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Marina Silva e seu discurso “sonhático” que nunca muda
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Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

Nosso estimado Luan Sperandio, também colunista do Instituto Liberal, já trouxe até este espaço uma oportuna síntese do painel Encontro de Presidenciáveis, do tradicional Fórum da Liberdade, reunindo alguns dos principais nomes que despontam na corrida eleitoral para 2018. Também já foi largamente repercutida a ausência no evento do deputado Jair Bolsonaro, nome que se realça nas pesquisas, apresenta relevância inquestionável no momento atual e que gostaríamos de ver e ouvir junto aos demais.

O “fenômeno”, entretanto, que realmente nos chamou a atenção foi a participação de Marina Silva, que vemos com tanta estupefação – e sobrenatural dose de enfado – que parece merecer maiores comentários, embora ela pertença a um partido menor (e soe deslocada no espaço-tempo, como veremos). Não há negar que ela adotou alguns posicionamentos interessantes. Criticou o Bolsa-Empresário da era lulopetista e o foro privilegiado, defendeu a prisão em segunda instância e afirmou que conta ainda com o apoio de economistas mais sensatos, como Eduardo Giannetti. Estas foram as partes boas. Vamos agora ao inacreditável.

Em artigo apreciando as consequências políticas do pensamento de Rousseau, transcrito inclusive em nosso livro de estreia Guia Bibliográfico da Nova Direita, comentamos que, discursando no Senado, Marina “disse que precisávamos de uma política mais ‘filosófica’, em vez de tão preocupada com a frieza dos números da economia”. Avaliamos: “Ora, estar preocupada com a ‘frieza dos números’ significa tão somente estar com os pés no chão; significa pensar em resultados, em eficiência, naquilo que há no cenário real que possa melhorar a situação das pessoas, possibilitando-lhes a capacidade de orientar suas próprias vidas e alcançar o mínimo de dignidade”.

Pouco ou nada mudou. Na campanha de 2014, Marina Silva ainda defendia a autonomia do Banco Central, segundo ela, rendendo-se à visão predominante na coligação com o falecido Eduardo Campos. Isso mudou; agora, ela voltou à sua opinião original. Autonomia, sim, mas não “institucionalizada”, não “oficial”. Ou seja, sim, mas não. Preto, mas branco. Bonito, mas feio. É a perfeita encarnação do “isencionismo” alcachofra (para variar um pouco da melancia).

Já o discurso do “sonho”, da “política filosófica”, não se alterou um milímetro. Depois que seus concorrentes apresentaram programas, propostas, desafios e dados concretos, Marina preferiu iniciar seu discurso dizendo: “Não tenho experiência concreta e pragmatismo, sou uma sonhadora. O sonho é a maior matéria-prima concreta para mudar o mundo”. Afinal, para ela, o que moveu a humanidade foram sempre “as grandes ideias”, como “igualdade, liberdade e fraternidade”, o célebre tripé da Revolução Francesa – que erige belos princípios, sem sombra de dúvida, mas cuja combinação serviu de emblema para os mais dantescos morticínios na terra da cidade-luz.

“Se eu fosse pragmática, jamais sairia do lugar”, continuou Marina. “Queremos ser socialmente justos, economicamente prósperos, culturalmente diversos e ambientalmente sustentáveis”, pregou ainda, em tom absolutamente genérico. Enfatizou sua “origem humilde”, retórica bem adequada ao “coitadismo” e à vitimização que ganham ibope no Brasil, e disse que “se ganhar”, governará “com os melhores do PT, do PSDB, de todos os partidos” porque “o Brasil não precisa de guerra” e de que roubem “a nossa paz, nossa união, nosso respeito”. Precisa de alguém que venha “chamar este país a sonhar, a se encontrar com o seu ideal”. Que lindo! Fomos às lágrimas…

Somos os primeiros a sustentar a importância de bons ideais, de capacidade de comunicá-los, do poder de um apelo responsável ao imaginário e ao simbólico para produzir transformações e difundir perspectivas e sensos de propósito. O menosprezo de Marina Silva pelos imperativos da realidade vai muito além disso. Ela faz questão de se comparar com a atitude daqueles que evocam os dramas gritantes vividos pelo país, apontam o ainda robusto fechamento da economia ou a violência galopante, como se o seu “sonho” tivesse mais poder que a estratégia, o senso prático e o planejamento para triunfar sobre esses problemas.

Além de evocar lugares-comuns, fazer declarações vagas, pausadas e delirantes como quem ingeriu algum entorpecente e não mostrar sinal de ter os pés no chão, Marina Silva ainda acenou para a aceitação de apoio do Partido dos Trabalhadores (!). Quando acabamos de respirar após o predomínio criminoso dos agentes do projeto tirânico bolivariano, representado no país pelo regime lulopetista, Marina quer fazer parecer que podemos nos “harmonizar” com a turma de Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias. Marina quer a paz da hipocrisia, o coleguismo do silêncio, a candura da apatia?

Alimentar ilusões por meio de uma pacificação forçada não é solução. Solução é dar nome aos bois. Não podemos cair no conto do vigário de quem não se dispõe a dar nome e sobrenome àqueles que nos colocaram nesta situação. Quem não o faz não pode nos tirar dela e nos encaminhar para adiante. A “sonhática” pré-candidata da Rede nos convida a dormir e transformar o mundo com nossos “sonhos”. Propomos, ao contrário, que fiquemos de pé e olhos bem abertos. Só assim chegaremos a algum lugar.

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