perigoso, pois tem efeito concreto no presente. Há idiota útil que acredita, por exemplo, que PT e PSOL são democráticos…

Dito isso, é claro que a polarização toda entre esquerda radical e bolsonaristas atende mais aos interesses dos próprios do que da nação. O Brasil tem outras prioridades, e tem pressa. Ficar aprisionado nos tempos da Guerra Fria pode ser pura perda de tempo quando se tem uma reforma previdenciária para ser aprovada, e muito mais coisa a fazer. É nesse contexto que a deputada Janaina Paschoal escreveu uma série de tweets em tom de desabafo, apelando ao presidente para que deixe o passado no passado, para focar no presente:

Ontem, fui muito criticada, em Plenário, em razão de ter defendido a necessidade de o Brasil virar a página. Sabendo que desagrado gregos e troianos, insisto: Deixem 64 em 64! Temos 2019 e diante para cuidar!

Dilma ficou parada em 64 e deu no que deu! Agora, ao que parece, Bolsonaro também não consegue sair de 64 e as coisas não caminham bem. Percebam que eu nem estou entrando no mérito das convicções de cada qual. A meu ver, ambos têm uma visão distorcida, mas isso não importa!

O que importa é que já é hora de virar a página! Se Dilma proibiu as comemorações, Bolsonaro determina as comemorações (?!). Apoiadores de Bolsonaro, acordem! Vocês estão querendo que o Presidente paute suas ações no PT? O PT fez tudo errado, não vamos acertar só invertendo!

É preciso dar um passo adiante! Se o Governo e seus apoiadores não saírem de 64, não pararem de se pautar pelo que fez, falou e fala o pessoal do PT, o país estará fadado ao fracasso! Todos perderemos!

A derrota que o Governo teve no Congresso, ontem, é perigosíssima! Não é possível que o Presidente não perceba que não dá para governar com a cabeça em 64! Podem atacar, podem xingar, podem dizer que estou criticando o Presidente, etc, etc, etc….

Eu só estou sendo fiel ao que disse a ele. Meu compromisso é com o Brasil. Pelo Brasil, eu quero que o Presidente seja bem sucedido. Ele vai precisar mudar a mentalidade. E, creiam, não estou falando de aceitar qualquer tipo de ilícito.

Não estou falando em abandono de convicções. Estou falando sobre a necessidade de entender que ser Presidente é muito diferente de ser um Deputado Temático, com todo respeito aos Parlamentares que se limitam a um único tema.

Janaina tem um ponto. Entendo a necessidade de Bolsonaro de manter sua militância engajada, o que não ocorreria com temas espinhosos como reforma previdenciária, mas que encontra um prato cheio em polêmicas como o golpe ou contragolpe de 64. Essa militância prefere mil vezes bater boca o dia todo com Jean Wyllys nas redes sociais do que lutar para persuadir o povo da necessidade de se aprovar a reforma impopular. É do jogo.

Mas é bom o presidente não exagerar na dose. Por mais que seja útil falar de 64, seja para reverter as inverdades propagadas pela esquerda, seja para alimentar a base e mantê-la mobilizada, o fato é que existe um país a ser governado, com uma agenda reformista complicada pela frente. E essa é a prioridade. O tempo, esforço e energia desprendidos pelo governo em cada pauta dizem muito sobre qual a verdadeira prioridade. Se for obter likes em redes sociais como se ainda estivesse em campanha, em vez de efetivamente aprovar as reformas, aí lascou.

É nesse sentido que Janaina faz seu apelo desesperado. 1964 já passou, e há mais de meio século! Temos outras prioridades. O PT foi derrotado nas urnas, Lula está preso, Dilma sofreu impeachment e não foi eleita em Minas Gerais. Sim, o esquerdismo radical não está morto ainda. Lembrar que essa gente sempre defendeu regimes opressores, e que na década de 1960 houve uma reação militar, com apoio popular, para impedir um destino cubano, é algo razoável. Desde que sem se perder o foco no que realmente importa…

Rodrigo Constantino

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