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Manifestações de domingo mostram indignação com STF e classe política e colocam Bolsonaro numa sinuca de bico
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As manifestações deste domingo levaram uma boa quantidade de gente às ruas, e apesar de algumas pautas divergentes ou do acréscimo de última hora do assunto Amazônia, o foco essencial era pedir a cabeça de Dias Toffoli por meio de impeachment e condenar o projeto de abuso de autoridade, que depende agora de sanção presidencial. Alguns grupos cobravam o veto integral de Bolsonaro, outros tentavam se colocar mais alinhados ao presidente, sabendo que dificilmente haverá clima para tanto.

A insatisfação popular com os intocáveis do STF é visível. Quem quer que diga que as instituições republicanas estão funcionando perfeitamente no Brasil está sendo irônico ou fechando os olhos para a realidade. Uma parte está mesmo: Lula continua preso, a Lava Jato lançou sua 64a operação, prendendo novos figurões, etc; mas há outros setores do estado claramente trabalhando para asfixiar a Lava Jato, para blindar o andar de cima, para melar a mais bem-sucedida força-tarefa no combate ao crime. E é essa angústia que levou as pessoas às ruas: querem declarar apoio ao lado bom e colocar pressão naqueles que querem boicotar a Lava Jato.

Uma minoria mais raivosa pode clamar por um cabo e um soldado, pregar coisas como fechar o STF, mas o grosso deseja solução institucional, para depurar as próprias instituições cruciais para a democracia. O impeachment de um ministro do STF é previsto na lei, e cabe aos senadores sentirem o calor popular das ruas. O arbítrio da conduta de Toffoli é de fato indecoroso, envolvendo até censura à imprensa, e por isso há pedidos embasados de seu impeachment. Aqueles que deveriam ser os guardiões da Constituição são os primeiros a rasga-la!

No caso do projeto de lei do abuso de autoridade, a motivação como retaliação à Lava Jato salta aos olhos, e coloca o presidente numa sinuca de bico: se ele agradar aqueles que foram às ruas, vetando integralmente a lei, a classe política poderá retaliar, lembrando que há uma agenda reformista que depende de articulação política, de votos.

Mas se ele vetar parcialmente e preservar a essência, apesar de Moro, das ruas e do Ministério Público, então ele poderá ser visto como um traidor para proteger seu filho. Nesse caso, o presidente descobrirá que o lavajatismo, ou seja, o desejo de combater o crime no país, é maior do que o bolsonarismo. Bolsonaro foi visto por muitos como um instrumento dessa luta por justiça. Se ele deixar de ser visto dessa forma, vai perder muito apoio em sua base, de forma muito rápida.

Segue a análise que fiz ao vivo na Jovem Pan durante o começo das manifestações em São Paulo:

Rodrigo Constantino

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