Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Está em andamento a conferência anual de mudanças climáticas. O objetivo do encontro de duas semanas, conhecido como a 23ª Conferência das Partes (COP23), é negociar e descrever como implementar o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, assinado por quase 200 países em dezembro de 2015, na tentativa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Quem lê as notícias vindas de Bonn, na Alemanha, fica com a impressão de que a teoria das mudanças climáticas é dada como 100% certa para praticamente 100% dos conferencistas. Segundo esta teoria, praticamente tudo na nossa sociedade é tremendamente dependente da temperatura da superfície da terra, e, por isso, estamos caminhando para uma destruição certa e inescapável, a menos que aceitemos os conselhos dos sábios especialistas e “descarbonizemos” nossa economia. Infelizmente, entretanto, ninguém se atreveu a dizer como fazer isso, até porque ninguém sabe como.
Nas análises catastróficas dos experts da ONU, quase tudo o que acontece em nossa volta, como doenças, mortes, fomes, guerras, secas, inundações, desastres naturais, incêndios, para citar apenas alguns exemplos, de alguma forma é influenciado por emissões perniciosas de dióxido de carbono e pela alteração da temperatura média da superfície terrestre em apenas 0,9 graus Célsius.
O mais incrível é que as avaliações e previsões catastrofistas simplesmente ignoram a capacidade humana de se adaptar e prosperar em resposta aos desafios. A quintessência disso é o capítulo verdadeiramente terrível sobre a deterioração da saúde humana em razão das mudanças climáticas. Enquanto a morte, a doença e a pobreza são evocadas como consequências do aquecimento, não existe sequer uma menção ao fato de que a expectativa de vida na Terra é aproximadamente o dobro do que era em 1900, ou que a renda per capita é quase dez vezes mais do que era então. Enfatiza-se a ocorrência de doenças que de alguma forma se espalharão por causa do aquecimento, negligenciando o fato de que muitas delas eram em grande parte endêmicas no passado, quando o clima era mais frio, e foram erradicadas, justamente durante o pequeno aquecimento verificado no último século.
As gerações humanas dos últimos 150 anos, que obtiveram tantas vitórias contra as mazelas que atingiram nossos antepassados por milênios, conseguiram isso justamente graças à energia abundante, eficiente e barata proveniente da combustão de combustíveis fósseis. Pelo tom catastrofista e melancólico de seus comunicados, parece que os apologistas do fim das emissões de CO2 talvez preferissem que nenhum daqueles progressos humanos tivesse ocorrido, desde que não tivéssemos enviado tanto dióxido de carbono para a atmosfera. Que tal se esse pessoal saísse de suas salas confortáveis e refrigeradas e fosse até um dos vários locais no interior da África para ver como é o mundo sem a energia barata e abundante dos combustíveis fósseis?
Como muito bem escreveu o Dr. Jay Lehr, diretor do “The Heartland Institute”, “algum dia o mundo irá acordar e rir, quando as pessoas finalmente entenderem que tudo isso foi uma grande piada”. O problema é que estamos falando de uma piada caríssima. Ademais, os possíveis danos causados por políticas ambientais voltadas para a redução das emissões de CO2 podem ser bem maiores que os provocados pelo próprio aquecimento global, caso resolvêssemos simplesmente ignorá-lo. Se o terceiro mundo for privado de explorar seus recursos naturais, como carvão gás e petróleo, por exemplo, não só as populações desses países continuarão a sofrer com sua miséria, suas doenças e sua baixa expectativa de vida, como também jamais terão condições de proteger seu meio ambiente, como atualmente fazem os países ricos.
Como bem resumiram Roger Pielke e Daniel Sarewitz, em artigo para o Financial Times, “se, nas próximas décadas, a África alcançasse o crescimento econômico rápido, do tipo que a China tem experimentado, isso tiraria centenas de milhões de pessoas da pobreza. Mas como o mundo rico pode atestar, crescimento econômico requer consumo de energia em doses sempre crescentes – e em grande parte fornecida por combustíveis fósseis. Somente no ano passado, 1,4 bilhão de chineses foram responsáveis pela emissão de mais de 10 bilhões de toneladas de CO2, enquanto 1 bilhão de pessoas, em todo o continente africano, emitiram apenas um décimo disso. A População africana poderá exceder a da China dentro de uma década, chegando ao dobro em meados do século. Portanto, as perspectivas desses bilhões de pessoas dependem, em grande medida, do crescimento da sua produção de energia e consumo. Se quisermos reduzir as emissões sem condenar vastas áreas da humanidade à pobreza eterna, teremos de desenvolver tecnologias de energia de baixo custo e baixo teor de carbono que sejam apropriadas tanto aos EUA quanto à Bulgária, Nigéria ou Paquistão. Mas isto implicará sacrifício; exigirá investimentos de recursos significativos ao longo de muitas décadas. Até que estas tecnologias sejam trazidas à fruição, devemos trabalhar com o que temos. No mundo rico escolhemos crescimento econômico. É cruelmente hipócrita que nós tentemos impedir que os países pobres cresçam também.”
Todas estas evidências nos fariam qualquer um questionar se as mudanças climáticas são mesmo um problema científico que obteve suporte político, ou se estamos falando de ativistas e políticos que encontraram numa questão científica a forma de obter mais poder e controle. De fato, é bastante razoável intuir que as teorias escatológicas das mudanças climáticas são uma grande sacada dos modernos anticapitalistas, usadas para fazer avançar uma agenda política que favorece o planejamento central e a ação cada vez mais intrusiva de governos sobre a liberdade e a propriedade dos indivíduos.