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Lealdade pessoal não pode ser mais importante do que capacidade de entregar resultados
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“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose; os admiradores corrompem”. Poucos conseguiram sintetizar tão bem o risco dos bajuladores como Nelson Rodrigues. Essa sua frase é basicamente o resumo da obra shakespeariana “Rei Lear”, em que o rei se cerca das filhas falsas e ignora a única sincera, pagando o alto preço da loucura e das traições como consequência.

Os principais observadores da natureza humana sempre tiveram receio do estrago que a vaidade pode causar. Gostamos de elogios, mesmo os insinceros, enquanto criamos mecanismos de defesa contra as críticas. O autoengano pode ser uma estratégia útil para a sobrevivência, como diz Eduardo Giannetti em seu livro sobre o tema: “o enganador auto-enganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”.

Justamente por conta disso a adulação popular ajuda a criar monstros perigosos. Aqueles que passam a se cercar somente de bajuladores, enquanto concentram mais poder e conquistam as massas, acabam blindados contra todo tipo de crítica. Os conselheiros mais sábios ficam impotentes diante da reverência do povo e, como Cassandra, fazem alertas em vão. De tanto escutar que é uma espécie de messias salvador, o governante populista pode acabar acreditando. Aí reside o maior risco para a sociedade.

Adam Smith fez um alerta desse tipo: “Nas cortes de príncipes, nos salões dos grandes, onde sucesso e privilégios dependem, não da estima de inteligentes e bem informados iguais, mas do favor fantasioso e tolo de presunçosos e arrogantes superiores ignorantes; a adulação e falsidade muito frequentemente prevalecem sobre mérito e habilidades. Em tais círculos sociais, as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir”.

Quando o mais importante na vida de alguém é agradar o poderoso governante, a primeira coisa a ser sacrificada será a sinceridade. O presidente Bolsonaro tem demonstrado humildade para reconhecer erros e conviver com críticas, mas até por sua formação militar, prefere se cercar daqueles mais leais, com laços pessoais ou da confiança dos filhos. O problema é que isso cria uma câmara de eco, uma bolha que impede a entrada do ar fresco das críticas.

Há vários casos, mas o mais recente e talvez mais grave foi a escolha do general Ramos para a fundamental articulação política. Sem experiência e sem gozar da simpatia dos parlamentares, sua missão se torna bem mais difícil. Muitos que querem o sucesso do governo e do país têm feito sugestões boas, mas o presidente prefere montar uma equipe com base na lealdade pessoal em vez de habilidade profissional. E isso não costuma acabar bem…

Rodrigo Constantino

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