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Mercados querem acreditar na Dilma, e eu em Papai Noel
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Em sua coluna de hoje no Valor, Claudia Safatle afirma que os mercados querem acreditar na Dilma, e apresenta seus motivos. Em primeiro lugar, os “mercados” não existem como um ente concreto, com opiniões próprias e CPF ou CNPJ. São um amontoado de indivíduos, empresas e investidores tomando decisões diárias com base em suas expectativas conflitantes e singulares. Um detalhe que muita gente costuma esquecer quando ataca os tais “mercados”, que agiriam de forma conspiratória contra governos populares (populistas).

Mas entendemos o ponto: os investidores e empresários, em geral, estariam dispostos a dar uma segunda chance ao governo Dilma. Joaquim Levy seria o grande fiador dessa nova confiança. Um investidor estrangeiro teria dito que o Brasil pode ser a Índia de 2014, com suas reformas (um economista ortodoxo foi parar no Banco Central). Para ele, o que Levy fez em uma semana o PSDB levaria um ano para fazer.

Há controvérsias. Tanto de que o PSDB levaria mais tempo como de que faria as mesmas coisas. Comentei sobre isso aqui. Acho que o foco dos tucanos seria maior no corte de gastos do que no aumento de impostos. Mesmo sendo um partido social-democrata de esquerda, é bem mais esclarecido que o PT, tem um quadro técnico muito melhor e tem menos sanha arrecadatória. Os petistas sofrem de estatolatria, sonham com mais impostos diariamente.

A linha de argumentação dos otimistas é que Levy não tem pretensões políticas e Dilma não pode mais ser reeleita. Isso deixa uma “réstia de esperança” de que farão a coisa certa, consertarão os erros dos últimos 3 anos. Primeiro, Dilma não pode ser reeleita, mas o projeto de poder é do PT, algo muito maior do que seus interesses pessoais. Lula também não podia ser reeleito e isso não o impediu de abrir as torneiras dos cofres públicos de forma irresponsável em 2010 para eleger seu “poste”.

Segundo, os erros não vêm de apenas 3 anos, mas de 12 anos! Começaram com o PT, e isso precisa ficar claro. Sim, é verdade que Lula é mais pragmático, que começou com Palocci e Meirelles, que soube jogar melhor o jogo dos “mercados”. Mas o populismo, o intervencionismo, a seleção de “campeões nacionais”, o descaso com a responsabilidade fiscal, isso tudo vem lá de trás. Quem colocou Mantega na Fazenda foi Lula, esqueceram? Dilma é apenas mais dogmática e ideológica que Lula, mas erram os que tentam criar uma grande divisão entre ambos.

Para os que ensaiam esse maior otimismo, só por conta de uma ou duas ações do novo ministro que basicamente sobem a absurda carga tributária, recomendo como antídoto a coluna de hoje de Reinaldo Azevedo na Folha. Meu vizinho virtual fala em nome de todos nós, os “sem-teta”, contra este projeto indecente de poder do lulopetismo. E combate justamente a ala “tucana” que deseja esquecer que foi votada para fazer oposição, e não para aplaudir um governo terrível por conta de algumas concessões ao bom senso. Diz ele:

Os adoradores do “petismo responsável” fazem mais mal ao Brasil do que a esquerda xexelenta. Esta já perdeu o bonde faz tempo e só quer uma boquinha. O mito da “competência” do PT na gestão da economia foi criado por aqueles outros, que transformaram o meio num fim em si mesmo. Se o sujeito corta gastos, eleva juros e diminui subsídios, a forma vira conteúdo, e tudo parece estar no seu lugar, ainda que a elevação de 1,25 da Selic custe, no ano, o quanto se vai ganhar com o pacote fiscal. Tara ideológica não reconhece a matemática como um saber.

Foi essa adesão burra ao “PT responsável” que silenciou o debate nos primeiros quatro anos do governo Lula, quando começou a se formar a fuça do Alien no ventre da impostura. “Que importa a cor do gato, desde que cace ratos?”, perguntavam. A adesão à miúda ortodoxia da necessidade, convertida em novo umbral do saber econômico, impediu que se fizesse a descrição de um modelo.

Um modelo que iria quebrar as pernas da indústria, devolver o país à condição de economia primário-exportadora (e a China nos trai com crescimento de só 7,5%), transformar em consumo burro as janelas de oportunidades que o mundo nos abriu e eleger alguns ganhadores –e financiadores do petismo– com o leite de pata do BNDES.

Esqueçam Guido Mantega. Esqueçam Arno Augustin. Esqueçam Alexandre Tombini. Esqueçam Luciano Coutinho. Esqueçam Joaquim Levy. Esqueçam até mesmo Dilma. O maior problema, de longe, chama-se PT. Enquanto esse “partido” estiver no poder, podem ocorrer alguns recuos, algumas medidas mais amigáveis aos “mercados”, que nada muda. Enquanto Levy foi para Davos levar um recado otimista para os investidores, eis o que a própria presidente Dilma fazia aqui perto, na Bolívia:

Morales posse

Os mercados querem acreditar na Dilma ortodoxa? E eu quero acreditar em Papai Noel. Mas o que isso prova sobre sua existência?

Rodrigo Constantino

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